Definição sobre participação da Rússia na Olimpíada pode atrasar

Enxurrada de cartas ameaça julgamento em corte na Suíça, marcado para abril

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Tariq Panja
The New York Times

As cartas chegam à Corte Arbitral do Esporte (CAS) praticamente todos os dias. Às vezes há mais de uma.
Boa parte da correspondência vem do Comitê Olímpico da Rússia, que está solicitando ao tribunal que reverta ou reduza a exclusão de quatro anos do esporte mundial imposta ao país no final do ano passado pela Agência Mundial Antidoping (Wada).

Mas também há cartas de organizações que têm interesse no resultado do recurso, algumas das quais vistas em geral como favoráveis à Rússia: a federação internacional de hóquei no gelo, o Comitê Olímpico Europeu e a Associação Mundial de Federações Esportivas, uma influente organização que congrega federações de esportes e organizadores de eventos esportivos.

Há semanas, os remetentes vêm encaminhando à corte intervenções relacionadas ao caso da Rússia –questões sobre procedimentos, pedidos de esclarecimento, perguntas de rotina sobre o processo.

De acordo com pessoas familiarizadas com a correspondência, o volume de cartas recebidas desacelerou o processo de arbitragem a tal ponto que a perspectiva de que o escândalo de doping da Rússia afete uma terceira Olimpíada consecutiva está crescendo.

Sem um veredito do principal tribunal esportivo internacional, pode ser impossível aplicar a exclusão —imposta depois que a Rússia foi acusada de se envolver no maior escândalo de doping da história do esporte, e em seguida de tentar acobertá-lo– já na Olimpíada de Tóquio.

A CAS declarou na quinta-feira (27) que o painel de arbitragem que responde pelo caso havia concordado em adicionar cinco organizações e diversos atletas russos como partes interessadas.

“Um cronograma de procedimentos para a submissão de solicitações escritas foi estabelecido e se esgota em abril de 2020”, o órgão informou em comunicado.

“Instruções com respeito à realização de uma audiência serão divulgadas mais tarde”, acrescentou, afirmando que a audiência não aconteceria antes do final de abril e que não seria realizada em público.

Por enquanto, a CAS reservou cinco dias à audiência, de 26 de abril a 8 de maio. Mas a data pode passar sem que a audiência aconteça, devido ao volume crescente de pedidos ao tribunal.

“Os aspectos processuais retardam a parte substantiva do caso”, disse Gregory Ioannidis, um advogado esportivo britânico que participou de diversos casos julgados pela corte. A decisão final pode demorar até quatro meses, depois da audiência, ele afirmou –o que poderia prolongar o caso até bem depois da data da Olimpíada, que começa no final de julho.

A Rússia está sendo representada pelo escritório de advocacia Schellenberg Wittmer, de Genebra, que defendeu diversos atletas russos acusados de doping. Philippe Bärtsch, sócio diretor do escritório e representante legal da Rússia em alguns casos de doping, não respondeu a um pedido de comentário.
A Wada e o Comitê Olímpico Internacional (COI) também se recusaram a comentar.

Evgeny Yurchenko foi eleito nesta sexta como novo presidente da federação de atletismo do país
Evgeny Yurchenko foi eleito nesta sexta como novo presidente da federação de atletismo do país - Tatyana Makeyeva/Reuters

Caso não surja uma solução, a presença de dirigentes russos, de atletas competindo com o uniforme da Rússia e da bandeira russa poderia ser permitida em Tóquio, e o COI enfrentaria um novo período de disputas nos meses que restam até os Jogos, por conta dos efeitos colaterais aparentemente intermináveis de um escândalo que já chegou ao seu quinto ano.

As penalidades impostas à Rússia, que no papel são as mais severas já aplicadas, foram decididas depois que a Wada determinou que as autoridades russas haviam adulterado e apagado dados que poderiam enfim ter permitido que investigadores antidoping confirmassem as identidades das talvez centenas de atletas que trapacearam.

Nos termos da punição, a Rússia não poderá ter equipes nos campeonatos mundiais de qualquer esporte e ficaria excluída de duas Olimpíadas. A punição deixa em aberto a possibilidade de participação de atletas russos nos Jogos como indivíduos.

Se não surgir uma decisão antes do início dos jogos de Tóquio, a confusão seria ainda maior. Dirigentes do COI deram a entender que o assunto teria de ser decidido pela Wada, e dirigentes da Wada afirmaram que os critérios de admissão teriam de ser definidos pelo COI. As duas organizações se recusaram a comentar.

Se a exclusão dos atletas e dirigentes russos não for imposta em tempo para a Olimpíada de Tóquio, qualquer decisão confirmada posteriormente afetaria a Olimpíada de Paris, em 2024, e a Olimpíada de Inverno de Pequim, em 2022.

“Não sei qual seria a situação melhor, em uma situação assim tão ruim”, disse Margarita Pakhnotskaya, diretora assistente da agência oficial de combate ao doping da Rússia, que também foi banida do esporte, em entrevista por telefone. “É como ter de escolher entre algo ruim e algo ainda pior."

Tradução de Paulo Migliacci

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