Como e por que torcidas organizadas realizaram ato pró-democracia

Protesto na avenida Paulista reuniu grupos ligados a diferentes clubes de São Paulo

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Gabriela Sá Pessoa José Edgar de Matos
São Paulo | UOL

Torcedores de diversos grupos organizados dos quatro grande clubes paulistas —Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo— ocuparam parte da avenida Paulista durante a tarde deste domingo (31).

Membros de torcidas mais conhecidas e braços antifascistas delas se uniram em marcha pela defesa da democracia. Estima-se que havia entre 2.000 e 4.000 pessoas no movimento.

O ato reuniu membros da Gaviões da Fiel, Mancha Alviverde, Independente, Torcida Jovem do Santos, Palmeiras Antifascista, Democracia Corintiana, Porcomunas, além de outros grupos.

A manifestação, que levantava bandeiras democráticas e também assimilou pautas contra o governo federal, terminou por volta das 14h, quando a Polícia Militar de São Paulo disparou bombas de efeito moral e balas de borracha.

"A gente nota na torcida que a paciência esgotou. Causa revolta ver o presidente falar de gripezinha e de cloroquina. Não é uma posição oficial da Gaviões, mas grande parte da torcida está revoltada. Foram 12 sócios mortos por Covid-19... Não é só com nota oficial que se pode reagir a esse ataque diário contra a democracia", disse Chico Malfitani, um dos fundadores da Gaviões de Fiel e presente na manifestação.

"Nossa ideia agora é ser um 'gatilho de pólvora'. É riscar o primeiro fósforo, já que os partidos de oposição e movimentos populares não se manifestam. Entendemos que tem pandemia, mas chega uma hora que temos que mostrar que o povo quer democracia. Nós somos 70%. Não é possível que 30% vão impor vontade de ditadura militar. A Gaviões foi fundada na ditadura, sabemos o que é isso", acrescentou.

O grupo responsável pelo protesto reúne diversas lideranças e membros de movimentos organizados do futebol —sem barreiras por suas preferências clubísticas. Em tempos de pandemia, o diálogo é realizado pelas redes sociais e quer abranger o máximo possível de torcedores.

A manifestação teve a primeira faísca há algumas semanas, quando aproximadamente 60 torcedores do Corinthians compareceram à avenida Paulista como oposição a um grupo de apoiadores do presidente da República que planejava ato no local.

"Para a gente era uma questão de autoafirmação. Pensamos que precisávamos ir, e surgiu a ideia entre os grupos. Alguns já estavam falando com pessoal da Democracia Corintiana de fazer esse protesto e alinharam. A ala da Gaviões sabia que iríamos. Tinha data e horário, quando chegamos lá tinham umas 3.000 pessoas", relatou Gabriel Santoro, palmeirense presente no ato deste domingo.

Há relatos de movimentos em 14 estados, segundo informou Alex Sandro Gomes, o Minduín, presidente da Anatorg (Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil), ao UOL Esporte.

Para o presidente do grupo, que reúne 214 organizadas, o ato ratifica a importância de se discutir política no esporte. Minduín defende a ideia de que a passeata sirva como ponto de partida para um crescente movimento.

"Não é um movimento de esquerda, centro ou direita, como querem colocar. É movimento contra a crescente do movimento fascista do país. É movimento contra os ultradireitistas. Hoje ficou muito clara a presença maciça de ultraconservadores no meio dos manifestantes bolsonaristas, com até bandeira neonazista ucraniana. Aqui no Brasil é crime usar bandeira com a suástica, então só substituíram", afirmou.

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