Competição de remo em isolamento conta com brasileira campeã mundial

Fabiana Beltrame participa da disputa por meio de vídeos com performance no simulador

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José Edgar de Matos
São Paulo

Uma brasileira campeã mundial vai deixar a aposentadoria momentaneamente para ter a experiência inédita de uma competição sob distanciamento social.

Aos 38 anos, Fabiana Beltrame é o principal nome da Row To Win Virtual, evento de remo indoor modificado para 2020, em virtude da pandemia do novo coronavírus.

A campeã mundial de remo em 2011 e centenas de outros atletas, profissionais e amadores, vão remar de suas respectivas casas, gravar a performance e enviar o resultado para a organização, que anunciará os vencedores em uma live, marcada para 3 de outubro.

O percurso de 1.000 m ocorrerá em um simulador de um modelo específico estabelecido pela organização. Fabiana será filmada pelo marido, também participante do evento, que reúne competidores idosos e até da categoria infantil. No caso das crianças e adolescentes, o tiro é de 500 m.

“Estou fazendo uma preparação específica. Remava todos os dias em casa, mas um trajeto mais longo. Agora estou fazendo mais tiros de velocidade para poder me sair bem. Embora eu não seja mais atleta competitiva, ainda sou muito competitiva. Gosto de competir [risos]”, contou Beltrame à Folha.

“Agora creio que uma competição como essa se tornará cada vez mais comum. É uma porta que se abre e pode continuar, já que mais pessoas podem participar, sem custo de viagem e sem necessidade de patrocinadores”, acrescentou a ex-atleta.

Fabiana Beltrame durante treino na Lagoa Rodrigo de Freitas em 2012
Fabiana Beltrame durante treino na Lagoa Rodrigo de Freitas em 2012 - Sergio Moraes/Reuters

O evento de remo indoor surge em um momento importante pessoalmente para a campeã mundial. Afastada das competições desde o fim de 2016, Fabiana Beltrame tentou manter uma mínima rotina de atleta e passou a remar no simulador, aparelho encontrado em muitas academias.

A organização começou a aceitar gravações desde o dia 1º de agosto e receberá os vídeos dos participantes até 20 de setembro. Fabiana Beltrame vai enviar obviamente a sua melhor performance. Porém, também aproveita esse clima de competição para relaxar diante do cenário.

“É uma terapia. Estávamos sem o aparelho de remo indoor em casa, então só usava academia. As academias fecharam e pegamos um emprestado de um amigo. Voltei a treinar todos os dias e resolvemos [Fabiana e marido] comprar um para a nossa casa. É uma terapia, é um tempo que tiro só para mim”, afirma.

“Estamos com os filhos em casa durante o dia inteiro, então temos que ter esse tempo só para a gente. Minha filha de 11 anos ficava na escola e o de 2 estava começando a ir, então tínhamos a intenção de ir para o clube e para a água. A pandemia fez a gente adiar, então temos o aparelho em casa como nossa terapia”, reforça.

Fabiana Beltrame treinando no aparelho simulador
Fabiana Beltrame treinando no aparelho simulador - Arquivo pessoal

A versão de 2020 será a primeira virtual do Row To In, competição que terá o quarto ano competitivo. Além de remadores como Fabiana Beltrame, o evento também reúne praticantes de equipes de crossfit e academias brasileiras.

O torneio tem a chancela da confederação sul-americana da modalidade e o apoio da brasileira. Atletas de qualquer parte do mundo podem participar, desde que paguem a taxa de inscrição de R$ 49,90.

“Despertou a ideia [de fazer o evento online] diante das dificuldades da pandemia. Sempre quis que atletas dos mais variados lugares participassem. Vou enviar medalha para qualquer parte do mundo, é um risco [financeiro] que estou correndo [risos]. Mas, claro, nunca tinha pensado que seria assim”, conta Maurício Boabaid, idealizador da competição.

Bobaid e a equipe mudaram toda a programação diante do avanço da Covid-19 no Brasil. O Row To Win estava programado para ser dividido em três etapas, a primeira em 30 de março em Palhoça (SC). Duas semanas antes, porém, eventos como esse passaram a ser vetados por questões sanitárias.

Assim, a organização se planejou para reunir tudo em um evento virtual, com participantes enviando os vídeos para a organização, diante de um regulamento detalhado.

Todos os competidores vão usar o mesmo aparelho pré-definido e as gravações devem seguir um padrão. A cartilha detalhada, como a exigência de uma foto do competidor ao lado do visor do aparelho, serve como uma tentativa antifraude.

“A prova deve ser enviada por inteira, desde a largada até o momento em que o orientador, ou quem filmar, mostrar os 1.000 m na tela do aparelho”, declarou o idealizador do evento.

“Não estamos totalmente isentos de uma fraude, nem o Comitê Olímpico está, né? Como vemos na questão do doping. Mas estamos tomando todas as precauções necessárias. Só vamos catalogar o tempo dos vídeos que temos dentro do padrão estabelecido”, encerra, comemorando as visitas de chineses e alemães ao site do evento e os cerca de 200 vídeos enviados até esta semana.

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