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Djokovic volta a ter suas crenças questionadas após fala antivacina

Tenista provoca controvérsia ao comentar retorno do esporte depois da pandemia

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São Paulo

Ao indicar que poderá se opor à obrigatoriedade de atletas se vacinarem contra a Covid-19 para participarem de torneios, no caso de futuramente existir uma vacina para a doença, o tenista Novak Djokovic, 32, contribui para o fortalecimento da sua imagem como a de uma personalidade esportiva pouco afeita a evidências científicas.

Essa fama já vinha sendo construída nos últimos anos, a partir de outros episódios controversos da carreira do atual líder do ranking mundial e vencedor de 17 títulos de Grand Slam (terceiro maior da história entre os homens).

"Pessoalmente, sou contra vacinação e não gostaria de ser forçado por alguém a tomar uma vacina para poder viajar", disse o tenista no domingo (19), em uma conversa ao vivo no Facebook com outros atletas sérvios.

"Mas se for obrigatório, o que acontecerá? Vou ter que tomar uma decisão. Eu tenho meus próprios pensamentos sobre o assunto e, se esses pensamentos mudarão em algum momento, eu não sei", completou.

O atleta não se aprofundou no tema. Na segunda, emitiu um comunicado sobre o assunto, mas não deixou claro se é contrário a vacinas de uma forma geral, na esteira de movimentos antivacinação que cada vez mais têm preocupado médicos e acadêmicos em todo o mundo.

"Eu não sou especialista, mas quero ter a opção de escolher o que é melhor para o meu corpo", afirmou em nota. "Estou mantendo a mente aberta e vou continuar pesquisando sobre esse assunto porque ele é importante e afetará a todos nós."

Acrescentou ainda que, "para ser honesto, assim como o resto do mundo eu também estou um pouco confuso".

Novak Djokovic comemora título no ATP de Dubai
Novak Djokovic comemora título no ATP de Dubai - Ahmed Jadallah - 29.fev.20/Reuters

Sem torneios em andamento e entrevistas coletivas que normalmente fariam uma declaração como essa gerar mais repercussão entre os pares, o ex-tenista americano Andy Roddick foi um dos poucos que a comentaram até agora.

"Novak disse isso por ele mesmo. Não tenho que concordar com sua posição. Ele sabe que terá uma decisão a tomar. Ficarei curioso para ver quão profundo é seu sistema de crenças se ele quiser ficar fora de um Grand Slam por não querer tomar uma vacina", disse o ex-número 1 do mundo ao Tennis Channel.

No The Guardian, o jornalista especializado em tênis Tumaini Carayol lembrou de um episódio de 2017, quando Djokovic se opôs a passar por um cirurgia no cotovelo e optou num primeiro momento por tratamentos holísticos, o que contribuiu para o fim da parceria com seu então técnico, Andre Agassi.

Quando enfim optou pela intervenção, no ano seguinte, afirmou ter chorado por três dias por sentir que havia falhado consigo mesmo. Dentro de quadra, porém, não teve do que reclamar. Após o procedimento, ele já venceu cinco títulos de Grand Slam e voltou a liderar o ranking.

Sempre existiu certo folclore em torno do comportamento do sérvio. Ele segue uma dieta bastante restrita à base de plantas, se considera amigo de árvores e é um entusiasta de sessões de longos abraços. Como contou a Andy Murray em uma conversa ao vivo no Instagram na semana passada, a primeira coisa que faz ao acordar é manifestar sua gratidão ao mundo.

Curiosamente, na mesma live ele disse que, caso não fosse tenista, gostaria de ser cientista.

Durante anos, a influência do ex-tenista espanhol Pepe Imaz, visto no circuito como uma espécie de guru espiritual do atleta (ele não gosta desse termo), motivou discussões sobre a influência da filosofia de "amor e paz" no seu rendimento esportivo.

Há, porém, outras controvérsias menos lúdicas protagonizadas pela família. No início de abril, em meio à pandemia, a esposa de Djokovic, Jelena, ajudou a divulgar uma teoria da conspiração na internet que liga a disseminação do coronavírus à tecnologia sem-fio ultrarrápida 5G.

A publicação foi marcada com um aviso de conteúdo falso pelo Instagram, mas ela não a apagou do seu perfil nem voltou ao assunto para esclarecê-lo.

Após a declaração do tenista no domingo, houve quem lembrasse nas redes sociais de uma ocasião em que o tenista foi associado a outro movimento negacionista da ciência, o dos terraplanistas. Isso ocorreu no fim de 2018, quando ele publicou uma foto no Instagram segurando um desenho interpretado por alguns como uma referência à ideia incorreta de que o planeta Terra é plano.

Justiça seja feita, Djokovic nunca abordou esse tema publicamente. E também é justo ressaltar que, apesar dos questionamentos, ele tem ajudado financeiramente no combate ao coronavírus e espalhado mensagens positivas, como para que as pessoas que puderem permaneçam em suas casas no período de isolamento social.

O atleta já doou 1 milhão de euros (R$ 5,8 milhões) para o tratamento da Covid-19 na Sérvia e também contribuiu, com valores não revelados, a hospitais da região de Bérgamo, na Itália, uma das mais afetadas pela doença no mundo.

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