O sueco Zlatan Ibrahimovic é o craque mais nômade do futebol do século 21, com títulos conquistados na Suécia, Holanda, Itália, França, Espanha e nos Estados Unidos. Nunca escondeu sua admiração pelo técnico português José Mourinho nem os problemas com o espanhol Pep Guardiola.
No fim da temporada 2008/09, porém, Ibra informou Mourinho sobre sua transferência para o Barcelona. O livro “Mourinho, Rockstar” relata o diálogo entre os dois.
“Você vai para o Barcelona para vencer a Champions, não é?", perguntou o português. O craque sueco respondeu que sim, no que o treinador revidou: “Mas quem vai ganhar a Champions somos nós".
Isso de fato ocorreu, há dez anos, em 22 de maio de 2010, no estádio espanhol Santiago Bernabéu, com uma vitória por 2 a 0 sobre o Bayern de Munique.
Foi a única conquista de um troféu internacional por um time formado por onze titulares estrangeiros: Júlio César (Brasil), Maicon (Brasil), Lúcio (Brasil), Samuel (Argentina), Chivu (Romênia); Cambiasso (Argentina), Zanetti (Argentina); Eto’o (Camarões), Sneijder (Holanda), Pandev (Macedônia); Diego Milito (Argentina). Todos sob o comando do português.
“A primeira coisa para jogar fora de seu país é adaptar-se e aprender o idioma. Mas num time assim é fundamental a liderança, que o Mourinho tinha”, diz o goleiro Júlio César.
A incrível coincidência de o único campeão da Champions 100% estrangeiro ser o time de nome Internazionale serviu como a vitória da globalização, 15 anos depois da sentença Bosman.
Em 15 de dezembro de 1995, a corte europeia deu ganho de causa ao jogador belga Jean-Marc Bosman, que cinco anos antes havia entrado em disputa com o clube Liège para tentar uma transferência ao francês Dunkerque.
A corte, então, definiu que atletas em fim de contrato estavam livres do vínculo com seus clubes e poderiam atuar em qualquer país da União Europeia, como um engenheiro, advogado ou médico já podiam fazer.
Ao final da temporada 1995/96, a Juventus foi campeã com apenas dois estrangeiros. Na temporada seguinte, o Borussia Dortmund venceu com três. Em 1998, o Real Madrid tinha sete titulares sem passaporte espanhol.
Os efeitos do fim das fronteiras foi rápido. Em 2000, jogadores brasileiros, como Dida e Cafu, foram investigados por utilização de passaporte italiano. O goleiro foi condenado e cumpriu pena em liberdade.
A Itália teve restrição a estrangeiros de 1966 a 1980. Na reabertura, cada um dos 16 clubes da elite podia contratar um jogador de fora do país. O mercado se abriu para dois na temporada 1982/83 e para três em 1988/89. Nessa época, os forasteiros representavam 14% da Série A. Em 2009/10, eram 41%.
O noticiário do dia da final vencida pela Internazionale contra o Bayern, em Madri, dizia que, apesar de virem de vários outros países, os jogadores só tinham autorização para assistir a programas esportivos em italiano.
“Isso é lenda. Nunca existiu”, diz Júlio César. “Falávamos italiano, mas quando alguém não entendia algo o Mourinho falava em inglês com o Sneijder, em francês com o Eto’o, por exemplo”, lembra o goleiro.
O primeiro clube grande da Europa a jogar com 11 estrangeiros foi o Chelsea. Em 26 de dezembro de 1999, venceu o Southampton por 2 a 1, sem nenhum inglês escalado. O técnico era o italiano Gianluca Vialli. Naquela temporada, o Chelsea ficou em quinto lugar no Campeonato Inglês.
A partir de 2005, o Arsenal escalou 11 estrangeiros. Mas não foi campeão assim. Nunca antes da Inter, nem depois, a Champions League teve um campeão tão globalizado. Na temporada seguinte ao sucesso dos nômades de Mourinho, o Barcelona foi campeão com sete espanhóis.
Os mais próximos da marca interista foram o Real Madrid, em 2016, e o Liverpool, em 2019, vencedores com nove estrangeiros.
Na última final, também em Madri, o técnico alemão Jurgen Klopp utilizou dois ingleses: o lateral Alexander-Arnold e o meia Henderson.
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