Fora da Libertadores, Corinthians se complica para pagar arena

Bilheteria menor deve deixar clube com mais dificuldades de quitar parcelas

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São Paulo

A eliminação precoce na Libertadores, na última quarta-feira (12), para o Guaraní (PAR), vai afetar a capacidade do Corinthians de honrar o pagamento das parcelas do financiamento de sua arena, em Itaquera. Com apenas os campeonatos nacionais para disputar até dezembro, o clube deverá ter em seu estádio, no melhor cenário, cinco jogos a menos do que na última temporada.

Toda a arrecadação do time alvinegro na Arena Corinthians, a maior parte oriunda de bilheteria, é destinada ao pagamento do empréstimo feito junto à Caixa Econômica Federal. Por contrato, o clube tem de pagar a quantia mensal de R$ 5,7 milhões.

Em 2019, a equipe corintiana fez 38 partidas em sua casa, mas este número não foi suficiente para gerar o valor das parcelas, razão pela qual o banco estatal decidiu pedir a execução do contrato, em setembro –o valor do pedido, segundo a Caixa, é de R$ 536 milhões. O clube diverge ao afirmar que a dívida é de R$ 470 milhões.

Neste ano, entre Campeonato Paulista, Brasileiro e Copa do Brasil (e sem o torneio sul-americano), o Corinthians deve disputar, pelo menos, 27 jogos em Itaquera. Caso consiga chegar às finais do estadual e do mata-mata nacional, o total de partidas chegará a 33.

A queda para o time paraguaio na Libertadores já impediu o Corinthians de alcançar meta –prevista em documento, ao qual a Folha teve acesso– de garantir ao menos R$ 19 milhões em premiações da Conmebol. Diretores esperavam que a equipe chegasse ao menos às oitavas de final da competição sul-americana.

Na temporada passada, a média de arrecadação do clube por jogo em casa com bilheteria foi de R$ 1,6 milhão. Com base nesse valor médio, cinco jogos, portanto, poderiam gerar uma receita de R$ 8 milhões, valor equivalente a quase uma parcela e meia do financiamento.

Questionada sobre a perda, a assessoria do clube respondeu "que o orçamento e a composição de receitas e despesas da Arena são de responsabilidade do Fundo que a administra, e embora a agremiação participe do planejamento, não pode comentar esse assunto".

Desde a execução da dívida, a diretoria corintiana passou a negociar com a Caixa uma redução no valor das parcelas. Em reunião com os funcionários do banco, realizada no começo de outubro, dirigentes do clube afirmaram que R$ 3 milhões mensais é o valor que pode ser pago pela agremiação. 

O valor proposto representa 52,6% da quantia mensal prevista em contrato.

Antes de ser notificado pelo banco, o time do Parque São Jorge afirmava ter um acordo verbal para que o formato do pagamento do financiamento fosse modificado, algo que a instituição financeira nega.

Nesse suposto acordo, o Corinthians depositaria a cada ano oito parcelas de R$ 6 milhões e mais quatro de R$ 2,5 milhões. As prestações menores seriam referentes aos meses em que a arena tem menos jogos e, com isso, movimenta menos dinheiro. Neste cenário, totalizaria R$ 58 milhões anuais. Pelo contrato em vigor, a equipe tem que desembolsar R$ 68,4 milhões por ano.

"O Corinthians nunca negou a dívida, nunca deixou de pagar. Tinha um acordo com a Caixa, [no qual] quatro meses pagava menos, e oito mais. Estamos cumprindo. Se for esse acordo, devemos dois meses. Se for o outro, é desde abril", afirmou o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, na semana em que a dívida foi executada.

Apesar da execução, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães afirmou que o banco está aberto para negociar a dívida. "Como em qualquer caso, estamos 100% abertos para uma renegociação. Se houver uma discussão de novo, podemos interromper a execução", afirmou.

As partes ainda não agendaram um novo encontro para debater o tema.

A DÍVIDA E O QUE PODE ACONTECER ENTRE CORINTHIANS E SUA ARENA

Corinthians pode perder o estádio?
O clube ficar sem o estádio para disputar suas partidas é um cenário improvável.

De acordo com as garantias dadas, a Caixa pode ter direito às receitas da Arena Corinthians, às cotas no fundo que administra a arena e a duas matrículas (imóveis) do Parque São Jorge em caso de não pagamento do financiamento.

Outra garantia, que foi dada pela OPI (Odebrecht Participações e Investimentos, subsidiária da empreiteira), não vale mais em razão do processo de recuperação judicial pelo qual a holding passa.

Quem financiou a obra?
O Corinthians fez um financiamento com o BNDES. A Caixa avalizou o empréstimo e foi o repassador do dinheiro. A maior parte do valor da obra foi pago pela Odebrecht, que também fez empréstimos bancários e usou dinheiro do próprio conglomerado.

Qual a dívida total da arena?
Para o estádio ficar pronto, no início de 2014, foram gastos mais de R$ 985 milhões (R$ 1,3 bilhão em valores atualizados). Somando juros e financiamento com a Caixa, esse valor supera os R$ 1,6 bilhão (segundo projeção da Odebrecht); há discordância entre as partes sobre a quantia final.

Quanto já foi pago?
Até agora, o Corinthians diz ter repassado à Caixa R$ 158 milhões. Além da dívida com o banco, tem débitos com a Odebrecht. As duas partes discordavam do valor a ser pago. Em 2019, a construtora cobrou R$ 800 milhões do clube, que alegou ter repassado, pelo fundo que administra o estádio, cerca de R$ 380 milhões à Odebrecht por meio de CID's  (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento). Segundo o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, a equipe chegou a um acordo para pagar R$ 160 milhões à construtora e encerrar essa parte da dívida, mas como a mesma está em recuperação judicial, qualquer redução do montante precisa ser autorizado por uma assembleia de credores, o que ainda não aconteceu.

O Corinthians é o único dono da arena?
A Arena Corinthians é administrada por um fundo com três cotistas, o Corinthians, a Odebrecht (via OPI, sigla para Odebrecht Participações e Investimentos) e a Arena Itaquera S.A, da qual são acionistas a própria empreiteira e a BRL Trust, empresa de gestão de fundos.

Em qual prazo o clube pretende quitar a obra?
O Corinthians afirma que manteve o prazo previsto inicialmente de 12 anos, com vencimento em 2028.

Com que receitas pretende pagar?
A principal fonte de receita é a bilheteria. No orçamento deste ano, o clube prevê arrecadar R$ 70 milhões com jogos.

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