Cartola vê machismo em críticas à nomeação da esposa no governo Bolsonaro

Marcela Parsons recentemente assumiu o cargo de secretária nacional de paradesporto

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São Paulo

Presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), o brasileiro Andrew Parsons saiu em defesa da nomeação de sua esposa, Marcela Frias Pimentel Parsons, ao cargo recém-criado de secretária nacional de paradesporto na Secretaria Especial do Esporte do governo federal.

Ela trabalha há mais de 20 anos com equoterapia e hipismo adaptado. Foi treinadora e chefe da equipe brasileira de hipismo em quatro edições dos Jogos Paraolímpicos, nos quais o país conquistou quatro medalhas de bronze.

A nomeação, há duas semanas, recebeu críticas de deputados federais com atuação na esfera esportiva, por exemplo Luiz Lima (PSL-RJ) e Felipe Carreras (PSB-PE).

Marcela em frente a bandeira nacional e retrato de Jair Bolsonaro
Marcela Parsons, secretária nacional de paradesporto da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania - Ronaldo Caldas/Ministério da Cidadania

“Lamento muito que o Ministério da Cidadania não tenha percebido a importância de se nomear um atleta paralímpico. Triste o país que precisa de heróis. Pior o país que não reconhece seus heróis”, escreveu Lima em suas redes sociais.

Carreras apontou a relação entre Marcela e Andrew como ponto central de sua crítica. “O presidente da República nomeou a esposa do presidente do Comitê Paralímpico Internacional. Apadrinhamento é prática inaceitável. Por que não dar vez a quem entende do tema?”, questionou.

“Achei de um machismo e uma misoginia extremos [as críticas], como se minha mulher não pudesse ter uma carreira independentemente de mim. Quando a conheci, há 17 anos, ela já estava no paradesporto e com o trabalho na equoterapia”, afirmou Andrew Parsons à Folha.

Para ele, há uma confusão feita pelos que tratam o cargo de Marcela como uma ponte entre o governo e o esporte paraolímpico.

“O paradesporto é para tratar da iniciação esportiva para pessoas com deficiência e de deficiências que estão fora do movimento paraolímpico, como surdos, síndrome de down, autistas. É o esporte voltado para o social e os que não estão abarcados pelo esporte paralímpico hoje”, disse o presidente do IPC.

Ele argumenta que a criação da secretaria nacional foi inspirada numa iniciativa que Marcela desenvolveu primeiro para a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer do Distrito Federal.

“Na hora em que começou a se definir a nova formatação da Secretaria Especial do Esporte, na entrada do Marcelo Magalhães, esse plano foi levado a ele. Não é só que ela tenha condições de estar no cargo, é graças a ela que existe a secretaria”, afirmou Andrew.

O dirigente responde a um processo no TCU (Tribunal de Contas da União) por uso indevido de dinheiro público no pagamento de viagens internacionais em que Marcela o acompanhou, com custos de R$ 50 a R$ 60 mil cada uma, quando ele presidia o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

“Foram três viagens, duas numa mesma ida, a trabalho, numa função de representação do CPB. Eu tenho todos os comprovantes do que fui fazer. Foi a trabalho, não fazer turismo. Eram eventos sociais, em que se pressupunha, como eram viagens de representação e política, eu entendia, a [presença da] minha mulher”, disse Andrew.

Andrew Parsons atrás de púlpito
Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, durante conferência da entidade - Ralf Kuckuck - 24.out.19/IPC

“Estavam o presidente do Comitê Paralímpico Internacional com a sua mulher, o CEO do comitê com sua mulher. Entendo que as pessoas não entendam, mas nesse meio do esporte também tem esse lado político e de representação. As pessoas podem concordar ou discordar, mas que existe, existe. Tanto que minha credencial para os Jogos de Tóquio me dá direito a um acompanhante. É uma praxe”, completou.

De acordo com ele, o regulamento do CPB na época dava direito a acompanhantes em viagens de representação para presidente e vice. Somente depois desse episódio é que o TCU teria determinado a alteração nas regras para impedir que os gastos dos acompanhantes fossem pagos com dinheiro público recebido pela entidade.

“Depois que o regulamento foi alterado, ela nunca mais viajou com o CPB. Não tenho dúvidas de que as explicações vão ser acatadas”, declarou Andrew.

Ele refutou ainda a possibilidade de sua imagem sofrer desgaste internacionalmente por Marcela ocupar um cargo no governo de Jair Bolsonaro.

“Não vejo e não tem sido visto assim. As pessoas tem elogiado a criação da secretaria do paradesporto. Minha mulher não é militante política, ela é técnica foi convidada para um secretaria técnica. É um sonho você ser convidada a estar em nível nacional à frente desse processo. Não importa o governo, são questões de carreira e das pessoas”, defendeu.

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