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NBA vive ano de provações com coronavírus, mortes e crise chinesa

Liga americana de basquete contabiliza prejuízo bilionário com percalços

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São Paulo

Quando saiu o resultado do exame que apontou um jogador da NBA infectado pelo novo coronavírus, Adam Silver, 57, sabia o que precisava ser feito. Ainda naquela noite de 11 de março, o principal dirigente da liga interrompeu o campeonato de basquete e passou a enfrentar mais uma adversidade em uma temporada cheia delas.

O prejuízo seria —e está sendo— enorme, mas já não era momento de fazer contas. Diante dos riscos de transmissão da Covid-19, paralisar o campeonato era a única opção e deixar para (não muito) depois os cálculos sobre os danos financeiros e esportivos decorrentes da suspensão.

Silver tem experiência no trabalho de minimizar perdas. Antes mesmo de a temporada 2019/20 começar, ele já encarava uma crise com a China que custou centenas de milhões de dólares à liga. Entre esse conflito e a parada forçada no torneio, o basquete dos EUA ainda precisou lidar com duas mortes traumáticas.

O comissário da NBA, Adam Silver, durante entrevista coletiva do Jogo das Estrelas
O comissário da NBA, Adam Silver, durante entrevista coletiva do Jogo das Estrelas - Stacy Revere - 14.fev.20/AFP

No dia 1º de janeiro, morreu aos 77 anos o antecessor de Silver, David Stern, que assumiu a NBA em 1984 e foi seu dirigente maior por três décadas, período no qual a transformou em um meganegócio. Vítima de uma hemorragia cerebral, o cartola deixou a liga americana em luto.

“Por 22 anos, eu tive cadeira cativa para observar David em ação”, afirmou o atual comissário, que era auxiliar de Stern. “Ele era um mentor e um de meus mais caros amigos. Ele pegou a NBA quando ela estava em uma encruzilhada e, em seus 30 anos como comissário, apresentou a moderna e global NBA.”

Menos de um mês depois, houve uma perda ainda mais chocante. Kobe Bryant, um dos grandes nomes do basquete de todos os tempos, morreu em um acidente de helicóptero, aos 41 anos. Também não resistiram à queda as outras oito pessoas presentes na aeronave, entre elas Gianna, 13, filha de Bryant.

A comoção causada pela tragédia, ocorrida em 26 de janeiro, ainda se estenderá por muito tempo. Até Michael Jordan, 57, chorou como uma criança na cerimônia em tributo ao craque, a quem chamou de “irmãozinho”.

Em luto, com atletas aos prantos dentro de quadra, a NBA seguiu adiante e continuou apresentando jogos de alto nível. Apesar de lesões sérias em atletas importantes, como Kevin Durant, Stephen Curry e Klay Thompson, não faltava qualidade em um torneio que se apresentava como o mais equilibrado há anos.

Eleito melhor jogador da temporada passada, Giannis Antetokounmpo manteve um desempenho para dar ao Milwaukee Bucks o primeiro lugar da Conferência Leste. Na Oeste, com a ajuda de Anthony Davis e LeBron James, o Los Angeles Lakers ressurgiu como candidato ao título.

A renovação do talento também se mostrou de primeira linha. O armador Ja Morant, 20, surpreendeu ao já surgir conduzindo o Memphis Grizzlies em uma campanha com possibilidade real de classificação ao mata-mata. O ala Zion Williamson, 19, depois de superar problemas físicos, conseguiu números espetaculares no New Orleans Pelicans.

Tudo isso foi interrompido quando o novo coronavírus apareceu. Os primeiros atletas que tiveram diagnóstico de infecção foram Rudy Gobert, 27, e Donovan Mitchell, 23, do Utah Jazz. A lista agora tem também jogadores de Los Angeles Lakers, Philadelphia 76ers e Brooklyn Nets, entre eles o craque Kevin Durant, 31.

Mesmo que não houvesse atletas com testes positivos, mais cedo ou não muito mais tarde, a temporada teria de ser paralisada com a expansão da pandemia. Determinou-se inicialmente uma pausa de um mês, mas o “hiato”, como chamou Adam Silver, deverá ser bem maior.

A liga está se preparando para múltiplos cenários. O mais otimista prevê a conclusão da fase de classificação (cada time já jogou pouco mais de 60 partidas de um total de 82) e dos playoffs. O mais pessimista é o cancelamento total, sem a declaração de um campeão, algo sem precedentes.

Seja qual for a solução, o prejuízo já é enorme. Há preocupação com funcionários dos ginásios, que ganham por hora trabalhada, o que levou atletas e donos de equipes a fazerem generosas doações.

Há também uma preocupação com um negócio bilionário de repente parado. Para ajudar os times, a NBA negocia a ampliação de sua linha de crédito, que passará de US$ 650 milhões (R$ 3,27 bilhões) para US$ 1,2 bilhão (R$ 6,03 bilhões). O tamanho do prejuízo só ficará mais claro quando se tiver uma ideia melhor sobre o cronograma de retorno às atividades.

As perdas se somarão às registradas antes do início do campeonato, quando se estabeleceu uma crise com a China, grande mercado consumidor do basquete americano.

Uma publicação no Twitter de Daryl Morey, 47, gerente-geral do Houston Rockets, acabou causando uma cara crise diplomática. “Lute pela liberdade. Fique com Hong Kong”, escreveu o dirigente, o que provocou a ira da China, que vive relação tensa com o território autônomo.

A publicação era uma espécie de endosso aos protestos por liberdade e democracia que ocorriam em Hong Kong.

A mensagem foi apagada, mas o estrago estava feito. Naquele momento, o Los Angeles Lakers e o Brooklyn Nets estavam na China para dois amistosos de pré-temporada, realizados em alta tensão. A TV estatal chinesa cancelou a transmissão dos jogos, e vários contratos de publicidade foram interrompidos.

De acordo com Silver, o prejuízo ficou na casa dos US$ 300 milhões (R$ 1,51 bilhão, na cotação atual). De lá para cá, houve sinais de reconciliação com os chineses, mas não se tornou mais fácil a vida do comissário, que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas nos últimos meses, é elogiado pelos dirigentes das equipes.

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