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No futebol desde bebê, técnica do Grêmio é minoria na elite nacional

Patrícia Gusmão está entre as 2 treinadoras dos 16 clubes do Brasileiro Feminino

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Porto Alegre

Durante a infância, a gaúcha Patrícia Gusmão, 41, não ouviu que “futebol é coisa de homem”. Com dois irmãos, a técnica da equipe feminina do Grêmio frequenta estádios desde bebê, quando a mãe a levava no colo para assistir às partidas do pai em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre.

“Felizmente, não se vê tanto preconceito como antes, nas próprias famílias, quando as meninas querem jogar futebol. Já não é tão comum os comentários do tipo: ‘Isso não é para menina’”, afirma Gusmão. “Cresci jogando bola, nesse ambiente. Mas tinha dificuldade de encontrar um lugar para jogar com meninas, então jogava com os meninos."

Das 16 equipes do Campeonato Brasileiro Feminino, apenas duas são comandadas por mulheres. Além do Grêmio de Patrícia, a Ferroviária tem uma treinadora no banco de reservas.

O time do interior paulista é treinado pela também gaúcha Tatiele Silveira, que na edição do ano passado levou o clube ao título.

Foi com Gusmão à frente das gremistas que o Grêmio subiu da segunda divisão, em 2019, para a primeira, em 2020.

“O objetivo era levar o Grêmio para a elite do futebol feminino. Conseguimos”, comemora. “A meta agora é classificar entre os oito primeiros times e almejar algo mais depois. A ideia é consolidar o Grêmio nesse espaço."

Ela é apoiada pela torcida feminista do Grêmio, o coletivo Elis Vive, criado em homenagem à cantora gremista Elis Regina.

“É necessário dar oportunidade às técnicas do Brasil. Além da representatividade que isso, por si só, carrega, não se vê mulheres na comissão técnica masculina”, diz Patrícia Ferreira, torcedora e integrante do coletivo. “Esse espaço no futebol feminino precisa ser ocupado por mulheres."

Gusmão concorda: “Ainda falta um pouco de oportunidade, mas há mulheres nas categorias de base, e isso acaba sendo uma vitrine para mostrar o trabalho. Há muitas mulheres competentes para assumir esse desafio no futuro. Aos poucos, vamos conquistando o espaço".

Integrantes do coletivo feminista de torcedoras do Grêmio inspirado em Elis Regina
Integrantes do coletivo feminista de torcedoras do Grêmio inspirado em Elis Regina - Marcos Nagelstein/Folhapress

Antes de ser treinadora, ela foi jogadora. Iniciou a carreira aos 18 anos, no Internacional, e jogou também no Botucatu, São Bernardo e Corinthians, conquistando diversos títulos. Depois, passou dois anos atuando profissionalmente na Coreia do Sul, de onde voltou em 2014.

“Lá é muito diferente, tanto a estrutura oferecida como a importância do futebol feminino, desde os salários às condições oferecidas para trabalhar e jogos transmitidos pela TV”, afirma.

No seu retorno ao país, por causa de uma lesão anterior, optou por não jogar mais. “Decidi ajudar de outra maneira. Montei uma equipe em Cachoeirinha e ganhamos o Gaúcho, conquistamos vaga na Copa do Brasil. Tínhamos zero estrutura, treinávamos duas vezes por semana à noite”, conta.

Em 2017, comandou o time feminino do Grêmio pela primeira vez. “Treinava três vezes na semana, à noite, no Centro de Treinamento Cristal [na zona sul da capital gaúcha]. Naquela época, nenhuma jogadora vivia de futebol. Trabalhavam em outros empregos de dia e treinavam à noite. Quem viveu aquele período sabe o quanto se esforçou”, relembra.

Querendo melhores condições de trabalho para as jogadoras, aceitou uma proposta para ser auxiliar-técnica do Inter, em 2018. O Grêmio, porém, a queria de volta, e o diretor do feminino, Julio Tittow, o Yura, a convidou para retornar. “Não pensei duas vezes. Resolvi voltar para a minha casa”, ela diz.

Agora, vive um momento em que o futebol feminino passa a ser mais valorizado no país, principalmente pelas próprias mulheres, mas percebe também um aumento no apoio do público masculino.

“Conforme as mulheres vão mostrando um alto nível em campo, com futebol competitivo, isso atrai os torcedores. A gente está jogando contra clubes tradicionais, são clássicos. Isso move a torcida”, afirma.
“O futebol feminino está dando retorno e vai deslanchar, não tem como voltar atrás."

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