Técnico português do Avaí brigou com Jesus e o acusou de copiá-lo

Relação antiga de Augusto Inácio com treinador do Fla ficou abalada por 20 anos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marcus Alves
Lisboa

Quando viu o anúncio de Augusto Inácio como novo técnico do Avaí, César Prates virou para a esposa em casa e falou: “esse foi o treinador que mais compreendeu como eu jogava em toda a minha carreira”.

Os dois foram campeões da Liga Portuguesa em 2000 e tiraram o Sporting de uma fila que durava quase duas décadas. Depois de chegar do Corinthians no meio da temporada, Prates teve papel decisivo na conquista.

O português Augusto Inácio, novo técnico do Avaí, que disputa a Série B do Brasileiro em 2020
O português Augusto Inácio, novo técnico do Avaí, que disputa a Série B do Brasileiro em 2020 - Amr Abdallah - 17.jul.17/Reuters

Em Portugal, você pega uma oliva e tem que extrair tudo dela. Foi o que ele fez comigo. Aproveitou o que eu tinha para oferecer”, conta o ex-lateral direito, que hoje mora em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e pretende visitar o antigo chefe em Florianópolis.

“Ele sabia das minhas características ofensivas, conversava muito comigo, me dava confiança. Logo na minha estreia, fiz um gol. Virei o melhor assistente da equipe naquela campanha”, completa Prates.

Esse cartaz ajuda, mas a chegada de Inácio ao futebol brasileiro passa, sobretudo, pelo efeito Jorge Jesus, fruto do sucesso do compatriota em pouco tempo no Flamengo.

Jesus e Inácio são, inclusive, conhecidos de longa data e embalaram juntos o sonho de jogadores na base do Sporting. Depois dali, seguiram caminhos completamente diferentes e voltaram a se cruzar somente no banco de reservas. Um desentendimento em 1997 pôs fim à relação entre eles e fez com que parassem de se falar por 20 anos.

Naquele ano, Jesus substituiu Inácio no comando do Felgueiras e, ao não conseguir o acesso para a primeira divisão, culpou a herança recebida do ex-colega, que se revoltou com o que ouviu.

“É um bom treinador e um mau homem”, chegou a definir Inácio posteriormente.

A partir do episódio, a troca de farpas não cessou mais. Em um reencontro, o novo técnico do Avaí acusou Jesus de copiar a sua estratégia nas bolas paradas. O atual comandante do rubro-negro carioca rebateu em entrevista e mostrou até mesmo vídeos para contra-atacar.

Somente mais recentemente, eles fizeram as pazes e deixaram a mágoa para trás. Ainda que em cenários distintos, os dois estão agora de volta ao mesmo ambiente. Não se deve esperar, no entanto, que Inácio tenha o mesmo impacto que Jesus.

“Não é um treinador de topo em Portugal, nem nada perto disso, embora já tenha sido campeão no Sporting. O seu desempenho naquele ano é um bom exemplo do que tem sido sua carreira. É um nome que, ao pegar equipes no meio da temporada, consegue de alguma maneira uma transformação. Quando assume no início, por outro lado, sente muita dificuldade”, analisa o comentarista Luís Cristóvão, do canal Eleven Sports.

O técnico de 64 anos levou mais recentemente o Moreirense ao título da Taça da Liga em 2017 e evitou a queda do Desportivo das Aves no semestre passado.

Mesmo com a badalação em torno de seu camisa 10, Enzo, filho do francês Zinedine Zidane, ele não teve o mesmo efeito na atual temporada e deixou o cargo em outubro, após sete derrotas seguidas e a lanterna no campeonato.

Na sequência, recebeu consultas de Estados Unidos e África. Com a experiência de ter trabalhado em três continentes, preferiu partir para o seu quarto, no Brasil. Antes disso, revelou ao ser apresentado no Avaí ter ligado para o pentacampeão mundial Luiz Felipe Scolari e perguntado sobre o desafio. “Tive boas informações. Ele me disse que era um bom projeto e um bom clube."

O técnico Augusto Inácio conversa com o meia Valdívia durante treino do Avaí
O técnico Augusto Inácio conversa com o meia Valdívia durante treino do Avaí - André Palma Ribeiro - 7.jan.20/Avaí FC

Figura conhecida em Portugal, Inácio foi um dos grandes laterais esquerdos da história do país. Ele conquistou diversos títulos por Porto e Sporting, entre eles, a Champions League e o Mundial de Clubes pelo Porto, em 1987. No ano anterior, jogou a Copa do Mundo pela seleção portuguesa.

A imagem de “bombeiro” que sustenta hoje no mercado não condiz exatamente com o seu currículo como atleta.

“Ele chegou ao Aves para salvar a equipe no final da temporada passada, conseguiu um final de campeonato tranquilo, lançando até alguns jovens do sub-23. No entanto, as coisas não foram fáceis no início da atual [2019/20]. O clube saiu das duas taças e só ganhou um jogo na liga. Houve também divergências com a direção”, afirma Ricardo Jorge Castro, que faz a cobertura do clube para o site Mais Futebol.

“Apesar de ser de uma geração próxima, não se pode esperar exatamente um novo Jesus. São treinadores exigentes, mas os estilos de liderança e trabalho em campo têm suas diferenças, mesmo que se mostrem similares no discurso: ambos dizem o que pensam sem grandes rodeios. Podem aguardar um treinador ambicioso que queira introduzir as suas ideias”, completa Castro.

Depois de pendurar chuteiras, Inácio trabalhou também como cartola no Sporting e comentarista na televisão.

Foi em uma participação ao vivo que ele viu uma expressão ser cunhada a seu respeito em Portugal, após afirmar que assistiu a um jogo do Benfica na internet, “com alguns cortes de vez em quando”, para não contribuir com a BTV, canal oficial dos rivais na TV paga.

Desde então, não se costuma dizer mais no país que se viu uma partida por meio de link pirata, mas, sim, “à Inácio”.

Neste ano, o Avaí disputa a Série B do Campeonato Brasileiro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.