Neto de Telê se forma na Europa e quer ser técnico no Brasil

Diogo Tenuta, 37, diz ser adepto do futebol ofensivo e não teme comparações

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Marcus Alves
Lisboa

Neto do técnico Telê Santana (1931-2006), Diogo Tenuta, 37, nasceu em 1982, mesmo ano em que o avô comandou o Brasil que encantou o mundo e não venceu a Copa.

Diogo, claro, não acompanhou o torneio, mas vibrou intensamente, dez anos depois, com a fase áurea do São Paulo, comandado por Telê. Entre outros títulos, foram dois Mundiais de Clubes, duas Libertadores, um Brasileiro e dois Paulistas no período.

Ele era presença assídua nas arquibancadas do estádio do Morumbi e ainda se arrepia com os gritos de "olê, olê, olê, Telê" da torcida. O time tricolor foi o último dirigido pelo técnico, que morreu em 2006, aos 74 anos, após falência múltipla dos órgãos.

Diogo se considera pronto para levar adiante o legado de seu avô. Hoje, vive em Vila do Conde, no norte de Portugal, mas embarcará no fim de janeiro para o Brasil com o objetivo de ser técnico de futebol.

 
Diogo Tenuta com o avô Telê Santana
Diogo Tenuta com o avô Telê Santana - Arquivo pessoal

Ex-jogador, Diogo abandonou a carreira de atleta aos 24 anos, em gramados italianos. Seguiu na Europa e fez de tudo um pouco após deixar o futebol: lavou carros, trabalhou como barman e vendeu polpas de fruta.

Retornou por um breve período a Belo Horizonte, mas, em 2014, embarcou novamente à Europa para se tornar o melhor treinador possível.

Carregará na bagagem de volta ao Brasil a licença B da Uefa, a formação em Ciência do Desporto na Universidade do Porto, em Portugal, o mestrado no Barcelona, na Espanha, a fluência em quatro idiomas e a experiência em clubes menores europeus.

Com a mudança para São Paulo marcada, a ideia agora é correr atrás de uma chance para pôr o seu conhecimento em prática, deixando de lado as comparações que irão surgir pelo caminho, com as quais ele afirma não se preocupar.

"Cada porta que abri não foi porque era neto do Telê Santana, mas pela capacidade que mostrei, pelas coisas que podia dar", afirma Diogo. "Não estou voltando [ao Brasil] por ser mais fácil. Para muitos, representa uma sombra, mas, para mim, não, é um dos melhores da história. Se estivesse preocupado, escolheria outra carreira. No entanto, é essa que gosto, me sinto confortável, posso ser bom", acrescenta.

Antes de trocar Portugal pelo Brasil, Diogo ainda tem previstas passagens para acompanhar Sevilla, Real Sociedad e Athletic de Bilbao, todos clubes da Espanha, e Shakhtar Donetsk, da Ucrânia.

Nos últimos meses, ele concluiu o mestrado que cursava no Barcelona. Na cidade, conseguiu um encontro com o técnico do Barça, Ernesto Valverde, bicampeão espanhol.

Esteve também por três meses na Inglaterra, aperfeiçoando o idioma. O plano inicial era passar mais tempo, porém, ele decidiu mudá-lo.

"Resolvi abraçar essa volta. Sinto saudade do nosso jeito do dia a dia, do futebol brasileiro, um pouquinho de tudo. Essa distância, com mais formalidade, às vezes é complicada. Acho que cansei de ficar mais no estudo e quero me inserir no mercado", conta.

Na Europa, Diogo teve a chance de trabalhar no Reggiana, da Itália, berço de Carlo Ancelotti, hoje técnico do Everton, da Inglaterra, e ainda no Infesta, time da região do Porto que disputa divisões inferiores em Portugal. Em determinado momento, ele diz ter aberto mão de outras oportunidades para estudar.

"Quando eu fui para a Itália, não havia ainda esses cursos da CBF no Brasil. E toda faculdade que eu olhei para a parte de futebol, não via nada muito específico, então, resolvi procurar fora. Se você não faz num certo período, fica mais difícil depois. Mas não é que tudo isso tenha me tornado melhor que profissionais brasileiros. Apenas me deu um conhecimento diferente", pondera.

Ele diz, porém, que começou a estudar tarde, com mais de 30 anos, e considera que grande parte de seu conhecimento foi adquirido de forma empírica.

"Até mesmo em respeito a tudo que meu avô fez, eu tinha de me preparar muito bem para entrar nessa função. Ele era um devoto do futebol, carregava uma filosofia e fico feliz de vê-la ainda exaltada", afirma.

Diogo diz se inspirar em Telê e que gosta de equipes ofensivas, que proponham o jogo. Assim, os times de seu avô marcaram época no esporte.

"Hoje em dia, todo futebol que tem iniciativa, pensa em construção, que seja ofensivo, eu admiro. Não admiro futebol medroso. Não se trata de romantismo. É mesmo porque acredito que essa seja a ideia que temos de difundir. É óbvio que, dentro disso, me inspiro muito no meu avô", afirma.

Nascido em Itabirito (MG), Telê foi um dos maiores técnicos brasileiro de todos os tempos. Ele treinou a seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1982 e 1986.

No Mundial da Espanha, que marcou o ápice da geração de Júnior, Zico, Sócrates e Falcão, o Brasil acabou eliminado pela Itália.

Mesmo com o revés, o treinador foi mantido para o Mundial seguinte, em 1986, no México. Mas a equipe voltou a fracassar e acabou eliminada pela França, nas quartas de final, em jogo decidido na disputa por pênaltis.

O neto de Telê diz que o medo de perder emprego faz com que muitos treinadores no Brasil se preocupem apenas com a defesa. "Atacar requer trabalho. E essa é a minha linha", conclui.

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