Sou vítima de uma mentira, diz Mustafá, ex-presidente do Palmeiras

Mustafá Contursi é acusado de vender ingressos doados pela Crefisa

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São Paulo

Presidente do Palmeiras por 12 anos (1993-2004), Mustafá Contursi Majzoub, 79, afirma ser vítima de uma mentira. Acusado de vender irregularmente ingressos cedidos pela empresa patrocinadora, o dirigente cita que as denúncias surgiram após ter se negado a apoiar uma mudança no estatuto do clube que era do interesse da presidente da Crefisa, Leila Pereira.

A alteração permitiria a antecipação do lançamento de uma eventual candidatura de Leila à presidência do clube.

“Nunca em minha vida tive envolvimento com qualquer coisa que pudesse me desabonar”, afirma Mustafá.

O ex-presidente do Palmeiras Mustafá Contursi em entrevista de 2017 à Folha
O ex-presidente do Palmeiras Mustafá Contursi em entrevista de 2017 à Folha - Keiny Andrade/Folhapress

Sócio do clube desde 1951, diz que a Copa Rio foi já naquela época considerada como um título mundial.

“Foi festejado pelo país todo como uma conquista do Brasil, e não do Palmeiras”, afirma. “Todas as torcidas torceram pelo Palmeiras, era o resgate do fracasso da Copa de 50.”

O senhor é acusado de vender irregularmente ingressos cedidos pela presidente da Crefisa, Leila Pereira. É um completo absurdo. Não é da minha índole. Nunca tive envolvimento com qualquer coisa que pudesse me desabonar. São intrigas.

As testemunhas citadas que dizem ter comprado ingressos do senhor estão mentindo? Sem dúvida nenhuma. Sou vítima de uma mentira.

Por qual motivo estariam mentindo? Não imagino. Mas me chama atenção que essas duas pseudo testemunhas apareceram em uma denúncia anônima. Mas elas não se conheciam. Como que a pessoa que fez a denúncia anônima chegou a essas duas pessoas?

O senhor se considera vítima de uma armação? Poderei dizer isso quando tudo terminar. Não quero me antecipar, não quero me precipitar, mas é estranho que duas pessoas que não se conhecem surjam numa única denúncia anônima contando a mesma história.

Por qual motivo o senhor recebia ingressos da Crefisa? A relação começou quando fui solicitado a fazer uma interferência quando houve um conflito entre a Crefisa e o então presidente [Paulo Nobre]. Na época, houve até a suspensão do contrato. Fui chamado para contornar o problema, e o contornei. Ajudei na renovação do contrato também, com aumento substancial nos valores do patrocínio. Depois, o casal [José Roberto Lamacchia e Leila Pereira, donos da Crefisa] se mostrou interessado em participar da politica do clube e eu atestei uma filiação dela do tempo em que era presidente. Leila pôde, assim, concorrer para o conselho. Também lancei a candidatura do esposo dela [José Roberto Lamacchia]. Ele não fez campanha. Só por conta dos meus votos foi o 2º mais votado.

Esses ingressos eram para distribuir entre os eleitores? Eram para distribuir para torcedores e para associados que pudessem votar. Era uma deferência, coisa que não passava pelos meus hábitos, pois quando presidente nunca distribui um ingresso. Também nunca entrei numa partida sem pagar pelo meu ingresso.

Mas naquele momento por que o senhor achou que era o caso de distribuir? Muitos palmeirenses, pessoas do clube, tinham vontade de levar seus familiares para conhecer a nova arena. Era um momento charmoso.

No relatório interno de investigação, o clube condena essa prática, que diz ter ocorrido para angariar votos. Não foi bem assim. Da minha parte, a distribuição não estava vinculada a uma troca de votos. Recebia os ingressos por deferência deles [proprietários da Crefisa] e, por deferência aos meus amigos, eu os distribuía.

O rompimento do senhor com a presidente da Crefisa foi anterior a essas denúncias? O rompimento ocorreu quando surgiu a acusação. Mas houve um precedente. Eles tinham interesse na mudança de um certo artigo do estatuto do clube, que permitiria a antecipação da candidatura dela a presidente. Pediram meu apoio. Mas eu disse que não era um assunto que pudesse ser tratado comigo.

O senhor conhece essas pessoas que o acusam? Têm relação com torcida organizada? Não sei quem são, nunca vi.

Em setembro de 2018, a Promotoria pediu o arquivamento da acusação contra o senhor. Três meses depois, apresentou denúncia. O senhor entendeu o que aconteceu? Não sei o motivo. Sei apenas que houve o pedido o arquivamento.

No relatório da investigação interna do clube é utilizado o termo "polêmico" ao se referir ao senhor. Por quê? Precisa perguntar para eles. Luto pelas minhas convicções. Quando estive na direção do clube, coloquei minhas convicções em execução e sempre tive sucesso. Não quero parecer imodesto, exibido. Mas os resultados estão aí [referindo-se à Libertadores de 1999 e demais títulos que obteve].

Quando o senhor se associou ao clube? Estou no clube desde 1951, sou um dos 50 sócios mais antigos do clube. Entrei logo após a conquista da Copa Rio.

Naquela época era chamado de campeonato mundial? Já. Foi festejado pelo país todo como uma conquista do Brasil, e não do Palmeiras. Todas as torcidas torceram pelo Palmeiras. Era o resgate do fracasso da Copa de 1950. Ninguém nunca contestou isso.

Qual sua avaliação sobre o atual presidente, Maurício Galiotte? É um mandato sofrível. O apoiei sem impor condição alguma. E tinha muita esperança de que poderia levar a administração a bom termo. Não estou falando pelo futebol. Mas o equilíbrio administrativo é a primeira obrigação de um dirigente. Tendo uma boa administração, os resultados aparecem naturalmente.

 

O Palmeiras não é um clube equilibrado? É um clube que poderia estar em uma exuberância econômica, mas não está. Pelas receitas que temos, deveríamos estar extremamente superavitários. O Palmeiras desperdiça dinheiro.

Nas contratações? Também, mas com procedimentos desnecessários. O Palmeiras tem hoje uma quantidade de funcionários e de pessoas jurídicas contratadas muito acima da média de qualquer época. E é o momento em que temos menos atividades e uma quantidade menor de sócios.

O que o senhor prevê para o futuro do Palmeiras? Perderá oportunidades.

O senhor gostaria de falar algo mais a respeito do processo? [O advogado de Mustafá, Hermes Barbosa, pede a palavra e responde] Mustafá está sendo injustiçado. É vítima de uma conspiração para desmoralizá-lo por conta de uma vingança.

Liderada por quem? [Hermes responde novamente] Isso vai ser apontado futuramente.

ENTENDA O CASO

Caso de polícia - out.2017
Polícia abre inquérito para investigar notícia publicada na imprensa (ESPN) de que Mustafá Contursi, 79, estaria envolvido em venda irregular de ingressos cedidos pela Crefisa, patrocinadora do Palmeiras 

Ingressos por votos - jun.2018
Sindicância interna do clube conclui não existir indícios de venda ilegal contra Mustafá, mas aponta que os ingressos foram distribuídos por interesses políticos do ex-presidente e de Leila Pereira, presidente da Crefisa. Chama a prática de inaceitável.

Arquivamento - set.2018
Ministério Público pede o arquivamento do caso por considerar que não existem elementos que comprovem o envolvimento do ex-presidente do clube nos crimes.

Novas investigações - out.2018
José Roberto Lamacchia, marido de Leila Pereira e principal acionista da Crefisa, pede novas investigações.

Denúncia - dez.2018
Ministério Público denuncia Mustafá Contursi com base nos artigos 41-F e 41-G do Estatuto do torcedor.
No 1º caso, a pena é de 1 a 2 anos de reclusão, além de multa. No 2º, de 2 a 4 anos de reclusão, além de multa.

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