Descrição de chapéu Tóquio 2020 Coronavírus

Pessoas morrem enquanto atletas pensam se podem treinar, diz Fratus

Nadador defende adiamento dos Jogos e diz que saúde mundial é prioridade

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São Paulo

Candidato à conquista de medalha na Olimpíada de Tóquio-2020, o nadador brasileiro Bruno Fratus, 30, já não encontra piscinas abertas para se manter em atividades nos Estados Unidos, onde mora com a mulher e treinadora Michele Lenhardt.

Eles vivem no sul do estado da Flórida, na região de Fort Lauderdale. No início da semana, o local onde treinavam fechou as portas, por causa das restrições causadas pela pandemia de coronavírus.

O atual vice-campeão mundial dos 50 m nado livre ainda conseguiu achar uma outra piscina a 50 minutos de distância da sua casa, mas ela só permaneceu aberta por mais um dia.

Sem a possibilidade de se preparar de forma segura, Fratus, cuja prova de especialidade costuma ser definida por centésimos, puxou a fila entre os atletas brasileiros que têm criticado a posição do Comitê Olímpico Internacional (COI) de até o momento não anunciar o adiamento dos Jogos —a cerimônia de abertura está marcada para o dia 24 de julho.

Todos os outros grandes eventos esportivos mundiais estão paralisados ou foram adiados para 2021, caso da Eurocopa e da Copa América de futebol.

"Isso para mim é uma definição de prioridades muito simples. Se você tiver o mínimo de empatia consegue entender a seriedade do problema e acaba não encanando tanto com o fato de não ter uma piscina. Enquanto você está preocupado se tem piscina ou não, as pessoas estão morrendo", afirma o nadador à Folha.

Por entender que os atletas não devem se expor e precisam se isolar para não correrem riscos ou se tornarem ameaças para pessoas mais vulneráveis, Fratus defende o adiamento dos Jogos e mandou uma mensagem pelas redes sociais para a presidente da comissão de atletas do COI, criticando a posição da entidade.

Na quarta (18), o comitê presido pelo alemão Thomas Bach pediu que os atletas continuem se preparando "da melhor forma que puderem".

"[Sem adiamento] os Jogos serão dominados por alguns atletas privilegiados por terem uma estrutura para treinar no meio desse caos todo. Os atletas que não conseguirem treinar, ficarem reclusos e optarem por preservar a própria saúde e a dos familiares acabarão prejudicados", diz.

Ele conta que decidiu assumir a linha de frente da causa por acreditar que os principais afetados pela indefinição com relação à realização da Olimpíada, os próprios esportistas, não estavam articulados o suficiente para defender seus interesses nesse momento crítico.

"Poucas comunidades ou grupos têm tanta voz quanto a dos atletas, principalmente atletas olímpicos, e por algum motivo essa voz não é usada do jeito que deveria. Então reclama-se muito que os atletas não são valorizados, mas falta também uma autovalorização", afirma.

Bruno Fratus após o ouro no revezamento 4x100 m, no Pan de Lima
Bruno Fratus após o ouro no revezamento 4x100 m, no Pan de Lima - Sergio Moraes - 6.ago.2019/REUTERS

Por enquanto, ele tem se mantido ativo com exercícios para manter a capacidade aeróbia. O objetivo é não sair de forma, ou ter o menor prejuízo possível. "Não tem nada irreversível, mas para competir daqui a poucos meses fica sim prejudicado."

Por mais que tenha criticado o posicionamento do COI nos últimos dias, Fratus entende que a decisão de adiamento é complexa, envolve muitos acordos comerciais e não pode ser tomada do dia para a noite.

"Também não dá para achar que o COI está alienado da realidade. Com certeza têm muita gente trabalhando, muita gente boa, que foi atleta, e você tem que entender também que os Jogos Olímpicos são essa estrutura gigantesca e que não deve ser algo fácil mudar toda a logística. Então, quero acreditar que é uma questão de organização até que as novas datas sejam anunciadas", diz.

O mundo da natação tem sido a principal frente de batalha na defesa do adiamento até agora. Etiene Medeiros, 28, principal nadadora de piscina do Brasil, disse à Globo que é contra a manutenção da Olimpíada na data original: "Acho que o mundo hoje está gritando para uma outra situação, uma situação de saúde. Então todo o nosso planejamento está sendo recuado".

Na sexta, a federação da modalidade nos Estados Unidos (USA Swimming) enviou uma carta para o Comitê Olímpico e Paraolímpico do país em que pede que a entidade defenda o adiamento dos Jogos por um ano.

No início do documento, a federação destaca que representa 400 mil membros e muitos dos principais campeões olímpicos.

"Estamos assistindo aos nossos atletas sofrerem para encontrar maneiras de continuar se preparando", afirma. "Eles estão sob muita pressão, estresse e ansiedade. Sua saúde mental e bem-estar devem estar entre as maiores prioridades."

Por isso, admitindo essa não ser uma "solução perfeita", pede a transferência do evento para 2021.

A USA Swimming é uma das entidades de maior peso no esporte olímpico mundial. Na Olimpíada do Rio, por exemplo, a natação do país conquistou 33 medalhas.

Os interesses da modalidade também são relevantes porque a natação é um dos esportes de mais visibilidade na televisão americana. Não à toa, a NBC, principal detentora de direitos de TV dos Jogos, influencia nos horários em que as disputas acontecerão, com o objetivo de garantir mais audiência no país.

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