Técnico do Caxias tenta repetir feito de Tite 20 anos depois

Clube desafia o Grêmio na final do Gaúcho em busca de nova conquista estadual

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São Paulo

O Caxias havia acabado de conquistar o troféu do primeiro turno do Campeonato Gaúcho sobre o Grêmio e, logo na partida seguinte, recebeu o Internacional em casa.

Após sair atrás do placar, buscou o empate no fim e terminou o jogo com cinco atacantes, pressionando o time de Eduardo Coudet em busca da vitória. Apesar da pressão, o Inter se segurou e o duelo acabou 1 a 1.

O técnico Rafael Lacerda, 36, busca o título do Campeonato Gaúcho com o Caxias
O técnico Rafael Lacerda, 36, busca o título do Campeonato Gaúcho com o Caxias - Caxias/Divulgação

É raro ver no futebol brasileiro treinadores de times mais modestos que se sintam à vontade em montar equipes ofensivas, principalmente contra adversários da elite nacional.

Mas Rafael Lacerda, 36, quer fazer as coisas de forma diferente e, fiel às suas convicções, tentará seguir mostrando que sua ideia de ser protagonista não se negocia.

Como nesta quarta-feira (26), quando o Caxias enfrenta o Grêmio, no jogo de ida da final do Gaúcho, no estádio Centenário –a segunda partida acontece no domingo (30), em Porto Alegre.

A equipe da região serrana busca o primeiro título estadual para o interior do Rio Grande do Sul desde 2000, quando justamente o Caxias se sagrou campeão. Era o time comandado por Tite, atual técnico da seleção brasileira, que ganhou projeção a partir daquela conquista. Um feito que serve de inspiração para Lacerda e seus comandados.

"Aqui no estádio [Centenário], em qualquer lugar que você vai tem uma placa que diz: 'Caxias campeão de 2000'. Eles são as maiores referências dentro do clube", diz o técnico em entrevista à Folha.

"Daqui saíram Mano Menezes, Celso Roth. Mas o Tite é a grande referência porque se projetou nacionalmente. Claro que eu quero seguir os pasos do Tite, do Mano, mas eu preciso trabalhar. Tudo é consequência do nosso trabalho."

De Tite, Lacerda tem na memória o Caxias de 20 anos atrás que, como o seu, era ofensivo. Na primeira partida da decisão estadual de 2000, na serra gaúcha, a equipe grená venceu os tricolores por 3 a 0 –o empate sem gols em Porto Alegre confirmou o título.

Já de Mano Menezes, o jovem treinador aprecia a organização defensiva de suas equipes. Mas o principal estímulo do técnico é o alemão Jürgen Klopp, campeão da Champions e da Premier League com o Liverpool.

"O que mais gosto hoje é do estilo do Klopp. Não é pelo equema tático, mas pela intensidade com a qual eles jogam. O futebol gaúcho sempre foi mais reativo, um estilo mais defensivo. Mas o Caxias joga para frente. A gente gosta dessa intensidade", afirma.

Somando os dois turnos do Estadual, o Caxias ainda não perdeu para Grêmio e Inter. Foram duas vitórias contra a equipe de Renato Gaúcho e dois empates com o time de Coudet. Em 13 partidas na competição, somou oito vitórias, três empates e duas derrotas, com 14 gols marcados e apenas 7 sofridos.

Contudo, se hoje a boa campanha e a chance de reconquistar o campeonato são motivos de celebração, o início do trabalho de Rafael Lacerda foi cercado de questionamentos. Especialmente com relação à idade e sua capacidade de gerir um grupo de atletas.

Ex-zagueiro, atuou até 2018, quando pendurou as chuteiras às vésperas de completar 34 anos. No ano passado, era auxiliar do Caxias quando recebeu o convite para se tornar técnico do time principal.

Para triunfar e convencer, precisou dos resultados, é claro, mas construiu a boa campanha no Gaúcho a partir da combinação do estudo com a vivência que adquiriu como jogador, inclusive no próprio Caxias.

Com quatro passagens pelo clube, foi jogando pelo time grená que conheceu sua esposa, Flávia, há nove anos. Seus filhos, Maria Paula, 4, e Martin, 1, nasceram na cidade. Em Caxias, onde mora a cinco minutos do estádio Centenário, Lacerda está em casa.

Lacerda ergue a taça do primeiro turno do estadual, no estádio Centenário, em Caxias
Lacerda ergue a taça do primeiro turno do estadual, no estádio Centenário, em Caxias - Caxias

"Sempre tive uma ligação muito forte com o Caxias. Eu me dou bem com todo mundo, do porteiro ao presidente. A gestão de pessoas é fundamental, e não só dos atletas, mas de todos no clube", diz o técnico, que está cursando a Licença B da CBF.

"O ex-jogador precisa buscar o conhecimento, e quem não jogou precisa buscar o aprendizado no convívio com os atletas, com auxiliares. Quando eu tinha 33, diziam que estava velho para jogar, mas com 35, disseram que eu era novo para treinar. O técnico do RB Leipzig na última Champions tem 33 anos", afirma o gaúcho, citando o alemão Julian Nagelsmann, semifinalista do torneio europeu.

A pandemia da Covid-19 mudou um pouco os planos de Rafael Lacerda para a decisão do Gaúcho. Anteriormente, o primeiro jogo da final estava marcado para o início do mês, mas a CBF não aceitou o adiamento da estreia do Grêmio no Campeonato Brasileiro, o que forçou uma nova data para o Estadual.

Com isso, o Caxias perdeu alguns atletas, que tiveram seus contratos encerrados nesse período de pausa. São apenas 24 jogadores atualmente, 21 deles de linha, em um elenco que disputará também a Série D do Brasileiro.

Diante do Grêmio, nesta quarta, Lacerda certamente terá uma equipe diferente da que conquistou o primeiro turno e alcançou a final do Gaúcho. O que ele não mudará é o plano de ser protagonista, seja em Caxias ou em Porto Alegre.

"Eu vi várias vezes o Grêmio jogar na Arena e os adversários foram com três ou quatro volantes, linha de cinco atrás. A gente tem que respeitar o Grêmio, o Inter. Mas com a bola, tu não pode abrir mão de jogar."

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