Em meio à pandemia, torneio de tênis em quintal é transmitido ao vivo

Competição da modalidade plataforma foi televisionada pela ESPN nos EUA

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Christopher Clarey
The New York Times

Os esportes televisados ao vivo praticamente desapareceram na era do coronavírus, mas uma exceção improvável surgiu recentemente no canal ESPN3 (dos EUA), o "2020 Platform Tennis World Championships" (Campeonato Mundial de Tênis Plataforma 2020).

É um nome grandioso demais para um torneio improvisado transmitido de uma quadra que fica em um quintal, na cidade de Wilton, Connecticut. O torneio envolvia quatro tenistas pouco conhecidos jogando um esporte pouco conhecido, em uma casa particular, e sem prêmios para os participantes. ”Para o tênis plataforma, esse é o maior palco que já tivemos até agora”, disse Mark Parsons, que terminou conquistando o título mas não levou o troféu para casa.

“O cara que trouxe o troféu era a única pessoa autorizada a tocar nele”, disse Parsons. “Estávamos fazendo o melhor que podíamos para manter o distanciamento social.

Partida de tênis plataforma transmitida ao vivo pela ESPN3
Partida de tênis plataforma transmitida ao vivo pela ESPN3 - Harry Cicma Productions

Burke Magnus, vice-presidente executivo de aquisição de programação na ESPN, afirmou em um comunicado que um dos objetivos da empresa era entreter os torcedores “por meio de programas temáticos e descompromissados, que ofereçam diversão em um momento no qual não há virtualmente esporte algum para assistir ao vivo”.

O tênis plataforma –jogado em quadras abertas mesmo em temperaturas abaixo de zero, em uma quadra de tênis em escala reduzida e instalada entre cercas que fazem lembrar uma jaula– foi uma nova proposta em uma era estranha e delicada para as competições esportivas ao vivo. Os esportes coletivos e de contato não estão funcionando, agora. Jogadores da NBA, pilotos da Nascar e ciclistas estão competindo em videogames, e a ESPN recentemente reprisou “The Ocho”, seu torneio anual de competições malucas como arremesso de machados e quicar pedras na água.

Há com certeza outros esforços para organizar eventos esportivos ao vivo. O Big 3, um torneio com times de basquete formados por três jogadores que inclui alguns ex-atletas da NBA, tem a ambição de colocar alguns jogadores de quarentena em uma casa e transmitir suas vidas e seus jogos. Uma partida de exibição entre os golfistas Tiger Woods e Phil Mickelson está sendo discutida, assim como partidas de exibição de tênis realizadas em moradias particulares.

Magnus disse na segunda-feira que a ESPN também estava se posicionando para estar pronta caso as ligas de esportes internacionais retomem seus jogos antes das ligas dos Estados Unidos.

“Com certeza existe uma sede de jogos ao vivo”, ele disse. “Isso pode oferecer uma oportunidade única de apresentar aos torcedores esportes e ligas que talvez não tenham tido tanta exposição até agora”.

O tênis plataforma não teve praticamente exposição alguma, mas na semana passada era o único evento ao vivo jogado em uma quadra ou campo físico que a ESPN3 exibiu.

Bob Considine, dono da paddlepro.com, ajudou a organizar o torneio de tênis plataforma com muita rapidez, e disse que tinha se preocupado em respeitar o momento e os temores dos torcedores.

“Não queríamos ir contra a sociedade”, ele disse. “Fiquei muito nervoso, na semana anterior ao torneio, questionando se estava fazendo a coisa certa”.

A despeito de jogarem atrás de cercas, os jogadores fizeram seu melhor para manter a distância. Para evitar chegar a menos de dois metros um do outro, eles jogaram partidas de simples e não duplas – que é o formato mais comum nos jogos de tênis plataforma.

Imagem do troféu da competição de tênis plataforma
Troféu do "2020 Platform Tennis World Championship" - Harry Cicma Productions

Cada jogador usava uma luva na mão que não empregava para o saque, e usava bolas que ele mesmo tinham levado, na hora do serviço. Nas mudanças de lado de quadra, eles atravessavam de lados opostos e nunca jogavam bolas para o oponente com as mãos. Em lugar disso, só as tocavam com as raquetes.

Fora da quadra, eles ficavam sentados bem longe um do outro, e nenhum espectador foi admitido. As únicas pessoas presentes fora os atletas eram os quatro membros da equipe reduzida de televisão que transmitiu o evento. Em lugar de irem com um caminhão para transmissão móvel, eles usaram a rede de internet da casa, o que significou uma transmissão cheia de falhas. Também tiveram de improvisar, depois que uma câmera fixada a uma das cercas se soltou.,

Considine subiu em uma escada e operou uma câmera pessoalmente na final. “Fiquei lá em cima por uma hora”, disse ele. “Meio assustador, para dizer a verdade –a 4,5 metros de altura, com os tenistas se chocando com as cercas”.

Para manter o número de pessoas envolvidas o mais baixo possível, os jogadores também serviam como comentaristas de TV, trabalhando com o narrador Brad Easterbrook para discutir o próximo jogo, depois de concluírem suas partidas.

As entrevistas pós-jogo foram conduzidas de uma distância considerável.

“Eu faria qualquer coisa no mundo para trocar essa situação por uma volta ao normal”, disse Harry Cicma, cuja companhia de produção independente realizou o evento e fez o acordo de transmissão com a ESPN. “Mas as pessoas que me contatavam estavam realmente tristes e deprimidas por não terem esportes ao vivo, e fiquei pensando em maneiras de fazê-lo de um jeito seguro, e sobre esportes que funcionariam nesse formato. Para o futebol americano, beisebol ou basquete, você precisa de um local público. Mas o tênis plataforma pode ser jogado em segurança na casa de alguém, nas partidas de simples, e por sorte os melhores jogadores do mundo vivem na região de Nova York”.

De acordo com Considine, existem apenas “de 100 mil a 150 mil” jogadores de tênis plataforma no mundo, quase todos eles nos Estados Unidos. O polo do esporte fica nos subúrbios de Nova York; o esporte foi inventado em Scarsdale, em 1928. O melhor jogador de tênis plataforma do planeta, Johan du Randt, veio de carro para o torneio, de sua casa em Boston.

O canadense Parsons, 40, está em terceiro no ranking mundial do esporte e disse que “vivia a menos de sete minutos de carro” do local do torneio. Como muitos dos melhores jogadores de tênis plataforma, ele foi tenista profissional no passado. Foi membro da equipe canadense na Copa Davis.

O torneio não contou com diversos dos outros líderes no ranking, entre os quais o americano Jared Palmer, 48, que liderou o ranking de duplas do tênis profissional e foi campeão de duplas em Wimbledon em 2001, com Donald Johnson.

A única pessoa envolvida com o torneio que parecia confortável com a descrição “campeonato mundial” era Cicma.

“O termo me causa engulhos [enjoos]”, disse Considine.

Embora os competidores tivessem jogado pouco nas três semanas anteriores e raramente joguem partidas de simples, Parsons conseguiu se desenferrujar e derrotou Randt, seu ex-parceiro de duplas, na final.

Quando o jogo acabou e eles se encontraram na rede, não houve aperto de mão.

Em lugar disso, eles se cumprimentaram com um toque de raquetes e recuaram rapidamente.

“Foi estranho não poder dar um abraço ou pelo menos trocar um ‘high five’ com Johan”, disse Parsons. “Jogamos juntos por muito tempo, mas espero que logo possamos voltar às coisas como eram”.

Tradução de Paulo Migliacci

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