Descrição de chapéu Futebol Paulista

Sem renda, jogadores de futebol esperam receber R$ 600 de sindicato

Entidade de São Paulo promove shows online para ajudar a arrecadar valores

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São Paulo

Ao final da Série A3 do Campeonato Paulista do ano passado, o atacante Washington, 32, ficou sem contrato com o EC São Bernardo. Tinha certeza de que chegariam novas propostas, mas elas minguaram.

Apareceu apenas uma, de um clube de Roraima. O contrato seria por três meses para receber R$ 2.000 no total, R$ 666 a cada 30 dias. "Eu moro de aluguel em São Paulo. Não poderia aceitar uma coisa dessas", afirma. Ele ficou desempregado.

O mesmo aconteceu com o zagueiro Gustavo Woody, 24. Seu último clube foi o Taboão da Serra, na Segunda Divisão de São Paulo (apesar do nome, é o quarto nível do futebol estadual). Quando seu acordo com o clube se encerrou, o defensor estava com lesão no joelho e no meio de tratamento de fisioterapia. Hoje, está recuperado.

Eles são 2 dos cerca de 430 jogadores profissionais que se inscreveram para receber R$ 600 do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo.

Para ajudar a arrecadar esses valores, a entidade realizou uma transmissão ao vivo no Instagram no último fim de semana, com shows de grupos de samba e incentivo a doações.

Conseguiu cerca de R$ 18 mil. Com doações de patrocinadores e do próprio sindicato, foram arrecadados mais R$ 190 mil. Faltam R$ 50 mil para conseguir pagar os 430 atletas.

"Estou treinando só em casa e tenho de ajudar a pagar as contas. Vai dar para fazer alguma coisa. Esse dinheiro chegará em muito boa hora", afirma Woody, que começou nas categorias de base do União Mogi, de Mogi das Cruzes (a 56 km de São Paulo). Quem tem sustentado a casa nesse período é a sua namorada, Isabela.

Woody tem algo em comum com Washington, além de estarem incluídos no cadastro para receberem benefício do sindicato. Desempregado, o atacante cuida do filho Lucas, 5, enquanto a mulher, Patrícia, trabalha.

"Eu estava na várzea e ganhava algum dinheiro. Os times também me ajudavam a pagar uma conta aqui e outra ali. Mas parou tudo. Comecei a vender planos de saúde, mas faz três meses que não consigo vender nem uma bala. Está bem complicado", admite.

Woody e Washington fazem parte de uma legião sobre a qual não há estatísticas confiáveis: a de jogadores que contam com os torneios fora da elite do país para conseguir um contrato. Nem o sindicato paulista nem a Fenepaf (entidade nacional) sabem quantos eles são.

A entidade paulista considera atleta profissional quem desempenhou a função, com carteira assinada, por pelo menos três meses na carreira.

Por causa da pandemia da Covid-19, os torneios foram paralisados em março. A Série A1 será reiniciada no próximo dia 22. Na próxima terça (14), acontecerá uma reunião com as equipes da A2 para definir uma data para a retomada. A A3 e a Segunda Divisão ainda estão no escuro.

Desde o início da pandemia, o sindicato estadual distribuiu 160 cestas básicas a jogadores do interior que estavam sem renda.

Jogadores em busca de clube durante peneira promovida pelo Sindicato dos Atletas de São Paulo
Jogadores em busca de clube durante peneira promovida pelo Sindicato dos Atletas de São Paulo - Danilo Verpa-8.dez.19/Folhapress

"Temos alguns atletas [famosos] que prometeram nos ajudar, entre eles o Neymar. Desde que começou a pandemia, recebemos vários emails com pedidos de ajuda. A gente estabeleceu que seria um valor de referência igual ao auxílio dado pelo governo [federal]: R$ 600. Quem se inscreveu declarou estar sem renda e se associou ao sindicato, mesmo que seja na modalidade gratuita", afirma o presidente Rinaldo Martorelli.

A maioria dos jogadores que entrou no programa e receberá o dinheiro não quer aparecer. Assim como os que procuraram os apoios psicológico e de assistência social do sindicato desde o início da crise provocada pela pandemia. São raros os casos como o de Washington, que fala sem medo dos problemas financeiros no mundo do futebol.

Nenhuma decepção para ele vai se igualar à vivida em 2007, quando chamou a atenção de Vanderlei Luxemburgo, que queria levá-lo para o Santos. Ele conta que estava tudo acertado para a liberação do São Bernardo, mas no último momento o clube mudou de ideia e exigiu um pagamento. O negócio não foi fechado.

"Voltei para o São Bernardo. Foi triste. Mas o pior foi que, meses depois, antes de acabar o contrato, me dispensaram", relembra, brincando que os R$ 600 que espera receber na próxima semana não vão quebrar um galho. "Vão quebrar uma árvore inteira."

No universo das divisões menores, são poucos os que, como Woody, conseguiram guardar algum dinheiro. Mas mesmo este já foi consumido pelos meses parados. "É muito, muito tempo para ficar sem renda. Não tem como se sustentar", constata.

Woody e Washington têm, como todos os jogadores que se inscreveram para receber os R$ 600, esperança de que voltarão à ativa com o reinício do futebol. Mas é um palpite.

"Ninguém sabe como vai ficar. A situação está difícil. E isso preocupa todo mundo", finaliza o atacante, enquanto pede licença para tomar conta do pequeno Lucas.

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