Descrição de chapéu Tóquio 2020 Coronavírus

'Olimpíada da recuperação' ganha novo sentido no Japão com adiamento

Decepção e resignação marcam dia dos japoneses após mudança dos Jogos para 2021

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AFP

A mídia e os atletas do Japão reagiram com desapontamento nesta quarta-feira (25) ao adiamento da Olimpíada de 2020 em Tóquio, mas expressaram alívio pela fato de os Jogos não terem sido cancelados de vez por conta da pandemia do coronavírus.

O adiamento, uma decisão sem precedentes em tempos de paz, veio depois de forte pressão de atletas de todo o mundo e se seguiu a uma admissão pelo primeiro-ministro japonês de que postergar os Jogos havia se tornado "inevitável”.

Mas ainda assim houve choque e decepção no Japão, onde o evento havia sido promovido como “a Olimpíada da recuperação”, e tinha por objetivo demonstrar os esforços de reconstrução do país depois dos devastadores terremoto, tsunami e desastre nuclear de 2011.

O Nikkei, um jornal de negócios japonês, disse que o país havia evitado o pior cenário possível, o de um cancelamento, mas que “é como se todos os esforços dos últimos sete anos tivessem voltado à estaca zero”. O jornal acrescentou que “é inevitável que imensos custos adicionais venham a surgir”.

O jornal Tokyo Shimbun escolheu a manchete “surpresa e embaraço”, para sua cobertura do adiamento, mas admitiu em um artigo que a situação havia deixado poucas escolhas aos organizadores e aos dirigentes olímpicos.

“Escolher um adiamento por um ano foi uma decisão tomada com base em um processo de eliminação”, afirmou o jornal, já que uma Olimpíada neste ano era vista como excessivamente arriscada, e postergar os Jogos para 2022 foi considerado como provavelmente dispendioso demais.

Estádio Olímpico de Tóquio visto do alto de um mirante nesta quarta (25)
Estádio Olímpico de Tóquio visto do alto de um mirante nesta quarta (25) - Charly Triballeau/AFP

Os jornais expressaram decepção com a maneira pela qual o Comitê Olímpico Internacional (COI) lidou com a decisão, sustentando por semanas a linha de que a Olimpíada começaria na data marcada, 24 de julho, antes de mudar de curso.

Atletas japoneses se declararam desapontados, mas disseram que continuavam determinados a treinar para a nova data dos Jogos.

“Para ser bem honesto, minha cabeça ainda está girando”, postou Akiyo Noguchi, da escalada esportiva, em sua página do Instagram. “Mas decidi encarar a situação de modo positivo, porque isso me dará mais tempo para praticar o esporte que amo”, acrescentou Noguchi. “Vou dedicar o tempo que recebi a ganhar força física e mental."

Jun Mizutani, 30, atleta japonês do tênis de mesa que disputou as Olimpíadas de Pequim, Londres e Rio de Janeiro, reagiu à situação tuitando uma foto que o mostra envelhecido digitalmente, acompanhada pela legenda “vou conseguir”.

Atletas e organizações esportivas de todo o mundo estavam pressionando pela decisão, dados os efeitos que o vírus vinha tendo sobre todo o processo, das seletivas olímpicas aos treinamentos, e por isso a decisão final esteve longe de ser um choque.

“Estávamos preparados, porque o apoio ao adiamento vinha crescendo”, disse Toshihisa Tshuchihashi, da Associação Japonesa de Tênis, ao jornal esportivo Nikkan. “Creio que a decisão tenha sido sábia. Acho que os jogadores terão reações contraditórias, mas acredito que se reposicionarão e farão seu melhor. E eu os apoiarei."

Ichiro Hoshino, diretor sênior da Associação Japonesa de Tênis de Mesa, disse ao jornal que havia se tornado claro que realizar os Jogos na metade deste ano seria impossível.

“Mas também sinto que foi bom que eles não tenham sido cancelados, em meio a uma situação tão séria”, afirmou. “Eu diria que foi bom para os atletas, porque [a situação] se tornou um pouco mais previsível."

Tanto o COI quanto os organizadores e autoridades do Japão insistiram em que um cancelamento não está sendo contemplado e que o objetivo agora é realizar os Jogos adiados no máximo até o começo do terceiro trimestre de 2021.

Nas circunstâncias, escreveu o jornal conservador Sankei Shimbun, a decisão de adiar a Olimpíada por um ano foi “o melhor cenário”.

Tradução de Paulo Migliacci

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