Descrição de chapéu The New York Times

Denver Nuggets é surpresa para todos na NBA, menos para o próprio time

Equipe conta com talentos de Murray e Jokic para bater Clippers e ir à final do Oeste

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Scott Cacciola
Lake Buena Vista (Flórida) | The New York Times

O jogo, a série de playoffs e a temporada de um time estavam essencialmente encerrados no momento em que Jamal Murray parou para encarar o banco adversário enquanto disparava um passe pelas costas, sem olhar, para Nikola Jokic, a outra metade da dupla temível do Denver Nuggets.

Jokic recebeu o passe e converteu com tranquilidade um de seus arremessos típicos de média distância, para desânimo do Los Angeles Clippers, que respondeu disparando a bola para a quadra adversária, onde Kawhi Leonard e Paul George falharam em duas tentativas consecutivas de arremesso de três pontos.

Lá, em uma sequência exemplar de 30 segundos, estava o resumo de uma série de playoffs que surpreendeu quase todo mundo, exceto os Nuggets, que encontraram uma maneira de triunfar, enquanto o adversário entrava em colapso.

Que comece a autópsia, no Clippers, cuja temporada se encerrou na noite desta terça-feira (15) com uma derrota por 104 a 89 diante dos Nuggets no jogo sete da semifinal da conferência oeste da NBA.

Técnico comemora ao lado de jogadores, que se abraçam
O técnico Mike Malone, o pivô Nikola Jokic e armador Jamal Murray são os elementos centrais do surpreendente Denver Nuggets - Kim Klement/USA TODAY Sports

Um ano atrás, os Clippers apostaram todas as fichas em um experimento grandioso para atrair Leonard e George a Los Angeles, onde havia esperanças —mais que isso, expectativas— de uma jornada rumo ao título.

Em lugar disso, os Nuggets enfrentarão o Los Angeles Lakers nas finais da conferência, depois de virar série após série.

“Estou muito orgulhoso”, disse Michael Malone, o treinador dos Nuggets, cuja equipe iniciará a série contra os Lakers na noite de sexta-feira (18).

“Todo mundo se dedicou, ninguém perdeu a concentração, eles acreditaram uns nos outros e em si mesmos. Diante de todo o ruído, fora da série, no sentido de que não tínhamos chance —havia gente que garantiu isso—, descobrimos uma maneira de derrotar um time realmente bom”.

E os Nuggets o fizeram de maneira recorde. Nunca antes uma equipe havia virado desvantagens de três vitórias a uma em duas séries consecutivas de playoffs.

Depois de virar a primeira série contra o Utah Jazz, os Nuggets repetiram a façanha contra os Clippers nas semifinais de conferência, e o fizeram do jeito difícil. O time chegou a estar 16 pontos atrás no jogo cinco, 19 pontos atrás no jogo seis e 12 pontos atrás no jogo sete. Mas venceu os três e decidiu a série.

“Nós nos recusamos a aceitar que exista um time melhor do que o nosso”, disse Jokic.

Na terça-feira, Murray marcou 40 pontos, acertando 15 de seus 26 arremessos de quadra, e nenhum desses arremessos foi mais destrutivo do que a conversão de três pontos que ele conseguiu em “fadeway” (movimento em que o atleta arremessa jogando o corpo para trás) por sobre os braços estendidos de Leonard no final do quarto período, para ampliar a liderança de seu time a 18 pontos.

E temos Jokic, um pivô que faz piruetas com a bola como se estivesse jogando polo aquático em sua Sérvia natal. Ele terminou a partida com16 pontos, 13 assistências e 22 rebotes, e dominou os Clippers o jogo todo. Se eles decidiam dobrar a marcação sobre o sérvio, ele passava a bola para seus colegas, que se infiltravam para enterradas. Se os defensores lhe davam espaço, ele arremessava de média distância.

“Foi literalmente impossível parar Jokic, a série inteira”, disse Doc Rivers, o treinador dos Clippers.

Depois do final da temporada passada, os Clippers apostaram boa parte de seu futuro em uma troca para contratar George, feita a pedido de Leonard, entregando ao Oklahoma City Thunders cinco futuras escolhas de primeira rodada no draft e dois bons jogadores, Shai Gilgeous-Alexander e Danilo Gallinari. Agora mais que nunca é hora de lembrar dessa transação. Os Clippers abriram mão de muita coisa.

A expectativa era de que o time se tornasse capaz de disputar um título imediatamente. Mas mesmo antes da suspensão dos jogos da NBA em março, por conta da pandemia, os Clippers não pareciam estar encontrando uma química e nem conseguiam definir um estilo coeso de basquete que durasse mais que algumas partidas. E esses problemas só se agravaram quando eles chegaram ao Walt Disney World para a retomada da temporada.

Rivers enumerou o tempo que diversos de seus jogadores tiveram de passar fora da chamada “bolha” da NBA, por diferentes motivos: 30 dias, no caso de Montrezl Harrell; 16 dias, para Patrick Beverley; 14 dias, para Lou Williams. “E parte disso ressurgiu para nos prejudicar”, disse Rivers.

Na terça-feira, os Clippers pareciam inertes quando os Nuggets começaram a eviscerar o time no segundo tempo. Leonard e George, juntos, marcaram 24 pontos, e converteram 10 dos 38 arremessos de quadra que tentaram.

“Precisamos de química, precisamos jogar juntos”, disse George quando perguntado o que o time poderia fazer para melhorar. “Quanto mais tempo passarmos juntos, melhores seremos."

Os Nuggets compreendem isso mais claramente do que a maioria dos times.

Ainda desfrutando do brilho da vitória mais significativa da equipe em uma década, Malone refletiu sobre como as sementes para isso haviam sido plantadas na temporada de 2017/2018.

Os Nuggets estavam batalhando para chegar aos playoffs, mas tropeçaram em março, perdendo jogos consecutivos para o Philadelphia 76ers e o Toronto Raptors. Malone organizou uma reunião com os jogadores, para lhes fazer perguntas importantes: quem ainda acreditava que eles poderiam chegar à pós-temporada? E quem queria fazer as malas mais cedo para as férias de verão?

A resposta dos Nuggets foi seis vitórias consecutivas antes da partida final da temporada regular, contra o Minnesota Timberwolves, o time com o qual ele estava empatado na disputa pela oitava vaga de playoffs no oeste. Os Timberwolves haviam adquirido veteranos, como Jimmy Butler, Jamal Crawford e Taj Gibson.

“Eles estavam determinados a vencer”, disse Malone, o que pode parecer dolorosamente familiar para os torcedores do Clippers.

De qualquer forma, os Timberwolves ganharam aquele jogo na prorrogação –os Nuggets ficaram de fora dos playoffs por pouco—, mas Murray e Jokic mostraram muito espírito de competição.

“Nós todos dissemos que tínhamos algo de especial no time”, disse Malone. “E decidimos apostar nisso, permitir que crescesse. Agora estamos começando a colher os resultados."

Existe um elemento de orgulho local, nos Nuggets, que parece ausente em outras equipes (Clippers e Lakers, por exemplo). Os Nuggets selecionaram seus astros no draft. Jokic foi a escolha número 41 no draft de 2014, e Murray a sétima no draft de 2016. A forma pela qual os dirigentes dos Nuggets montaram o time chama a atenção dos jogadores.

“Construímos a equipe do zero”, disse Murray.

Depois do jogo da terça-feira, Jokic e Murray se abraçaram diante da área dos mesários, enquanto os Clippers se retiravam desanimados para o vestiário. Malone olhava para seus jogadores como um pai orgulhoso.

Mais tarde, Murray criticaria sabichões de diversos ramos do basquete —o comentarista Stephen A. Smith e os ex-jogadores Charles Barkley e Shaquille O’Neal, entre outros— por não terem acreditado que os Nuggets tinham chance. Murray disse que desejava “respeito”, e talvez a coisa tenha sido um exercício útil para manter a motivação. Mas também pareceu desnecessária.

Os Nuggets sabem que são capaz esde grandes realizações. E agora todo o mundo mais sabe também.

Tradução de Paulo Migliacci

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