Descrição de chapéu The New York Times tênis

Maiores do tênis nas duplas, irmãos Bryan jogaram e pararam juntos

Gêmeos americanos Bob e Mike anunciam aposentadoria imediata aos 42 anos

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Christopher Clarey
The New York Times

Em costas opostas dos Estados Unidos, mas sempre na mesma sintonia, os gêmeos idênticos Bob e Mike Bryan, a dupla mais bem sucedida na história do tênis, estão se aposentando aos 42 anos, a partir de agora.

“Nós dois tivemos a sensação de que era o momento certo”, disse Mike Bryan, o mais velho dos gêmeos (por dois minutos). “Nessa idade, é preciso muito trabalho para ir à quadra e competir. Ainda adoramos jogar, mas já não adoramos o processo de preparar nossos corpos para isso. A recuperação é mais sacrificada. Sentimos que continuamos competitivos neste ano, no ano passado, no ano anterior. Queremos parar agora enquanto ainda nos resta algum tênis de primeira."

Os Bryan, californianos exuberantes e muito simpáticos com os torcedores, cuja marca registrada era o “chest bump”, o cumprimento pelo choque de peitos no ar, foram criados por pais professores de tênis, Wayne e Kathy, para ser campeões, e embaixadores do esporte.

“Eles tinham um plano mestre”, disse Wayne em entrevista por telefone na quarta-feira.

Irmãos fazem o tradicional cumprimento 'chest bump'
Bob Bryan (à esq.) e Mike Bryan comemoram vitória no ATP Finals em 2017 - Glyn Kirk - 27.ago.20/AFP

Os irmãos Bryan se tornaram vencedores frequentes em seus 22 anos de carreira profissional, conquistando 16 títulos de Grand Slam, em 30 finais disputadas, e 119 títulos do circuito jogando em dupla, o que foi quase sempre o caso. Eles mantiveram o primeiro posto do ranking de duplas masculinas por um total de 438 semanas, e concluíram 10 temporadas como a dupla mais bem colocada do ranking.

Todas essas marcas são recordes do tênis masculino na era aberta, em alguns casos por larga vantagem.

Pode ter havido jogadores melhores nas duplas –John Newcombe, Roy Emerson e John McEnroe merecem consideração, e todos eles jogaram em uma era em que as duplas eram mais importantes do que atualmente, e em que muitos dos astros de simples também jogavam duplas.

Mas os Bryan, por força de sua personalidade e longevidade no circuito, merecem a posição. Nenhuma dupla masculina conquistou mais vitórias (ou assinou mais autógrafos). Os australianos Todd Woodbridge e Mark Woodforde ocupam um distante segundo lugar na era aberta, com 11 títulos de Grand Slam e 61 títulos na tour.

No seu pico, em 2012 e 2013, os Bryan detinham os quatro títulos de Grand Slam e a medalha de ouro olímpica, e em muitos casos esmagavam a oposição com sua energia positiva, comunicação telepática e talentos complementares em quadra.

“Naquele período, ninguém conseguia nos parar”, disse Bob em uma conversa por Zoom. “Estávamos atrás, o adversário estava sacando, precisávamos quebrar o serviço, e mesmo assim sorríamos. Nada de negativo entrava em nosso jogo”.

Eles tiveram muitas rusgas fraternas ao longo dos anos. Em 2006, Bob quebrou o violão de Mike, de raiva, depois de uma briga em Wimbledon (eles ganharam o título do torneio naquele ano). Mas os Bryan parecem ter se acalmado com o passar dos anos, quando suas carreiras se estenderam até uma era em que os avanços na nutrição, treinamento e recuperação permitiram que muitos astros do tênis prolongassem sua carreira. Vide Roger Federer, 39, e Serena Williams, 38.

O canhoto Bob tinha saque mais forte e um jogo mais explosivo. Mike, destro, era mais constante nas devoluções e tinha um voleio impecável.

Irmãos posam com medalhas e a bandeira dos EUA
Bob Bryan (à dir.) e Mike Bryan com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 - Stefan Wermuth - 4.ago.12/Reuters

Os dois eram bons jogadores de simples, igualmente. Bob venceu o título de simples da NCAA, a organização dos esportes universitários dos Estados Unidos, em 1998, em seu segundo ano na Universidade Stanford, onde os dois conquistaram dois títulos de duplas.

Mas juntos, os gêmeos eram transcendentes, e era mais fácil manter a paz entre eles. Quando jogavam torneios de simples, as comparações ente eles eram inevitáveis, o que podia gerar tensões. Quando eram juniores, seus pais em geral não permitiam que jogassem um contra o outro em torneios, e os Bryan usualmente desistiam das partidas em que tivessem de se enfrentar por força dos sorteios.

Mas, quando jogavam em dupla, eram uma unidade, e seus sucessos e reveses eram compartilhados igualmente.

Em Stanford, eles foram designados para dormitórios diferentes em seu primeiro ano. Bob instalou um colchão no chão do quarto de Mike e dormia lá. Já adultos, os dois compartilharam de uma conta bancária por muito tempo. Continuam a conversar ou trocar mensagens de texto diversas vezes por dia, mesmo que Bob, sua mulher, Michelle, e os três filhos pequenos do casal agora vivam em Hallandale Beach, Flórida, e Mike e sua mulher, Nadia, vivam em Camarillo com seu filho ainda bebê.

“Continuamos a ser os melhores amigos, e nossa conexão é mais forte que nunca”, disse Mike. “Você sabe como as coisas podem ser difíceis entre irmãos, como é difícil manter um bom relacionamento o tempo todo. E fizemos com que o nosso funcionasse por muito tempo, em situações de alta pressão; fazíamos todas as refeições juntos, e treinávamos juntos."

“Para muita gente, isso logo se tornaria cansativo, mas mantivemos nosso casamento forte. Precisamos de um pouco de terapia, aqui e ali, mas no final tudo deu certo e, refletindo sobre nossa longevidade, isso é algo de que podemos nos orgulhar muito, o fato de termos nos mantido juntos, dia após dia”.

Tradução de Paulo Migliacci

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