Jogo político no Fla derruba gerente para atingir vice de futebol

Próximo de Jorge Jesus, Pelaipe perde cargo em meio a batalha de dirigentes

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São Paulo e Rio de Janeiro

Demitido do Flamengo nesta segunda (6), o gerente de futebol Paulo Pelaipe não era o alvo principal na guerra política do clube carioca, mas tornou-se o meio mais fácil para que um dos lados do conflito atingisse o seu objetivo.

A decisão, tomada por iniciativa do vice-presidente de relações internacionais, Luiz Eduardo Baptista, conhecido como Bap, com a anuência do presidente, Rodolfo Landim, teve como objetivo minar o vice-presidente de futebol, Marcos Braz.

Pelaipe foi comunicado da saída por email. A justificativa apresentada por Landim, que estava em viagem de férias quando a notícia se tornou pública, teve como justificativa a controvérsia sobre o pagamento de parte das premiações pelos títulos do Brasileiro e da Libertadores de 2019 a funcionários do departamento de futebol.

Um dia antes da decisão do Mundial de Clubes, em dezembro, o então gerente fez uma cobrança ao presidente para que os prêmios fossem pagos.

Jogadores considerados líderes do elenco, como Diego, Everton Ribeiro e Rafinha, também estavam presentes na reunião. Os atletas haviam chegado ao consenso de que uma parte dos R$ 13,8 milhões destinados ao grupo teria de ser repassada aos funcionários.

Landim queria rediscutir essa divisão e argumentou que os empregados não haviam ganhado nenhum título. O presidente também acredita que foi o ex-gerente quem vazou o assunto à imprensa.

A Folha apurou que Braz foi pego de surpresa pelo anúncio da saída do seu braço-direito. O vice-presidente estava em uma reunião para negociar a contratação do atacante Michael, do Goiás, quando tomou conhecimento.

O técnico Jorge Jesus, que conversou na semana passada com o gerente sobre a montagem do elenco para 2020, está em Portugal —onde, inclusive, encontrou com Pelaipe nos últimos dias.

Pelaipe era um dos cartolas mais próximos de Jesus no Flamengo. O português ficou contrariado e questionou a direção sobre os motivos da demissão nesta terça (7).

O grupo político que comanda a Gávea chegou ao poder no fim de 2012, com a eleição de Eduardo Bandeira de Mello. Houve um rompimento, e em 2018 os dissidentes lançaram Landim como candidato.

O compromisso assumido pelos integrantes da atual gestão é de que o presidente não irá pleitear a reeleição no fim de 2021.

Se os anos de Bandeira de Mello (2013 a 2018) no cargo se notabilizaram pelo saneamento das contas do clube, com a chegada de Landim o Flamengo teve em 2019 um dos melhores anos da sua história.

Foi campeão carioca, brasileiro, da Libertadores e perdeu a final do Mundial de Clubes para o Liverpool em Doha, no Qatar. A face mais visível da diretoria foi Braz, apoiado por Pelaipe e pelo diretor de futebol, Bruno Spindel.

A demissão do gerente tem como objetivo final desgastar o vice de futebol, visto como um nome em ascensão na política do clube e que pode se credenciar a ser candidato no próximo pleito presidencial.

O principal articulador dela foi Bap, que é ex-presidente da Sky. Landim aceitou a saída para evitar o confronto com ele, visto no papel de dirigente da mesma forma em que atuava como executivo: centralizador e capaz de prevalecer em ambientes conturbados.

Como pano de fundo está também a situação de Jorge Jesus, que tem contrato até maio deste ano. Em nota divulgada à imprensa, Pelaipe chamou para si a responsabilidade pela contratação do português que se transformou em ídolo da torcida. A aquisição teve o aval de Braz, mas não a de Bap, que defendeu até o fim a permanência de Abel Braga, antecessor de Jesus.

Houve situações em que, apesar dos bons resultados, Bap demonstrou seu descontentamento com o trabalho do técnico. O momento mais tenso foi nas oitavas de final da Libertadores, quando o Flamengo sofreu para passar pelo Emelec (EQU). Depois de perder por 2 a 0 em Guaiaquil, devolveu o placar e se classificou nos pênaltis. Bap criticou Jesus de forma aberta no vestiário após a classificação.

Na madrugada desta terça, muros da sede do clube foram pichados com ofensas direcionadas a Luiz Eduardo Baptista e em defesa de Braz.

Ainda não está definido quem será o substituto de Pelaipe. O primeiro jogo oficial do Flamengo em 2020 está marcado para o dia 18, pelo Estadual do Rio. A equipe deverá escalar jogadores do sub-20 no início da competição.

Personagens da crise

Rodolfo Landim
Presidente
Formado em engenharia, trabalhou na Petrobras e foi presidente executivo das empresas de Eike Batista. Integrante do grupo político que colocou o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello no poder, venceu a eleição no Flamengo em dezembro de 2018.

Luiz Eduardo Baptista
Vice-presidente de relações externas
Engenheiro de formação, entrou na Sky em 2003 e três anos depois comandou a fusão com a DirecTV. Foi presidente da empresa e a deixou no início de 2019. É um dos idealizadores do grupo político que comanda o Flamengo.

Marcos Braz
Vice-presidente de futebol
É uma das pessoas na atual diretoria com mais experiência no clube. Foi diretor de esportes olímpicos, responsável pelo time de basquete e assumiu o comando do futebol pela primeira vez em 2009. De 2015 a 2016, foi secretário de Esporte e Lazer da Prefeitura do Rio. Conselheiro do Flamengo, passou a ser o homem forte do futebol com a eleição de Landim.

Paulo Pelaipe
Gerente de futebol
Formado como dirigente pelo Grêmio, clube do qual é torcedor, foi diretor e executivo de futebol da equipe gaúcha. Assumiu o mesmo cargo no Coritiba e teve de 2018 a 2019 a segunda passagem pelo Flamengo. A primeira foi de 2012 a 2014.

Jorge Jesus
Treinador
Ex-meia português revelado pelo Sporting, começou como técnico em 1990 pelo pequeno Amora, em Portugal. Chegou ao Flamengo em junho de 2019 e levou o time aos títulos do Brasileiro e da Libertadores.

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