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Ex-número 1 do Brasil no tênis, Rogerinho 'volta ao início' da carreira

Recuperado de lesão, veterano treina com recursos próprios e mira ascensão no ranking

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São Paulo

O começo de 2019 trouxe esperanças para o tenista Rogério Dutra Silva, 36, de que voltaria a ter uma boa temporada. A conquista do challenger de Playford, disputado na quadra dura da Austrália, no dia 5 de janeiro, interrompeu um jejum de dois anos sem títulos e elevou sua posição no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) para o número 134.

O ex-número 1 país, que em 2017 conquistou o Brasil Open nas duplas e chegou a ser o 63º do mundo em simples, não conseguiu manter a boa fase, em meio a dores no ombro direito. No período, ele também amargou a perda da sogra, que morreu de câncer.

Rogerinho decidiu dar um tempo na carreira em setembro do ano passado e viu o segundo filho nascer em dezembro. O retorno às quadras estava marcado para março deste ano. “Preferi dar uma parada no tênis e voltar quando me sentisse 100%”, diz o atleta.

A pandemia de Covid-19, porém, mudou seus planos. O circuito profissional foi interrompido no início de março, e a previsão é que ele seja retomado no meio de agosto.

O período afastado por lesão o fez despencar para o 424º lugar no ranking, que está congelado desde a suspensão do circuito.

Como Rogerinho não tinha pontuação para se inscrever no Masters 1.000 de Indian Wells (que acabou cancelado), resolveu viajar de Santa Bárbara D’Oeste, no interior paulista, para a Califórnia apenas para treinar e se reencontrar com o clima dos torneios.

Ele voltaria a jogar no challenger de Phoenix, que começaria no dia 16 de março. Na sequência, planejava competir no México e voltaria para os Estados Unidos para o qualificatório do ATP 250 de Houston.

Nada disso foi possível. “Consegui ficar duas semanas treinando com jogadores de alto nível em Indian Wells e um período em Los Angeles. Mas, quando a pandemia se confirmou de vez, resolvi voltar para minha casa”, afirma o tenista, que lamenta: “Eu acredito que estava pronto para retomar meu jogo".

Desde então, ele não obteve novas premiações. Conseguiu retornar às quadras em junho e hoje treina sem o auxílio de um técnico e com recursos próprios, além da ajuda de um amigo, tenista amador de 22 anos, como sparring.

“É como uma volta ao começo da carreira. Acredito que ainda tenho tempo para voltar a uma posição bacana no ranking", afirma o veterano.

O tenista, que desde o começo dos anos 2010 apostou em treinadores argentinos, se vê impossibilitado de contratar um profissional. Ele trabalhou por cinco anos com Andres Schneiter, teve uma breve passagem com Fabian Blengino e, por último, esteve com Francisco Yunis, de 2018 ao começo de 2019.

"Meus últimos técnicos são argentinos, e trazê-los agora na pandemia é inviável", diz. "Estou querendo bastante [voltar] e, se eu não fizer por mim, ninguém fará."

A carreira de Rogerinho sempre foi construída superando dificuldades financeiras. Boleiro desde os seis anos, ele treinou com o pai, Eulício Teodózio da Silva, até os 14 anos. Somente a partir daí começou a praticar o esporte em academia, com foco também na sua preparação física, e participou de poucos torneios de base.

Para conseguir recursos e se lançar nas competições, o tenista dava aulas para crianças e jovens e também trabalhou como sparring de profissionais.

Decidiu ir para a Europa com o objetivo de aproveitar o número maior de torneios em comparação ao Brasil e ganhar posições no ranking. Com pouco dinheiro no bolso, disputava eventos interclubes em troca de moradia em Portugal e por quase três meses se alimentou à base de lasanha congelada, como contou ao Globoesporte em 2017. O produto custava um euro nos supermercados.

"Acreditava no meu potencial e fazia o que precisava para realizar o meu sonho de ser top 100 do mundo, como a história da lasanha. Óbvio que, tendo um suporte desde cedo, há mais chances de conquistar, só que fico orgulhoso de tudo", diz o paulista. "O tênis me deu tudo, muitas viagens que não imaginava que aconteceria e me ajudou muito financeiramente."

Rogério Dutra Silva, ex-número 1 do Brasil, durante jogo do US Open em 2017 - Matthew Stockman - 28.ago.2017/AFP

Ao longo de 17 anos de carreira, o paulista acumulou US$ 1,8 milhão (R$ 9,6 milhões em valores de hoje) em premiações. Ele sempre frisa que uma parte desse valor é destinada para cobrir gastos com viagens e hospedagens, além de arcar com salários da comissão técnica.

“[A pandemia] é uma situação que ocorreu em todo o mundo e é o momento de reavaliar como está a sua vida. Apesar de ser uma coisa bastante negativa, precisamos tirar pontos positivos, e no meu caso é ficar com a família, meus dois filhos e a minha esposa", diz.

Agora, Rogerinho planeja voltar ao circuito com o foco nos torneios de duplas, a princípio. A partir daí, fará um balanço sobre a possibilidade de voltar às chaves de simples. “A dupla poderá me dar um ano de alto nível, foi onde ganhei o Brasil Open há três anos e tive bons resultados. Vejo com bons olhos para começar a minha retomada", completa.

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