Olimpíada e Tiger Woods querem um ao outro, mas há obstáculos

Restam alguns meses para que astro do golfe entre no grupo dos classificados

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Karen Crouse
Nova York | The New York Times

Em novembro de 2008, dois dirigentes da Federação Internacional de Golfe viajaram à Suíça para apresentar argumentos em favor do retorno do esporte aos Jogos Olímpicos, depois de um século de hiato. Mas quando fizeram sua apresentação aos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), não demoraram a perceber que estavam falando com uma audiência fixada em um único jogador.

Pouco importava o alcance mundial do golfe, seu impacto assistencial, ou seus valores essenciais de honestidade e “fair play”. Para Ty Votaw, que estava ajudando a apresentar os argumentos do golfe em favor de sua inclusão na Olimpíada, ficou claro desde o começo o que o COI via como ativo mais importante do esporte.

“A primeira pergunta que me fizeram foi se Tiger Woods jogaria”, disse Votaw.

Passados 12 anos, a Olimpíada continua a cobiçar Woods —agora, talvez, mais que nunca. O problema é que pode não existir vaga para ele.

Em 2008, a participação de Woods parecia automática. Em companhia de Usain Bolt e Michael Phelps, ele era um dos atletas mais dominantes do planeta e acabava de concluir uma temporada na qual havia conquistado seu 14º título em um grande torneio. Pela 10ª vez em 11 anos, ele fechou o ano no primeiro posto do ranking. O astro Woods e a Olimpíada, um palco privilegiado, pareciam um casamento perfeito, pelo menos do ponto de vista do marketing.

Mas embora Woods estivesse disposto a jogar, uma lesão nas costas o tirou das pistas pela maior parte de 2016, e sua esperança de se qualificar para a Olimpíada daquele ano no Rio de Janeiro não se concretizou. O golfe retornou aos Jogos Olímpicos sem ele, e a medalha de ouro ficou com o inglês Justin Rose.

Agora, passados quatro anos, Woods está o mais perto que já esteve de uma Olimpíada desde que assistiu ao torneio de tiro com arco, levado por seu pai, nos jogos de Los Angeles em 1984. Para se qualificar, ele precisa ocupar um dos quatro postos mais alto do ranking americano, e um dos 15 mais altos do ranking mundial, em 22 de junho.

Woods no momento ocupa a sétima posição no ranking mundial, mas o quinto lugar no ranking dos Estados Unidos, antes da abertura do Farmers Insurance Open, esta semana, em Torrey Pines, San Diego.

No momento, Brooks Koepka, Justin Thomas, Dustin Johnson e Patrick Cantlay ocupam as quatro vagas olímpicas reservadas aos Estados Unidos. Woods, 44, falou no final do ano passado sobre seu desejo de participar dos jogos de Tóquio, descrevendo a olimpíada como “uma experiência única”.

“E especialmente com a idade que vou ter, não sei se terei muito mais chances”, ele disse.

Tiger Woods na Presidents Cup, tradicional torneio de golfe em que ele foi capitão da equipe americana
Tiger Woods na Presidents Cup, tradicional torneio de golfe em que ele foi capitão da equipe americana - Simon Baker - 14.dez.19/AFP

Pode ser reconfortante para Woods que, depois da Segunda Guerra Mundial, dois atletas olímpicos americanos, os velejadores Paul Smart, em 1948, e Everard Endt, em 1952, tenham conquistado o ouro olímpico depois dos 50 anos. Mas para um movimento olímpico abalado pelos cânceres da corrupção e trapaça, e diminuído pelas aposentadorias de Phelps e Bolt, o momento seria ideal para apelar à transcendência de Woods.

“Sei que as redes de TV estão empolgadas com a ideia, por motivos óbvios”, disse Peter Dawson, presidente da Federação Internacional de Golfe.

E o mesmo vale para o país anfitrião, ao que parece. Em outubro, a cerca de 100 quilômetros do local em que o torneio olímpico de golfe será disputado, os torcedores japoneses aplaudiram mais a Woods do que ao seu compatriota Hideki Matsuyama, no primeiro Zozo Championship, vencido por Woods do primeiro ao último buraco.

Sim, Woods no momento está de fora da equipe americana. Mas, como brincou Dawson, “isso não é doença que uma vitória no Masters não cure”.

Em 2016, os quatro golfistas que tinham vagas garantidas na equipe olímpica americana —Jason Day, Jordan Spieth, Rory McIlroy e Johnson— decidiram não participar, por razões que incluíam o medo de contrair o vírus da zika. Este ano, pode ser que um ou dois dos golfistas americanos decidam optar por não competir por outro motivo: dinheiro.

O britânico Justin Rose foi o medalhista de ouro na Rio-2016
O britânico Justin Rose foi o medalhista de ouro na Rio-2016 - Emmanuel Dunand - 13.ago.16/AFP

O torneio masculino em Tóquio acontecerá duas semanas depois do British Open e duas semanas antes do início dos playoffs da FedEx Cup, compostos por três torneios que oferecem premiação total de US$ 60 milhões (R$ 252 milhões), o que inclui US$ 15 milhões (R$ 63 milhões) para o campeão.

O primeiro torneio dos playoffs acontece perto de Boston, a 14 fusos horários de distância de Tóquio, e por isso não é impensável que um jogador de primeira linha que priorize títulos e não medalhas decida que não vale a pena atravessar o mundo para jogar no Japão em um momento tão decisivo da temporada.

Será que alguém poderia decidir ficar em casa por conta de pressões externas para que ceda uma vaga a Woods?

“Isso pode acontecer”, disse Dawson, ainda que tenha acrescentado rapidamente que “tenho certeza de que Tiger não quer chegar à Olimpíada dessa maneira”.

Mas isso já aconteceu no passado. Na seletiva olímpica da natação australiana em 2004, o superastro Ian Thorpe, então recordista mundial e ganhador do ouro nos 400 metros nado livre na Olimpíada anterior, foi desclassificado em sua bateria por queimar a largada depois de tropeçar no partidor e cair na água.

Os dois primeiros classificados na final se qualificaram para a Olimpíada de Atenas, e dezenas de australianos logo começaram a pelar publicamente para que Craig Stevens, o segundo colocado, cedesse sua vaga a Thorpe.

Não havia perigo de que Stevens ou Thorpe ficasse de fora da Olimpíada, porque ambos tinham se classificado em outras provas. Mas um mês mais tarde, durante uma entrevista televisiva pela qual ele recebeu um cachê de centenas de milhares de dólares, Stevens anunciou que estava cedendo sua posição nos 400 metros nado livre a Thorpe, que repetiu sua medalha de ouro.

Por enquanto, Woods ainda controla seu destino. Depois de sua vitória no Masters do ano passado, ele descreveu a Olimpíada como “um grande objetivo”, mas admitiu que “chegar lá e conquistar vaga na equipe será a parte difícil”.

Uma opção, admitiu Woods, seria a de jogar mais torneios do que planejava no primeiro semestre de 2020, em busca dos pontos que o qualifiquem para a Olimpíada. Um resultado forte nesta semana, em um torneio que ele já venceu sete vezes, seria um ótimo começo.

“Eu sei que, se jogar bem nos grandes torneios, como fiz neste ano”, disse Woods em 2019, “as coisas se resolverão”.

Tradução de Paulo Migliacci

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