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Tênis começa a voltar em jogos sem público e com muitas precauções

Pequeno torneio foi jogado neste fim de semana na Alemanha, e outros estão previstos

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Christopher Clarey
The New York Times

O americano Tennys Sandgren, que vinha em ótima fase antes que o tênis profissional paralisasse os seus torneios, se cansou de videogames e do isolamento que adotou em sua casa, perto de Nashville, no Tennessee (EUA).

“Eu jogaria tênis até com um traje de proteção contra contaminação, só para poder competir”, ele disse na noite de quarta-feira (29).

Medidas extremas como essas não serão necessárias. Ele só precisará aguentar uma vagem rodoviária de 12 horas, na semana que vem. Sandgren planeja viajar de carro a West Palm Beach, na Flórida, para jogar na UTR Pro Match Series, a primeira, mas nem de longe a última, série de partidas de exibição para tenistas de primeiro nível a ser disputada na era do coronavírus.

O tenista norte-americano Tennys Sandgren
O tenista norte-americano Tennys Sandgren - Richard Heathcote - 28.aug.17/AFP

O americano Sandgren, que teve sete match points nas quartas de final do Australian Open em janeiro antes de ser derrotado por Roger Federer, tem partidas marcadas para os dias 8 a 10 de maio, contra o italiano Matteo Berrettini e os americanos Reilly Opelka e Tommy Paul, dois tenistas em ascensão.

Berrettini, o oitavo colocado no ranking da ATP, chegou de surpresa à semifinal do Aberto do US Open, em setembro do ano passado. Opelka ocupa o 39º lugar no ranking, com Sandgren em 55º e Paul em 57º.

As partidas, que serão disputadas em uma quadra particular de piso sintético e transmitidas pelo Tennis Channel, serão de simples, exclusivamente, e não terão espectadores ao vivo; apenas um árbitro acompanhará os jogos, para respeitar os requisitos de distanciamento social.

“Estamos tentando reconduzir o tênis profissional à programação de TV, e estamos fazendo isso de um modo altamente seguro”, disse Mark Leschly, presidente-executivo da Universal Tennis, a plataforma de classificação e organização para o tênis que está promovendo o evento.

As partidas são parte de uma onda de competições que tentam ocupar parte do vácuo criado pela ausência dos circuitos da ATP e da WTA, que estão paralisados por pelo menos quatro meses por conta da pandemia.

A International Tennis Series, um pacote de partidas de tênis masculino entre tenistas abaixo do 100º posto do ranking, que jogam todos contra todos, está sendo transmitida online pela ESPN3 desde a metade de abril, de outra quadra particular na Flórida.

A maior parte dos jogos está sendo transmitida com uma só câmera, fixa, e sem comentários; o barulho dos carros do lado de fora e os resmungos dos jogadores fornecem a maior parte da trilha sonora.

Dustin Brown, um profissional alemão de estilo vistoso que certa vez derrotou Rafael Nadal em Wimbledon, mas caiu para o 239º posto no ranking, neste final de semana tomou parte da disputa do primeiro de uma série de eventos de exibição na Alemanha, em um clube na cidade de Höhr-Grenzhausen. Ele enfrentará um grupo de jogadores com posições ainda mais baixas no ranking.

Patrick Mouratoglou, o francês que treina Serena Williams, anunciou uma série de eventos chamada Ultimate Tennis Showdown, que vai começar mais tarde em maio em sua academia de tênis perto de Nice.

Mouratoglou disse que David Goffin, o 10º colocado no ranking da ATP, havia aceitado o convite para participar do primeiro desses eventos, em companhia de Alexei Popyrin, um promissor tenista australiano que ocupa a 103ª posição no ranking e cujo pai teve a ideia inicial para a série.

O evento está sendo organizado de forma a atrair uma audiência mais jovem, e instruções dos treinadores aos tenistas durante os jogos estão autorizadas. As normas quanto ao comportamento dos atletas também são mais flexíveis do que as adotadas nos torneios da ATP.

Rafael Nadal também discutiu a possibilidade de transmitir partidas de exibição de sua academia em Mallorca, Espanha, assim que as restrições do governo passarem a permiti-lo.

A série da UTR vai continuar com um evento feminino entre os dias 22 e 24 de maio em West Palm Beach, com Alison Riske, a 19ª do ranking, enfrentando Amanda Anisimova (28ª), Danielle Collins (51ª) e Ajla Tomljanovic (56ª).

Existem muitos outros projetos como esses.

Tenista de máscara carrega seu equipamento de jogo atrás de uma rede
O tenista alemão Benjamin Hassan participa de pequeno torneio em academia de Hoehr-Grenzhausen - Wolfgang Rattay - 2.mai.20/Reuters

Eles refletem o paradoxo de que o tênis é um esporte que pode ser praticado com alguma facilidade sob as normas de distanciamento social, mas ao mesmo tempo difícil de reiniciar no nível dos circuitos, por conta de seu elenco internacional e da necessidade de os jogadores, dirigentes e árbitros atravessarem fronteiras com frequência, em todo o mundo.

Em pequena escala, os riscos são mínimos. Existe pouca chance de contato corporal direto ou mesmo aproximado quando dois jogadores se enfrentam. Os apertos de mão podem ser evitados, e os jogadores podem mudar de lado caminhando por laterais opostas da quadra. Cada jogador tem um conjunto de bolas separado para seus saques, o que reduz –embora não elimine—, o risco de contaminação que poderia haver por os dois jogadores manusearem a mesma bola.

“O ambiente pode ser bem mais controlado”, disse Sandgren. “Há muito menos jogadores e muito menos coisas paralelas acontecendo, e por isso é possível tomar precauções mais extensas."

Tanto a ATP quando a WTA planejam manter suas paralisações até no mínimo o dia 13 de julho, e o restante da temporada de 2020 também continua em dúvida, o que inclui o US Open, marcado para os dias 31 de agosto a 13 de setembro.

Andrea Gaudenzi, o presidente do conselho da ATP, disse na semana passada que uma decisão sobre os eventos em julho seria tomada até o dia 15 de maio. Quanto aos eventos de agosto, a decisão sairá até o dia 1º de junho. Mike Dowse, o presidente-executivo da Associação de Tênis dos Estados Unidos, disse que a organização decidirá em algum momento de junho se o US Open irá em frente.

Dowse disse que realizar o torneio sem espectadores era uma opção, embora desagradável em termos de atmosfera e da perda de faturamento com a venda de ingressos e camarotes. Mas o circuito de torneios de exibição que está se expandindo certamente representa uma oportunidade para que as pessoas do esporte vejam como os torneios funcionarão sob as novas condições.

“O mundo mudou, e precisamos nos adaptar e inovar”, disse Leschly. “Partidas locais, individuais e torneios entre pequenos grupos serão o novo normal, pelo futuro previsível."

Os jogadores mesmos decidirão se suas jogadas saíram da quadra, e o árbitro de cadeira terá o direito de reverter essas chamadas.

A quadra será desinfetada entre partidas. Ainda que os eventos não gerem pontos para a ATP, os resultados contarão para a posição dos tenistas no ranking Universal Tennis Rating, um sistema que se tornou rapidamente um ponto de referência nas divisões juniores e universitárias do esporte e vem sendo incorporado a algumas coberturas do tênis profissional, em parte por conta da parceria comercial entre o Tennis Channel e a UTR.

Os prêmios modestos e, no caso de alguns jogadores, cachês por presença também representam a oportunidade de faturar, para os tenistas que ficaram sem renda, especialmente aqueles cujas posições no ranking da ATP são mais baixas.

“Não é grande coisa, um total de alguns milhares de dólares em prêmios por dia”, disse Harry Cicma, o organizador da International Tennis Series, que organiza torneios de exibição entre quatro tenistas, todos jogando contra todos. “Mas não é tão pouco se considerarmos que haverá eventos como esses todos os dias por quatro meses."

O tênis está preocupado com a falta de participantes e com o envelhecimento de seu público, e os novos eventos representam uma oportunidade de colocar competições ao vivo nas telas antes dos demais esportes.

Mas os eventos criam preocupações quanto à integridade. A maioria dessas partidas está aberta a apostas. Ainda que os eventos não sejam considerados oficiais, os jogadores em nível de ATP que participarem, como Berrettini e Sandgren, continuarão sob a jurisdição da Unidade de Integridade no Tênis, que investiga manipulação de resultados e outros delitos associados a apostas.

Em mensagem encaminhada aos jogadores, treinadores e agentes no dia 15 de abril, a ATP advertiu que existe “um risco elevado de corrupção e de abordagens corruptas, em alguns desses ambientes”. A mensagem também lembrava aos jogadores que eles não podem trabalhar para ou receber patrocínio de empresas de aposta.

“Eles continuarão sujeitos às regras de combate à corrupção e a Unidade de Integridade no Tênis divulgou orientações quanto a isso”, disse Mark Harrison, um porta-voz da unidade, na quinta-feira. “É vital que, à medida que comecem a aparecer novos eventos como esses, eles encarem a integridade como uma prioridade central e inegociável."

Alguns jogadores amadores e muitos profissionais continuaram a jogar em quadras particulares, entre os quais Sandgren, que tem uma quadra nos fundos de sua casa, que passou por uma reforma recente.

“Normalmente, treino na Universidade Vanderbilt, mas as quadras de lá estão fechadas”, disse Sandgren, que passou as últimas semanas sozinho em casa e até fez um curso aberto de neurociência da Universidade Harvard. No entanto, o mundo virtual tem limites. É hora de desfrutar das diversões do mundo real, depois de uma longa viagem de carro.

“Gosto de videogames, mas estou começando a me cansar deles”, disse Sandgren. “Quando começamos a quarentena, eu jogava 10 horas sem parar, mas agora, depois de15 minutos, logo penso que ‘é, acabou a dopamina que isso me dava’”.

Tradução de Paulo Migliacci

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