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Morte de 'Trinche' comove argentinos e alimenta sua lenda no futebol

Considerado até por Maradona o maior do país, ex-jogador morreu durante assalto

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Buenos Aires

Há 55 dias em quarentena, apenas um assunto reverberou mais do que o coronavírus na Argentina. A violenta morte de Tomás Felipe Carlovich, ou "El Trinche" Carlovich.

Ele é considerado por muitas personalidades do futebol argentino como o melhor jogador do país de todos os tempos, embora quase não existam imagens de suas jogadas.

Carlovich tinha 74 anos e foi assassinado com uma pancada na cabeça quando roubaram sua bicicleta, em Rosario, cidade onde viveu toda a sua vida, na última sexta-feira (8). Estava indo visitar uma amiga.

Argentinos interrompem quarentena para prestar homenagem a 'El Trinche' Carlovich no estádio Gabino Sosa, em Rosario
Argentinos interrompem quarentena para prestar homenagem a 'El Trinche' Carlovich no estádio Gabino Sosa, em Rosario - AFP

Entre os que alimentam a "lenda" de Carlovich está o próprio Diego Armando Maradona, que dizia: "o Trinche foi o único melhor que eu". Entre seus outros admiradores, também estão José Pekerman ("o jogador mais maravilhoso que vi jogar"), Daniel Pasarella e César Luis Menotti ("parecia que a bola tinha sido sempre seu único brinquedo").

A comoção foi tanta que, mesmo violando a quarentena, seus fãs lotaram o modesto estádio do Central Córdoba, time em que ele jogou a maior parte de sua carreira, em Rosario, para uma última homenagem.

Tanto se buscou em arquivos que apenas nesta segunda-feira (11) foram encontradas imagens da partida mais famosa que jogou. Foi em 1974, quando a seleção argentina enfrentou, em amistoso preparatório para a Copa do Mundo daquele ano, um combinado de Rosario.

Este era formado por cinco jogadores de cada grande equipe grande da cidade —Newell's Old Boys e o Rosario Central— e um da terceira equipe, no caso, o Central Córdoba. Carlovich foi esse jogador, vestiu a camisa cinco e fez jogadas que impressionaram os argentinos. Rosario venceu o jogo por 3 a 1.

Homenagem a Carlovich no estádio do Central Cordoba
Homenagem a Carlovich no estádio do Central Cordoba - AFP

Antes da Copa de 1978, Carlovich havia sido convocado para jogar na seleção argentina por uma partida.

Mas, segundo o técnico, Menotti, não tinha aparecido para os treinos porque "preferia ir pescar". Parte da lenda sobre Carlovich é justamente essa, o fato de que para ele nem os títulos nem atuar pela seleção eram importantes. Jogava por prazer e era muito indisciplinado para treinar.

Sua habilidade era tão grande que irritava os técnicos. Sua jogada mais famosa era um "drible duplo", que consistia em passar a bola no meio das pernas do adversário (a popular "caneta"), voltar e driblar de novo, apenas pelo gosto de fazer isso, mas não porque era mais eficiente para a estratégia do time —pelo contrário.

"Ele gostava mais de ser jogador de futebol do que ser um profissional", definiu Menotti.

O cronista esportivo Edgardo Martolio, que viu Carlovich jogar, assim o descreve: "Ele tinha 100% de domínio da bola. Era um artista, um grande individualista. Fazia com a bola o que poucos na história do futebol fizeram".

Carlovich foi o sétimo de sete irmãos, filhos de um encanador croata que havia ido para a Argentina e se instalado em Rosario. Começou a jogar pelo Rosario Central e passou apenas por clubes menos conhecidos, como o Independiente Rivadavia, o Deportivo Maipú e o Central Córdoba, onde estreou em 1972.

Depois de aposentado, continuou vivendo em Rosario, na mesma casa em que nasceu, e corria a cidade de bicicleta, sendo aclamado pelos que o conheciam ou ao menos sabiam a lenda sobre ele. Seu último passeio, porém, foi interrompido de forma trágica.

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