Fase vencedora do Flamengo será usada por políticos em eleição no Rio

Gestores ligados ao clube querem transformar euforia da torcida em apoio eleitoral

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São Paulo

Dirigentes que tiveram papel na construção da atual fase vitoriosa do Flamengo tentarão pegar carona na euforia da torcida na eleição municipal do Rio de Janeiro.

O ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello (Rede) e o ex-CEO do clube Fred Luz (Novo) são pré-candidatos a prefeito. O atual vice-presidente de Futebol, Marcos Braz (PL), cogita sair para vereador ou vice na chapa de Eduardo Paes (DEM).

Essa politização do Flamengo vem na esteira do alinhamento ao presidente Jair Bolsonaro, que incluiu a medida provisória que muda a negociação de direitos de TV, vista como benéfica ao clube.

Agora, entra em campo a “história de sucesso” do Flamengo como modelo para uma cidade desarrumada.

Comandante do clube entre 2013 e 2018, Bandeira é creditado como responsável por colocar as contas em dia e semear a atual fase vencedora. Em suas redes, ele usa uma foto da massa rubro-negra e a hashtag #ORioEmOutroPatamar, referência ao bordão da equipe.

“Não dá para esconder minha ligação com o Flamengo. Se não fosse a experiência no clube, com certeza eu não estaria nesse projeto eleitoral”, diz.

Segundo ele, é possível fazer uma analogia entre o Flamengo anterior à sua gestão e a condição atual do município. “São várias semelhanças. A situação das contas do clube era catastrófica. Devia salário, tinha renda penhorada, ninguém acreditava no time”, afirma.

A associação também pode lhe trazer problemas, em razão do incêndio no Ninho do Urubu, em 2019, que deixou dez atletas mortos. O ex-presidente deve ser denunciado pelo Ministério Público por omissão na construção das instalações que pegaram fogo. Ele nega responsabilidade.

Bandeira diz que para resgatar o Flamengo formou um time de profissionais. Um deles era Fred Luz, que exerceu o cargo de diretor-executivo em sua gestão. Agora adversário do ex-chefe, também reivindica parte do sucesso do clube.

“O que nós pregamos no Rio de Janeiro é o que foi feito no Flamengo: choque de gestão e tolerância zero com a má conduta”, afirma Luz, egresso da iniciativa privada.

Embora digam ter boa relação, Bandeira e Luz descartam aliança. Também dizem acreditar que a vinculação ao rubro-negro não afastará eleitores de outros clubes. “Não existe isso de ser candidato do Flamengo, sou candidato da cidade inteira. O clube entra como parte de minha experiência de gestão”, afirma Luz.

O Flamengo é de longe a maior torcida da cidade. Uma pesquisa do Ibope de 2014 revelou que 48% da população carioca o apoia. Nacionalmente, tem 20% dos torcedores, segundo levantamento do Datafolha do ano passado.

Esse capital tem impulsionado o nome de Marcos Braz, responsável pelas contratações de estrelas como Jorge Jesus e Gabigol, para a disputa.

No início de junho, Paes confirmou a possibilidade de ter o atual dirigente, que foi seu secretário de Esportes na prefeitura, como vice. “O Marcos Braz é um cara que eu adoro, um cara maravilhoso. Mas não tem nada definido”, disse. Procurados, Paes e Braz não quiseram se manifestar.

Presidente municipal do PL, partido de Braz, Nilton Caldeira diz que o dirigente já manifestou a intenção de disputar a eleição e que a ligação com o Flamengo o torna um “ótimo candidato”, seja a vice-prefeito ou a vereador.

“O carioca, o brasileiro, é apaixonado por futebol. A gente vê o Flamengo botando milhões de pessoas para assistir a um jogo no YouTube, tem que levar isso em conta”, afirma.

Torcedores do flamengo durante final do Mundial de Clubes disputada contra o Liverpool, no Qatar, no ano passado - Giuseppe Cacace/AFP

O envolvimento do Flamengo com a política não é inédito, afirma Renato Coutinho, professor do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense e autor de “Um Flamengo Grande, um Brasil Maior” (editora 7 Letras).

Ele lembra os casos dos ex-presidentes Marcio Braga, que foi deputado federal nos anos 1980, e Patrícia Amorim, vereadora entre 2000 e 2012.

“O Flamengo, ao longo do seu processo de profissionalização, se valeu de um discurso nacionalista e se aproximou de governos para obter ganhos patrimoniais”, afirma ele.

Segundo Coutinho, a imagem de sucesso projetada pelo clube tem um lado B. “As últimas gestões foram associadas aos temas financeiro e esportivo, mas também muito marcadas por um debate sobre a elitização do Flamengo. Há um certo afastamento dos símbolos que compuseram a identidade popular do clube, no encarecimento de ingressos, por exemplo. Isso não foi ignorado pela torcida”, diz.

Procurada, a direção do clube não quis comentar.

Um alvo óbvio dos candidatos são as influentes torcidas organizadas. Diretor da Torcida Jovem, uma das principais, Rafael Vigarinho diz que “com certeza” gostaria de ver eleitos políticos ligados ao clube.

“Entre esses nomes aí, se fosse para escolher hoje, seria o Braz, que sempre nos ajudou quando pôde. Mas primeiro temos que ouvir as propostas”, disse ele, cuja entidade conta 5.000 associados.

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