Descrição de chapéu The New York Times

Em alta na NBA, Carmelo Anthony lidera engajamento por justiça social

Jogador do Portland é um dos criadores de fundo para apoio a pessoas não brancas

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Sopan Deb
The New York Times

Houve momentos, nas quase duas décadas de carreira de Carmelo Anthony na NBA, em que sua maturidade foi questionada.

Na metade do ano passado, por exemplo, havia dúvida sobre a possibilidade de que Anthony continuasse empregável no basquete profissional, apesar de sua presença em 10 All-Star Games, e sobre se ele aceitaria ser relegado a um papel subalterno.

Mas em novembro, Anthony assinou com o Portland Trail Blazers, aceitou um papel menor no time e começou a ter sua melhor temporada em anos.

Agora, a história dele se transformou em exemplo de redenção. Aos 36 anos, Anthony é considerado um veterano valioso e sua vaga no Hall da Fama do basquete parece assegurada.

Depois de passar boa parte de sua carreira na NBA enfrentando dúvidas sobre sua vontade de vencer, Anthony apareceu para a retomada da temporada no Disney World, no mês passado, consideravelmente mais magro, e vem convertendo cestas decisivas, que estão ajudando os Trail Blazers a se manterem na luta por uma vaga de playoffs.

“A sensação é a de que, se ele estivesse aqui no ano passado, poderíamos ter ido às finais”, disse Damian Lillard, o astro do Portland, a jornalistas recentemente, falando sobre Anthony.

Talvez este seja o ano. Mas mesmo que isso não aconteça, o desempenho forte de Anthony o ajudou a manter a plataforma para uma empreitada na qual ele diz que jamais aceitará um papel secundário: falar sobre a justiça social.

“Tudo está mudando”, disse Anthony em entrevista por telefone. “Temos de nos adaptar à mudança."

Carmelo passa o braço no ombro de Lillard
Carmelo Anthony (à dir.) e Damian Lillard, jogadores do Portland Trail Blazers - Kevin C. Cox - 9.ago.20/AFP

Sua mais recente incursão no ativismo aconteceu em parceria com Chris Paul, armador do Oklahoma City Thunder, e Dwyane Wade, astro aposentado da NBA.

Os três ajudaram a criar o Social Change Fund, um esforço filantrópico para investir em organizações que apoiam as pessoas não brancas, tanto da perspectiva das políticas públicas –promovendo causas como a reforma da justiça criminal e a expansão do direito de voto– quanto do ponto de vista comunitário, ao combater desigualdades raciais na educação e habitação.

Anthony disse que a organização foi formada por causa de conversas sobre o racismo depois da morte de George Floyd, um homem negro morto por policiais em Minneapolis em maio, um incidente que causou protestos nacionais nos Estados Unidos.

Diversos jogadores da NBA participaram. Anthony disse esperar que o fundo pudesse combater a desigualdade antes que ela comece a se manifestar, deixando de lado o debate habitual sobre essas questões depois que elas acontecem.

“Antes, nós dizíamos alguma coisa e fazíamos o que dizíamos, mas o assunto terminava sumindo até que alguma outra coisa acontecesse”, disse Anthony. “E aí alguma coisa mais acontecia. Nós estávamos sempre reagindo, em lugar de sermos proativos."

Ele acrescentou que “compreendemos que ainda estamos na mesma situação em que estivemos já por muito, muito tempo".

Carmelo Anthony com camiseta do movimento "black lives matter" antes de partida da NBA
Carmelo Anthony com camiseta do movimento "black lives matter" antes de partida da NBA - Kevin C. Cox - 9.ago.20/AFP

Anthony, Paul e Wade contribuíram com as verbas iniciais para o projeto, na esperança de que seus nomes atraíssem mais investimentos. O banco Goldman Sachs e a agência de talentos Creative Artists Agency assinaram como financiadores primários, de acordo com um release noticioso.

“Temos quatro linhas diferentes”, disse Anthony. “Se me interesso pela reforma da justiça criminal, ou pela reforma da educação, temos essas linhas diferentes. E queríamos criar o fundo para que depois pudéssemos agir em todas essas linhas."

Anthony é um dos jogadores mais engajados da NBA já há alguns anos. No mês passado, ele foi o editor convidado da revista de basquete Slam, e apareceu na foto da capa em companhia de Kiyan, seu filho de 13 anos de idade, os dois usando “hoodies” pretos.

Anthony escreveu uma coluna em que questionava: “Vocês pretendem tirar seus joelhos de nossos pescoços, um dia? É porque sou negro? Isso assusta?”.

Em 2016, Anthony, Wade, Paul e LeBron James subiram ao palco na cerimônia de entrega do prêmio ESPY e abriram o programa com um monólogo no qual lamentavam o racismo e a brutalidade policial. No ano anterior, Anthony participou de manifestações em Baltimore, a cidade em que ele cresceu, para protestar pela morte de Freddie Gray, um negro de 25 anos que morreu quando em custódia da polícia.

No começo da carreira de Anthony na NBA, ele foi criticado por aparecer brevemente em um vídeo gravado em Baltimore com o objetivo de dissuadir denúncias à polícia, que continha ameaças a potenciais testemunhas de crimes. Pouco depois do lançamento do vídeo, Anthony se dissociou do conteúdo.

Agora, ele vem falando sobre reforma da polícia. Ele disse ter crescido em uma comunidade na qual todo mundo se conhecia, e na qual alguns policiais tinham elos fortes com o bairro. Mas outros vinham de fora, e isso causava problemas.

“Lidei com tudo isso. Se enfrentei brutalidade policial? Sim”, disse Anthony, acrescentando que “quer ao ser parado pela polícia, ser encarado como suspeito por conta de minha cor, ou por estar em meu quarteirão em meu bairro, e a polícia chegar agarrando todo mundo, jogando todo mundo no chão e nos obrigando a ficar deitados na calçada –passei por isso”.

Anthony raramente fala sobre o presidente Donald Trump, mas em junho, depois que a Guarda Nacional e outras forças do governo usaram gás lacrimogênio contra manifestantes pacíficos que estavam marchando diante da Casa Branca, ele afirmou em uma mensagem no Instagram que o presidente havia “declarado guerra ao povo americano”.

Mas Anthony disse que não estava interessado em se envolver na campanha presidencial. Alguns outros jogadores o fizeram, como James, que expressou apoio a Joe Biden publicamente, e Paul, que assinou uma carta publicada esta semana com um apelo a Biden para que ele selecionasse uma mulher negra como companheira de chapa.

“Não sou político e por isso não quero me evolver em política”, disse Anthony. “Quero me envolver com a comunidade, o futuro da comunidade e a situação de minha comunidade agora."

Tradução de Paulo Migliacci

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