Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro 2020

Antes de Honda no Botafogo, Santos abriu portas para japoneses

As duas equipes se enfrentam neste domingo (20), pelo Campeonato Brasileiro

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São Paulo

Com o placar em 0 a 0 aos 15 minutos do segundo tempo, um torcedor iniciou o grito que se espalhou como rastilho de pólvora pela arquibancada da Vila Belmiro: "um, dois, três, coloca o japonês!".

Pouco depois o técnico Emerson Leão atendeu aos pedidos, e o meia japonês Masakiyo Maezono entrou em campo. Era sua estreia pelo clube. Na primeira vez em que tocou na bola, fez o gol que abriu o placar do clássico contra a Portuguesa, pelo Brasileiro de 1998. O estádio quase veio abaixo.

Maezono não voltou a balançar as redes na passagem que durou quase três meses pela equipe. Mas a receptividade do Santos a jogadores do Japão nas décadas de 1980 e 1990 passou longe de ser uma experiência isolada.

Foram quatro no total. Nenhum clube dos que estão hoje na Série A teve tantos nomes de origem japonesa no seu elenco.

Em fevereiro de 2020, Keisuke Honda desembarcou no Rio de Janeiro com festa de torcedores para defender o Botafogo, adversário do time paulista neste domingo (20) pela 11ª rodada do Brasileiro. O jogo será realizado no estádio Nilton Santos, às 18h15, com transmissão em pay-per-view.

O meia da equipe carioca tem feito apresentações irregulares até agora, mas conta com o carinho da torcida. Na quinta (17), ele foi escalado mais avançado por Paulo Autuori e teve atuação decisiva na vitória contra o Vasco, pela Copa do Brasil.

O pioneiro entre os japoneses que passaram pelo Santos foi Kazuyoshi Miura, o Kazu. Ele chegou ao Juventus em 1986, porque cismou que precisava atuar no Brasil depois de ver jogos da seleção na Copa do Mundo de 1982. Poucos meses depois, foi contratado pelo Santos, mas teve poucas chances.

Emprestado a Palmeiras, Matsubara, CRB, Coritiba e XV de Jaú, voltou à Vila Belmiro em 1990. Foi quando se tornou titular. Fez quatro gols em 36 jogos e retornou ao Japão em julho daquele ano, após receber uma proposta de US$ 20 mil mensais do Verdy Kawa saki e a chance de ser convocado para a seleção japonesa.

"Quando o Kazu chegou não foi exatamente uma novidade. A gente já sabia o que ele jogava no XV de Jaú. Era muito bom jogador. Ninguém achou estranho ter um atacante japonês na equipe", afirma o centroavante Paulinho McLaren, que atuou pelo Santos de 1989 a 1992 e teve Kazu como companheiro de linha ofensiva no Paulista de 1990.

"Gostava do Kazu como jogador e como pessoa. Era um rapaz muito bom e tinha talento. Não por acaso se tornou ídolo do futebol japonês", opina Pepe, que foi técnico do ponta naquele time alvinegro.

Tinha talento, não. Ainda tem. Aos 53 anos, o atacante atua como profissional pelo Yokohama FC na J1 League, a elite do país. Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da equipe disse que Kazu não estava disponível para entrevistas.

"O Santos já é bastante falado no Japão, graças ao Pelé e por eu ter jogado aqui", disse o ponta em 2011, na última vez em que esteve na Vila Belmiro. A visita aconteceu uma semana antes de o clube participar do Mundial de Clubes no país asiático.

Um ano após a saída de Maezono, em 1999, Emerson Leão indicou para os dirigentes a contratação do volante Tomo Sugawara. Em um dos primeiros treinos, o recém-chegado deixou bem claro qual era seu ponto forte. Entrou em uma dividida com o lateral Baiano, ambos de carrinho, com as travas da chuteira a espremerem a bola.

"Não sei como ela sobreviveu", se diverte Élder, que também era cabeça de área daquele elenco.
Leão gostava tanto do jogador que, após a estreia dele, contra o Mogi Mirim, disse que Sugawara havia "comido a bola".

Mas foi seu único momento de brilho. O volante recebeu a missão de marcar o atacante Edílson na semana seguinte, no clássico contra o Corinthians, que venceu por 5 a 1. O japonês atuou apenas quatro vezes e foi dispensado ao final da temporada.

Na comparação da amizade com os outros jogadores e funcionários do clube, Sugawara ganhou fácil de Maezono. O volante se esforçava no português, vivia rindo e gostava de cantar pagode.

Maezono, já famoso no Japão, se hospedou em Santos com uma comitiva em um hotel cinco estrelas da cidade. No dia seguinte após seu único gol, quis cobrar dos jornalistas que pediram entrevista.

Leão avisou ao meia que, se insistisse naquilo, poderia ir embora. Ele gostava também de beber Coca-Cola na concentração, escondido da comissão técnica. Ao sair da Vila Belmiro, ainda tentou a sorte mais uma vez no futebol brasileiro. Foi para o Goiás, mas também não deu certo.

"Eu era companheiro de quarto do Maezono antes dos jogos. Ele era um cara divertido. Só que chegou com status de ídolo do Japão e depois do treino sempre tinha gente o acompanhando. Eu e outros jogadores achamos que ele teria continuidade no time porque quando entrou, ajudou. Não aconteceu", completa Élder.

O Santos também teve no elenco, por algumas semanas em 1985 o meia Musashi Mizushima, mas ele não teve chances no profissional. O mesmo havia acontecido em suas passagens por São Paulo e Portuguesa. O sucesso lhe sorriu no Japão, onde serviu de inspiração para o personagem de um mangá de sucesso.

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