Quinze dias após assumir o cargo de CEO [diretor executivo] do Cruzeiro, Vittorio Medioli anunciou neste domingo (5) que deixará suas funções na equipe mineira. Ao informar a decisão, ele sugeriu que o clube precisa de uma intervenção judicial.
Empresário e prefeito de Betim (MG), Medioli tornou pública sua decisão por meio de um editorial no jornal O Tempo, veículo do Grupo Sada, do qual é proprietário junto com sua família. Durante as eleições municipais de 2016, sua prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral informou um patrimônio de R$ 352 milhões.
Segundo ele, mais do que um CEO, o clube precisaria de um "interventor amparado pela Justiça e com autoridade para executar o que for preciso. Doa a quem doer."
Medioli assumiu o cargo em 23 de dezembro, semanas após o time ser rebaixado para a série B do Campeonato Brasileiro. Entre as justificativas para sua saída, ele citou as investigações policiais da qual o clube é alvo, criticou o estatuto do Cruzeiro e apoiou a transição para o modelo de Sociedade Anônima (SA).
"O estatuto do clube é um conjunto Frankenstein de regras que atendem interesses miúdos, mesquinhos e de dominação de grupos. Não atendem a grandeza e solidez de suas finalidades. Privilegia mais o incompetente que se preste a atender interesses inconfessáveis de um estreito grupo", escreve.
A votação do texto-base do projeto de lei que incentiva este tipo de instituição foi aprovado pela Câmara e agora aguarda votação no Senado.
A crise do time celeste envolve diversos problemas financeiros. De acordo com levantamento do Itaú BBA, entre 2017 e 2018, a equipe viu sua dívida crescer 41%, saltando de R$ 333 milhões para R$ 469 milhões. Ele também é o time da Série A que contraiu mais dívidas novas com a União desde 2016: R$ 17 milhões.
O rebaixamento no Brasileiro torna a situação ainda mais desafiadora, pois as verbas de TV a que tem direito serão reduzidas. A queda no nacional veio após o clube fechar a competição com apenas 36 pontos, seu pior aproveitamento na era dos pontos corridos com 20 times —desde 2006.
Os resultados dentro de campo decaíram justamente à medida que o custo dos atletas cresceu. O gasto com elenco passou de R$ 12,7 milhões no fim de 2017 para R$ 20,2 milhões em abril deste ano. Entre os jogadores mais criticados estão o meia Thiago Neves, 34. O jogador fatura R$ 480 mil em carteira além de direitos de imagem, em valores não revelados.
Em 2019, o clube ainda passou a figurar no noticiário policial. Uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, apontou transições irregulares e uso de empresas de fachada em negociações. A sede do clube foi alvo de mandados de busca e apreensão e o então vice-presidente de futebol, Itair Machado, um dos nomes centrais no caso, deixou o cargo.
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