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Brasileiro já joga futebol há um mês e se destaca em Taiwan

Luan se profissionalizou durante intercâmbio no país, referência no combate à pandemia

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São Paulo

Há pouco mais de um mês, Luan Anderson Pinheiro da Silva, 22, mandou mensagem aos seus amigos para avisar que estava prestes a voltar a jogar futebol. A reação foi de incredulidade.

“Eles queriam saber como aquilo era possível. No Brasil, estava tudo parado. Até as partidas de várzea estavam canceladas. Como o campeonato em que eu jogo iria começar?”, relembra.

O atacante Luan Anderson finaliza ao gol em partida pelo Hang Yuen FC, na liga de Taiwan
O atacante Luan Anderson finaliza ao gol em partida pelo Hang Yuen FC, na liga de Taiwan - luananderson20 no Instagram

Luan Anderson é um dos quatro brasileiros que atuam pela liga da primeira divisão de Taiwan. A ilha no extremo leste da Ásia tem 23 milhões de habitantes e área correspondente a pouco mais de 10% da do estado de São Paulo. Sua economia é 20ª maior do mundo, segundo estimativa do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Atacante do Hang Yuan FC, vice-líder do campeonato após quatro rodadas, o brasileiro está em Taiwan há três anos e deverá completar em 2021 o curso superior em gestão em turismo.

Integrante na adolescência da Fundação Filhos de Buda, projeto socioeducativo para famílias carentes criado pela Associação Internacional Luz de Buda e pelo templo Zu Lai na região de Cotia (a 35 km de São Paulo), Luan foi selecionado para projeto de intercâmbio com uma universidade de Taiwan.

Fez curso intensivo de mandarim e inglês por oito meses, as duas línguas faladas no país. As aulas na faculdade são em inglês, e ele ainda se esforça para aprender o mandarim.

“Nos jogos, com companheiros da equipe, eu tento sempre falar chinês. É complicado. Muitas vezes eu sei a palavra, mas eles não entendem porque há um jeito correto de dizê-la. Mas tenho melhorado”, se autoavalia.

O governo de Taiwan não é reconhecido pela República Popular da China. Os dois territórios se separaram em 1949, e os chineses consideram o país uma província rebelde.

Luan teve de explicar aos pais, preocupados com o fato de o filho estar a 18.800 km de distância no meio da pandemia de Covid-19, que ele na verdade estava mais seguro do que imaginavam. Tanto que pôde voltar a jogar futebol quando quase ninguém mais no mundo podia fazê-lo.

Se em Belarus e na Nicarágua as decisões de manter a vida normal e os esportes em funcionamento foram tomadas por governantes autoritários, que negam os perigos da pandemia, em Taiwan o processo ocorreu de outra forma. A nação foi uma das que responderam de maneira mais rápida e eficiente à Covid-19.

“A partir do ano novo chinês [em 25 de janeiro], Taiwan iniciou medidas mais rígidas para prevenção. Quando começaram a aparecer os casos em Wuhan [na China], as pessoas já sabiam que era questão de tempo [para chegar em Taiwan]”, afirma Luan.

Ele conta que há muitos moradores de Taipé (a capital) que viajam a trabalho para visitar parentes na China e vice-versa.

“Todo mundo começou a usar máscara, lavar a mão direto. A presidente mandou fechar os aeroportos, a multar quem estava em transporte público sem máscara e a testar o máximo de pessoas. As feiras noturnas, muito comuns aqui e que vendem de tudo, foram restritas, e as aglomerações, proibidas. Mas tudo só deu certo porque o povo de Taiwan tem uma disciplina muito grande. Eles obedecem as instruções”, completa.

Luan Anderson passa pelo marcador em jogo da primeira divisão de Taiwan
Luan Anderson passa pelo marcador em jogo da primeira divisão de Taiwan - luananderson20 no Instagram

Com a pandemia controlada, Taiwan começou a levantar as restrições no mês passado. A primeira partida da liga de futebol foi disputada em 12 de abril, com portões fechados.

Para entrar na faculdade, os alunos ainda precisam ter suas temperaturas medidas quando chegam. Se alguém estiver com febre, é mandado para casa. Máquinas com o mesmo objetivo foram colocadas nas entradas de estações de metrô e ônibus.

“Foram medidas duras, mas deram certo”, diz Luan. Até quinta-feira (7), o país registrava 440 casos de coronavírus (só um computado na semana) e seis mortes pela Covid-19.

O atleta não vê os pais, Maria do Socorro e Edmílson, há três anos. O intercâmbio lhe permite apenas uma passagem de volta, que ele pretende usar após a formatura. O contato com eles e com os seis irmãos acontece por mensagens de texto diárias e vídeo aos fins de semana.

A saudade que carrega é dos familiares e amigos, mas não exatamente do Brasil. Ele planeja seu futuro na Ásia. De preferência, no futebol. Como o campeonato em Taiwan voltou antes de todos os outros e passou a ser observado, Luan acredita poder chamar a atenção.

“Meus planos são continuar jogando aqui. Consegui me profissionalizar e posso ir para outras ligas grandes na Ásia. Posso também abrir mais portas para jogadores brasileiros em Taiwan”, projeta.

Um caminho improvável, reconhece, para o garoto que havia sonhado com o futebol, mas largado tudo porque achou melhor priorizar os estudos. Se no Brasil ele só conseguiu atuar por equipes de base, como uma seleção de Cotia, foi na Ásia que encontrou o caminho do profissionalismo e pode continuar jogando, mesmo durante a pandemia.

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