Descrição de chapéu Coronavírus

Time do Acre espera volta do futebol há 4 meses embaixo de arquibancada

Atletas, comissão técnica e diretoria vivem em alojamento do estádio Florestão

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Rio Branco (AC)

A delegação do Náuas EC, time da primeira divisão do futebol do Acre, ocupa desde janeiro um alojamento sob as arquibancadas do estádio Florestão, em Rio Branco (AC).

A equipe disputou a última partida oficial em 1º de março. Logo em seguida, o Estadual foi suspenso por causa da pandemia do novo coronavírus, e assim começou uma espera que já dura quase cinco meses.

A casa original do Náuas é Cruzeiro do Sul, no interior do estado, distante 700 km da capital. Com o estádio local reprovado para jogos oficiais, o presidente Zacarias Lopes decidiu se mudar para Rio Branco e disputar todas as partidas fora de casa.

Em janeiro, ele pegou um caminhão-baú, colocou nele a mobília da própria casa e seguiu viagem com cinco jogadores locais. O restante do elenco veio de Paranaguá, no Paraná, inclusive a comissão técnica.

“Nosso planejamento era passar quatro meses aqui. O orçamento só cobriu as despesas até o final de abril, data em que o estadual acabaria. Hoje, enfrentamos dificuldades para manter a alimentação do grupo”, diz.

Os jogadores estão acomodados em um cômodo grande, com beliches e banheiros. Ventiladores funcionam quase 24 horas por dia para amenizar o constante calor da cidade. O espaço foi aprovado pela Vigilância Sanitária. Impedidos de treinar em grupo, os atletas fazem corridas e caminhadas diárias, individualmente. Quando treinam com bola, formam duplas.

Cansados de esperar pelos jogos, oito atletas pediram dispensa e foram embora. Igor Matias, 21, volante, é o único do grupo que chegou em janeiro e que ainda está no clube. Não volta para casa há cinco meses e usa como motivação para ainda permanecer ao lado dos companheiros o sonho de disputar a série D pelo Rio Branco, maior clube do Acre.

“Preciso mostrar meu futebol para os caras. Sei do meu potencial. No futebol nada vem fácil, e minha oportunidade vai chegar”, diz, confiante.

O Náuas não se classificou para a competição nacional. Com um patrocínio de R$ 3.000 mensais, Lopes reforçou o caixa vendendo duas toneladas de farinha com o escudo do clube estampado na embalagem —Cruzeiro do Sul é um dos maiores produtores de farinha de mandioca da Amazônia.

Entre despesas gerais e folha de pagamento, segundo o presidente, já foram gastos mais de R$ 100 mil, 60% pagos por um investidor paranaense.

Sem jogos, porém, o investidor suspendeu o repasse, e o caixa do clube zerou. Para reduzir gastos, a esposa de Lopes assumiu a cozinha. O auxiliar técnico ajuda lavando a roupa do grupo, e o próprio presidente executa tarefas como preparador do goleiros, roupeiro e motorista.

“Não tenho mais de onde tirar dinheiro”, lamenta ele, que é funcionário público. Na cozinha, o estoque de alimentos, fruto de doações, está quase no fim.

Na semana passada, o presidente da federação estadual, Antônio Aquino Lopes, entregou ao Comitê Gestor da Covid o pedido de liberação dos estádios.

A entidade incluiu na proposta o protocolo da CBF e a garantia de que seriam cumpridas todas as normas para segurança dos envolvidos nas partidas. Cada clube receberia um repasse de valor não divulgado para implementar as medidas. Orientada pelo comitê, a liberação foi negada pelas autoridades locais.

O “Cacique do Juruá”, como também é chamado o Náuas, estreou no dia 2 de fevereiro na competição, na derrota por 2 a 1 para o Galvez. No dia 16, goleou o Vasco por 5 a 0. Encerrou o primeiro turno na derrota de 1 a 0 para o Humaitá, no início de março. Já são quase cinco meses de espera para voltar.

O decreto que suspendeu os jogos, em 20 de março, foi renovado quatro vezes e termina no próximo dia 30.

Porém, a autorização para treinos e jogos depende do aval das autoridades. Atualmente, Rio Branco ocupa a fase vermelha no ranking criado pelo comitê para classificar o grau de risco de contaminação.

São quatro fases: vermelha, amarela, laranja e verde. Segundo esse comitê, a reabertura só será possível quando a cidade evoluir para a fase laranja.

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