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Ofensas a investidor paralisam jogos do Campeonato Alemão

Medida levanta discussão sobre limites de manifestações das torcidas no futebol

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São Paulo

Neste fim de semana ao menos duas partidas do Campeonato Alemão foram interrompidas pelos árbitros após manifestações de torcedores contra o bilionário dono do Hoffenheim, Dietmar Hopp, cofundador da empresa de softwares SAP AG.

No sábado (29), a primeira paralisação ocorreu no duelo entre o próprio Hoffenheim contra o Bayern, jogo em que o time de Munique goleou por 6 a 0.

A vantagem já havia sido construída pelo Bayern aos 22 min do segundo tempo, quando torcedores do time bávaro levantaram uma faixa com os dizeres: "Tudo como habitual – A DFB [Federação Alemã de Futebol] não mantém sua palavra e Hopp continua um filho da puta".

Jogadores do Bayern de Munique e do Hoffenheim cruzam os braços e conversam durante paralisação de jogo pelo Campeonato Alemão após protestos de torcedores bávaros contra o dono do Hoffenheim
Jogadores do Bayern de Munique e do Hoffenheim cruzam os braços e conversam durante paralisação de jogo pelo Campeonato Alemão após protestos de torcedores bávaros contra o dono do Hoffenheim - Kai Pfaffenbach - 29.fev.20/Reuters

A torcida questionava o que consideram uma afronta à regra dos 50+1, instituída no futebol alemão em 1998, segunda a qual os clubes e suas divisões não devem ter 50% ou mais do poder decisório nas mãos de um único investidor.

As exceções seriam os investidores que possuíssem mais de 20 anos de parceria com os clubes antes de 1º de janeiro de 1999. Esta resolução mudou em 2011, quando qualquer investidor com mais de 20 anos de agremiação passou a poder ter mais de 49%, mesmo que os 20 anos se completassem depois de 1999.

Com isso, Hopp foi um dos beneficiados, pois sua parceria com o Hoffenheim data de 1989. Atualmente, ele tem o controle acionário de 96% da agremiação, motivo pelo qual tem sido alvo dos protestos. Bayer Leverkusen e Wolfsburg são outros que aproveitaram a brecha na regulamentação.

Seguindo orientação da Bundesliga, o árbitro que comandou o duelo na Rhein-Neckar-Arena interrompeu o jogo até que as faixas fossem retiradas. Em caso de reincidência, havia a instrução para que a partida fosse novamente paralisada e que os jogadores do Hoffenheim deixassem o campo.

A medida adotada pelo juiz está dentro do pacote de ações contra atos de terrorismo na Alemanha, sobretudo após atentados com motivações racistas e de extrema direita deixarem nove mortos, segundo investigações das autoridades do país.

Como a manifestação dos torcedores foi novamente exibida aos 31 minutos de jogo, os atletas deixaram o gramado. Eles não chegaram a ir para o vestiário, mas ficaram no túnel de acesso.

Enquanto isso, os jogadores do Bayern foram em direção de seus próprios torcedores pedir para cessarem as manifestações. Nas tribunas do estádio, o presidente da equipe de Munique, Karl-Heinz Rummenigge, abraçou Dietmar Hopp.

"Sinto vergonha. Pedi desculpas a Dietmar Hopp. É imperdoável", disse Rummenigge após a partida. "Nós filmamos tudo e iremos fazer com que as pessoas paguem por isso", acrescentou o dirigente.

Em sua conta oficial no Twitter, o Bayern de Munique divulgou uma foto na qual o mandatário do clube (à dir.) aparece cumprimentando Hopp após a partida.

Quando o jogo foi reiniciado, não houve mais disputa com objetivo de balançar as redes. Em outro sinal de apoio ao bilionário, os dois times apenas tocaram a bola de um lado para o outro por cerca de 15 minutos, sem alterar o placar de 6 a 0.

Uma nova paralisação por esse motivo ocorreu neste domingo (1º), na partida entre Union Berlim e Wolfsburg. Os atletas dos dois times também deixaram o gramado, mas retornaram para completar o tempo regulamentar.

Em entrevista ao canal alemão Sport1, Hopp comentou os protestos. “Se eu soubesse minimamente o que esses idiotas querem de mim, seria mais fácil entender isso. Não sei explicar tanta hostilidade, lembra tempos muito sombrios.”

Em nota, a torcida do Bayern criticou o que considera como um "exagero" a orientação de paralisar os jogos e, principalmente, as punições que foram aplicadas recentemente a outros torcedores.

A torcida do Borussia Dortmund, por exemplo, foi multada e proibida de acompanhar os jogos do time contra o  Hoffenheim na casa do adversário justamente por ações semelhantes as dos fãs do Bayern.

Em apoio, os bávaros afirmaram que seus protestos não vão parar. "Vocês não aprovam as palavras, mas não há alternativa para nós, já que é a única forma de conseguir a atenção necessária. No futuro, se vocês quiserem interromper partidas de futebol quando esses insultos forem expressados, vocês não poderão mais ter jogos de 90 minutos. A interrupção hoje [sábado, 29] foi excessiva e absurda."

A interrupção dos jogos na Alemanha levantou comparações sobre a forma com os europeus lidam, por exemplo, com o combate ao racismo no futebol.

O rigor contra ofensas ao dirigente não seria o mesmo adotado em casos recentes de racismo, apesar de a própria Uefa ter instituído um protocolo com as ações a serem tomadas, incluindo a paralisação dos jogos.

As regras da entidade europeia seguem três etapas. Na primeira, o juiz interrompe o jogo e os alto-falantes pedem que os torcedores parem com as ofensas racistas.

Se houver reincidência, a partida é suspensa, e os jogadores podem decidir se saem de campo ou não. 

O último passo é cancelar a partida, com possível perda de pontos para a equipe ofensora, além das sanções já previstas pela Uefa, como multas, perda de mando de campo e suspensões.

Dificilmente, porém, os árbitros chegam à medida mais extrema, o que reduz a eficácia da regra, segundo entidades que trabalham pela igualdade no futebol.

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