Damiris revela susto com destaque na WNBA e pede mais esporte feminino na TV

Principal jogadora do basquete brasileiro na atualidade faz sua melhor temporada nos EUA

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São Paulo

Damiris Dantas, 27, apareceu para uma entrevista coletiva por vídeo nesta terça-feira (15) usando máscara, em frente a um fundo virtual da sua equipe na WNBA (o Minnesota Lynx) e com uma camiseta com a frase: “Coloque o esporte feminino na TV”.

Hoje protagonista da principal liga feminina de basquete do mundo, ela não esconde que a roupa foi caso pensado para a ocasião.

“Essa é minha causa, meu objetivo, ver mais jogos de mulheres na TV. Sendo futebol, basquete, handebol, quero que as mídias coloquem as mulheres na TV, que os patrocinadores nos procurem”, afirmou.

No Brasil, a ESPN transmite a WNBA, mas o canal afirmou que ainda não sabe quais partidas serão transmitidas nos playoffs.

A ala/pivô do Lynx vive sua melhor temporada nos Estados Unidos, onde está há seis temporadas. Tem uma média de 12,9 pontos por partida, 6,1 rebotes e mais de 26 minutos em quadra, todos recordes pessoais na carreira.

Ela comemora o espaço que ganhou, o momento vivido e ressalta que se sente mais confiante, madura e “um pouquinho mais experiente”.

Damiris está entre as quatro melhores do seu time em praticamente todas as estatísticas, vem se firmando como titular da equipe e tornando-se protagonista dentro e fora de quadra.

O Lynx avançou aos playoffs nas quarta posição e estreará no mata-mata da liga na quinta-feira (17).

“Até tomei um susto quando eu vi as pessoas falando de basquete e da Damiris, isso não acontecia e agora está acontecendo. Estou muito ativa na minha luta contra o racismo, tenho a noção da representatividade que tenho para muita gente”, disse.

A brasileira Damiris Dantas com uma camiseta em inglês que diz: "Coloque esporte feminino na TV"
A brasileira Damiris Dantas com uma camiseta em inglês que diz: "Coloque esporte feminino na TV" - Arquivo pessoal

Prova do alcance conquistado é que essa foi a segunda entrevista coletiva concedida aos jornalistas brasileiros —por meio de videoconferência direto da "bolha" da WNBA na Flórida— em menos de dois meses.

Na primeira, em julho e antes da temporada começar, ela dizia estar começando a se posicionar mais sobre temas sociais, a se ver como uma inspiração e avisava: “Eu não vou parar”. Dito e feito.

Assim como na NBA, as jogadoras da WNBA boicotaram uma rodada como protesto contra a violência policial e o racismo. Damiris estava lá.

“A conversa começou um dia antes sobre o que fazer, a comissão de atletas entrou em reunião e a gente ficava recebendo notícias. Fomos para a quadra no dia seguinte, prontas para jogar, mas chegando lá começamos a conversar”, contou.

Segundo ela, o entendimento geral era de que, se a liga tem se posicionado fortemente, mas mesmo assim a violência persiste (à época, o estopim foi um homem negro alvejado por um policial branco durante uma abordagem), era hora de uma atitude mais firme por parte das atletas.

A brasileira destaca que o ambiente da WNBA encoraja as jogadoras a se posicionarem, que na liga ela se sentiu abraçada pelas companheiras e que viu seu lado político, antes acanhado e tímido, se aflorar.

Damiris Dantas com uma camiseta escrito "diga o nome dela", protesto contra a morte de Breonna Taylor
Damiris Dantas com uma camiseta escrito "diga o nome dela", protesto contra a morte de Breonna Taylor - Instagram/@dantadamiris

No banco de reservas, recebe o respaldo de uma comissão técnica inteira formada por mulheres. Na quadra, se inspira com a trajetória de outras brasileiras que abriram o caminho, o que a faz questionar porque só agora é que narrativas como a sua ganharam projeção.

“Será mais um racismo rolando porque somos negras? Eu sou muito próxima da Janeth [Arcain, ex-jogadora brasileira], a ‘Tia Jane’ é a melhor jogadora de basquete do Brasil entre masculino e femino, e nunca teve o reconhecimento merecido. Por que? Por que é negra?”.

Janeth venceu a WNBA quatro vezes, de 1997 a 2000, foi All Star da liga em 2001, medalha de prata na Olimpíada de Atlanta (1996) e bronze em Sidney (2000).

Damiris também lembra de Erika de Souza, hoje no Royal Castors Braine, da Bélgica, campeã da WNBA em 2002 e três vezes selecionada para o All Star.

“Essa representatividade [que tenho hoje] talvez fosse a representatividade que eu buscava quando comecei a jogar”, disse.

Ela já passou por mais de 10 times na carreira. No Brasil, defendeu, entre outras equipes, Americana, Ourinhos e Jundiaí. Também passou pelo Celta de Vigo, da Espanha, e pelo Busan, da Coreia do Sul.

Depois de tanto viajar o mundo, participar de ligas diferentes e atuar com diversas camisas, a brasileira não esquece de onde veio e por que não só joga, mas se posiciona.

“Está em mim a minha origem. Onde eu comecei, na escola, tenho muitos amigos que hoje seguiram a vida fazendo outras coisas e me acompanham. Das meninas da escolinha da 'Tia Jane' que tenho contato até hoje, só eu continuei a jogar. Nunca esqueço o que sou, a mulher forte que me tornei, graças a minha família", afirmou.

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