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Filme sobre Gabriel Medina é ode a jornada do surfista bom-moço

Documentário peca ao não abordar disputas polêmicas do atleta e análises técnicas

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O filme "Gabriel Medina", disponível desde a última semana na plataforma de streaming Globoplay, é apresentado como um documentário sobre a evolução pessoal e profissional do bicampeão mundial de surfe. Poderia também ser chamado de uma peça publicitária muito bem produzida pelo diretor Henrique Daniel, filmmaker oficial do atleta.

A obra resgata imagens inéditas, em VHS, da adolescência do garoto criado em Maresias (SP) e apresenta algumas entrevistas de um adolescente postulante à vida sobre as ondas. Essas são as grandes pérolas do filme, que também se concentra em apresentar as mais épicas vitórias de Gabriel.

Também tem o mérito de relembrar os seus primeiros triunfos marcantes. Em 2009, o WQS de Santa Catarina, etapa seis estrelas da divisão de acesso mundial, foi vencido por um Gabriel com 15 anos de idade, em final com Neco Padaratz.

No mesmo ano, ele chocou o mundo ao ganhar a final do King of the Groms com duas notas 10, na França. No mesmo país, ele conquistou dois anos depois sua primeira etapa como integrante da elite mundial.

As etapas de Pipeline (Havaí), nos anos dos dois títulos da World Surf League (WSL), são apresentadas de maneira emocionante, com bastidores e destaques para a pressão que ele sofria na ocasião e as viradas que conseguiu.

As vitórias destacadas e o roteiro como um todo parecem criados para construir uma perfeita jornada do herói. A trajetória de Gabriel foi embalada para ampliar a sua imagem de bom-moço, com muitas imagens do surfista com a família, remissão à sua fé e um destaque ao relacionamento afetivo com a mãe –a fria citação escrita no final da obra fala sobre um bom relacionamento com o pai biológico.

A jornada do herói Medina começa como uma criança comum que jogava bola no Brasil, com algumas dificuldades financeiras, e se apaixona pelo surfe. De repente, ele vê a possibilidade de encarar uma aventura sobre as ondas, em algum momento pensa em desistir, mas encontra um mentor —no caso, o pai adotivo e treinador Charles— e parte de vez em busca do sonho.

 
Cena do filme "Gabriel Medina", sobre o vida e carreira do surfista brasileiro, na qual ele pega uma onda
Cena do filme "Gabriel Medina", sobre o vida e carreira do surfista brasileiro - Reprodução

Depois vêm os primeiros desafios, triunfos e frustrações. O subjetivo julgamento das notas dadas aos surfistas é apresentado como inimigo, assim como o estranhamento dos estrangeiros com o sucesso de um sul-americano, ou um "índio", na definição de Charles.

O pensamento de abandonar a carreira é cogitado diante de alguns desafios, mas a escolha por seguir é recompensada com o bicampeonato mundial em 2014 e 2018.

A trajetória de Gabriel tem o apoio de entrevistas e imagens inéditas. Entre os surfistas entrevistados estão o norte-americano Kelly Slater, os australianos Mick Fanning, Joel Parkinson e Barton Lynch, hoje o principal comentarista nas transmissões da WSL. O único brasileiro é Adriano de Souza, o Mineirinho, campeão mundial em 2015.

O empresário de Medina, Cesar Villares, põe seu cliente no patamar de outros ídolos do esporte nacional, como Gustavo Kuerten e Ayrton Senna.

A força internacional da sua imagem é destacada com a presença do surfista ao lado do hexacampeão da F-1 Lewis Hamilton, em um ambiente profissional —não em balada. O amigo Neymar também tem uma aparição relâmpago, numa parceria comercial. Nada de imagens comprometedoras ao lado do atacante do Paris Saint-Germain ou com qualquer outro famoso.

Seria mesmo difícil que as cenas de festas entrassem em um produto autorizado pelo atleta, mas faltou um pouco da imagem popstar que ele carrega, frequentando programas de TV e ambientes alheios ao mundo do surfe. Nem o estilo musical de Medina aparece. A trilha sonora, uma tradição em filmes de surfe, é usada apenas para dar dramaticidade em alguns momentos.

Apesar de o documentário mostrar a suspensão por seis meses de Charles, por desentendimentos com juízes após a etapa de Portugal, em 2016, os atritos que Gabriel já teve por sua marcante ambição pela vitória e polêmicas interferências não entraram no filme.

Também seria bom ter visto análises mais técnicas de sua formação nos tubos de Paúba (praia vizinha a Maresias), o aperfeiçoamento da técnica para surfar bem com o pé direito na frente (menos comum), além de explicações sobre como ele tira tantos aéreos da cartola.

Entram na lista de ausências ainda relatos sobre os surfistas pioneiros do país e a convivência de Medina com os outros integrantes da "Brazilian Storm", até para que eles pudessem dizer o que mudou desde o título mundial de 2014, o primeiro do país que agora já tem quatro.

Gabriel Medina

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