A transmissão da final da Taça Rio, na noite desta quarta-feira (8), gerou repercussão e milhões de acessos ao canal do Fluminense no YouTube.
Com picos de cerca de 3,6 milhões de acessos simultâneos, a exibição da FluTV foi a live mais vista da história da internet no Brasil, superando recorde de um show da cantora Marília Mendonça.
As discussões nas redes sociais sobre o modelo clubista de narração e comentários não surpreendeu a diretoria do clube, que projetou fazer um trabalho voltado para os seus torcedores e impulsionar o número de assinantes do canal. O clube começou a transmissão com 222 mil inscritos e terminou com 425 mil.
Em campo, a equipe tricolor venceu o Flamengo nos pênaltis (após empate em 1 a 1) e ganhou o direito de decidir o Estadual em dois jogos contra o mesmo rival. O primeiro será no próximo domingo (12), e o segundo, na quarta (15).
A final da Taça Rio superou também o pico de 2,1 milhões de acessos simultâneos obtidos pela FlaTV na partida do time rubro-negro contra o Boavista, exibida no último dia 1º.
No Fla-Flu desta quarta, chamou a atenção nas redes sociais a narração de Anderson Cardoso, conhecido no Rio de Janeiro por ter trabalhado na rádio Transamérica e que já havia feito outras narrações para o clube (apenas com áudio). O comentarista foi Marcello Pires, e os repórteres, Cláudia Magalhães e Rogério Ribeiro. Eles não são funcionários da agremiação e fazem trabalhos pontuais.
Cardoso evitou falar o nome dos jogadores do Flamengo no primeiro tempo e passou a citá-los de maneira esporádica após o intervalo. Ex-Fluminense, Pedro não foi identificado ao fazer o gol do rival.
Ignorar o nome dos adversários não foi uma decisão do narrador, mas sim do próprio Fluminense. A diretoria considerou que essa seria uma forma de aproximar a transmissão dos seus torcedores e agradá-los, embora a exibição no YouTube fosse aberta a todos.
Em geral, a atitude foi classificada como falta de respeito por flamenguistas que assistiam ao jogo e elogiada por tricolores. Quem não torcia para nenhuma das equipes não teve a opção de acompanhar o jogo com uma narração isenta.
Os rubro-negros começaram a fazer campanha para que internautas clicassem no botão de “não gostei" da transmissão do YouTube, em sinal de reprovação. Foram 436 mil rejeições contra 400 mil pessoas que clicaram no sinal de aprovação.
O clubismo da transmissão apareceu também nas cobranças de pênalti. Quando o chute de Michel Araújo bateu no travessão e depois no gramado, o narrador insistiu que a bola havia quicado dentro do gol, mesmo com o replay mostrando que aquilo não havia acontecido.
A FluTV também não exibiu imagens de discussões acaloradas entre jogadores das duas equipes no meio de campo durante a decisão por pênaltis.
Nos comentários e dados dos repórteres, a transmissão foi mais equilibrada. Teve análise também de aspectos táticos da equipe comandada por Jorge Jesus e informações sobre a troca de provocações entre Rafinha, do Flamengo, e jogadores do Fluminense.
A diretoria tricolor esperava que as críticas acontecessem, mas acredita que a transmissão deva ser feita para a sua torcida e pretende manter a fórmula no domingo, quando acontecerá a primeira partida da decisão do estadual, com mando do clube das Laranjeiras.
O Fluminense vendeu ingressos simbólicos para a final da Taça Rio e, durante a transmissão, torcedores pagaram para que suas mensagens tivessem destaque na coluna do chat do YouTube. Inclusive flamenguistas, em geral para provocar e ofender o rival.
O clube tricolor não divulgou quanto foi arrecadado. O dinheiro obtido com as "entradas virtuais" será revertido em cestas básicas para comunidades carentes.
Houve alguns problemas técnicos na transmissão, especialmente de som. Os microfones foram ligados com atraso em alguns lances, o que deixou comentários pela metade.
A transmissão desta quarta foi feita pelo Fluminense porque a Globo rescindiu o contrato de exibição do torneio. Isso aconteceu após a Ferj (Federação do Estado do Rio de Janeiro) ter dado aval para que o Flamengo mostrasse em seu canal do YouTube a partida diante do Boavista.
Na tarde desta quarta (8), o Flamengo chegou a ser autorizado, por liminar, a também transmitir a final da Taça Rio, mas a decisão foi cassada antes do jogo pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
A batalha das transmissões é resultado da edição da Medida Provisória 984/2020 pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Ela alterou a Lei Pelé, que dizia que a transmissão de partidas de futebol só poderia acontecer com anuência dos dois times envolvidos. O direito passou a ser apenas do mandante.
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