Vascaíno, Aldir Blanc compôs e cantou o amor pelo clube cruzmaltino

Morto aos 73, músico escreveu sobre Roberto Dinamite e Romário em suas canções

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São Paulo

Entre as mais de 600 letras que compôs ao longo de cinco décadas de atividade, o cantor e compositor carioca Aldir Blanc, que morreu nesta segunda-feira (4) aos 73 anos, vítima da Covid-19, também encontrou espaço em sua obra musical para expressar, na forma de versos e estrofes, o amor que sentia pelo clube do coração.

"Se for para a segunda divisão, sou Vasco. Se for para a terceira, sou Vasco. Se o Vasco acabar, ainda sou Vasco", disse o letrista, em entrevista ao jornal O Globo, em 2008, ano do primeiro rebaixamento cruzmaltino para a Série B do Campeonato Brasileiro.

Da parceria histórica com João Bosco, flamenguista até a medula, surgiram algumas das mais importantes canções da música popular brasileira. "Não existe João sem Aldir", afirmou João Bosco sobre a morte do amigo. Assim como não há Vasco sem Flamengo, e vice-versa.

Juntos, compuseram "Gol anulado", que começa com o som de torcedores no estádio e conta a agressão de um homem contra sua esposa quando descobre que ela, ao contrário do que ele imaginava, torce pelo Flamengo.

"O pivô da discussão foi um gol do Zico", escreveu o jornalista Beto Xavier no livro "Futebol no país da música", em capítulo dedicado às canções com pano de fundo vascaíno.

Com João Bosco, o letrista também homenageou o ídolo Roberto Dinamite, em "Siri recheado e o cacete".

No fim da década de 1980, a dupla desfez a parceria. Além das crônicas e dos livros que escreveu sobre o Vasco, Aldir Blanc manteve sua produção musical ligada ao futebol, encaixando nas músicas interpretadas pelos amigos alguma referência, mesmo que pequena, ao clube do coração.

Com Guinga, também cruzmaltino, compôs uma série de canções, entre elas "Yes, Zé-Manés", que homenageia Romário, lançada no disco "Cine Baronesa".

Para a Copa de 1994, compôs ao lado de Tavito Carvalho, que morreu em 2019, a música "Coração Verde e Amarelo", tema da Globo para o Mundial dos Estados Unidos.

Em 1996, quando publicou o CD em comemoração aos seus 50 anos, a revista que acompanhava o disco tinha uma foto, em página dupla, de Aldir abraçado ao também vascaíno Paulinho da Viola.

O sambista, ao contrário de Blanc, não transferiu para a sua música a paixão pelo clube. Mas tratou de homenagear o amigo, com quem dividiu glórias e decepções com o time de São Januário. Na canção "Memórias conjugais", um samba sobre a depressão, Paulinho da Viola encerra com um abraço carinhoso.

"Meu caro amigo e poeta Aldir Blanc, este maxixe é dedicado a você, com todo carinho, como presente de aniversário. Saudações cruzmaltinas do Paulinho."

Gol anulado

"'Gol anulado' é e sempre será referência imediata na música de futebol", escreve o jornalista Beto Xavier, especialista na relação entre o mundo da bola e as canções. Interpretada por João Bosco, a canção de letra machista faz parte do álbum "Galos de briga", de 1976.

Quando você gritou Mengo / No segundo gol do Zico /
Tirei sem pensar o cinto / E bati até cansar /
Três anos vivendo juntos / E eu sempre disse contente / Minha preta é uma rainha / Porque não teme o batente /
​Se garante na cozinha / E ainda é Vasco doente /

Siri recheado e o cacete

Também composta em parceria com João Bosco, figura no disco "Bandalhismo", de 1980. Aldir Blanc presta sua homenagem ao ídolo Roberto Dinamite, a quem inclusive apoiou nas eleições para presidente do Vasco em 2008.

​O Anescar chegou com uma de alambique /
Me perguntou se eu era Mendonça ou Dinamite /
Abri uma lourinha, trouxe um prato de croquete /
O Anescar mordeu um, feito que come gilete /

Seduzir

Além de João Bosco, Blanc também tabelou com outro flamenguista ilustre: Djavan. Na faixa "Êxtase", do disco "Seduzir", de 1981, Djavan abre a música composta por Aldir dizendo que o personagem da canção está "doido em um jogo do Vasco". Quando pronuncia "Vasco", ele prolonga o "ô" do nome do clube, como a torcida nas arquibancadas de São Januário.

Eu devia ter sentido o teu rancor /
Mas tava doido num jogo do Vasco-ô-ô-ô-ô /
Eu fiquei cego na estrada de damasco /
​E armei num botequim, virei a mesa /
​Tava em êxtase que nem santa teresa /

Yes, Zé Manés

Em "Yes, Zé Manés", do álbum "Cine Baronesa", de 2001, Blanc compõe a letra com a parceria do também vascaíno Guinga. A canção, interpretada pelo tricolor Chico Buarque, homenageia o atacante Romário, ídolo do clube cruzmaltino.

Tô correndo atrás de uns cobres pra comprar /
Presente pra você, my love / Contigo eu sei que sou /
​I know, my soul / Romário em frente ao gol /

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