Final entre Lakers e Heat resume quatro décadas de NBA

Histórias entrelaçadas de 2020 contam boa parte da trajetória da liga desde 1980

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São Paulo

Los Angeles Lakers e Miami Heat começarão nesta quarta-feira (30) a decidir uma temporada da NBA sem paralelo em nenhum de seus 73 anos anteriores. Ao mesmo tempo, a decisão de 2020 parece resumir quase tudo o que se deu na liga norte-americana de basquete desde 1980, quando ela partiu de um negócio quase falido a uma força global também sem paralelo.

Há quatro décadas, brotou no campeonato Earvin “Magic” Johnson, que liderou em quadra o time de Los Angeles às conquistas de 1980, 1982, 1985, 1987 e 1988. Auxiliar técnico no primeiro desses triunfos e comandante principal nos outros quatro –por exigência de Johnson–, Pat Riley ajuda a contar uma trajetória cheia de histórias entrelaçadas.

Pat Riley e Magic Johnson têm uma longa história juntos - Rhona Wise - 27.mar.96/AFP

Riley, 75, hoje é presidente do Heat. Magic, 61, deixou em 2019 um posto oficial na direção dos Lakers, mas não sem antes acertar pessoalmente a contratação do craque LeBron James. Assim, após 40 anos, o ex-treinador e o ex-armador estão novamente envolvidos em uma decisão, agora cada um de um lado.

A final de 2020, porém, não oferece apenas um elo com a década de 1980, vitoriosa para a equipe roxa e amarela. A disputa que terá início às 22h (de Brasília), com transmissão da Band e da ESPN para o Brasil, reúne boa parte do que ocorreu no principal campeonato de basquete do mundo desde então.

De alguma maneira, além de Pat Riley e Magic Johnson, são personagens com verdadeira relevância para a decisão nomes como Kobe Bryant e Phil Jackson. LeBron estará em quadra. E estará também graças a Michael Jordan, que teve papel importante para que o torneio chegasse até a final, mesmo com o coronavírus em ação e com os Estados Unidos em ebulição.

A competição está sendo finalizada na “bolha” de Orlando, como se convencionou chamar o ambiente seguro contra a Covid-19 instalado no complexo da Disney. Tudo deu certo até aqui na criação de um espaço antisséptico, porém o campeonato esteve de novo ameaçado quando ocorreu mais um caso (de repercussão) de violência policial contra um homem negro nos EUA.

Os jogadores, que já estavam usando uniformes com frases como “vidas negras importam”, chegaram a organizar um boicote, paralisando o torneio na primeira rodada dos mata-matas e ameaçando abandonar a disputa. Nesse cenário, Jordan, craque com enorme respeito entre eles e atual dono do Charlotte Hornets, agiu para que a bola voltasse a girar.

Os atletas, por fim, decidiram reiniciar a competição, usando a plataforma e os microfones da NBA para apresentar sua indignação antirracista –o que, de fato, têm feito. E, dos 22 times que chegaram à “bolha” para tentar concluir uma temporada sem precedentes, sobraram o Los Angeles Lakers e o Miami Heat, cujas histórias se sobrepõem.

Se Pat Riley tem ligação com os Lakers há 50 anos –ele foi também jogador da equipe e campeão em 1972–, LeBron James tem um elo forte com o Heat. Dirigido por Erik Spoelstra e companheiro de Udonis Haslem –ambos continuam no time da Flórida–, ele levou o Miami a quatro finais seguidas e ganhou duas, entre 2011 e 2014, sob chefia de Riley.

James ainda triunfou com o Cleveland Cavaliers, em 2016, antes de decidir se juntar aos Lakers. E na Califórnia ele abraçou a causa de levantar uma equipe historicamente vitoriosa que vivia momento terrível. Campeão 16 vezes da NBA, o Los Angeles passou seis anos sem nem mesmo chegar aos mata-matas.

LeBron topou em 2018 assinar um contrato de quatro temporadas depois de conversar com Magic Johnson e ganhou a bênção de Kobe Bryant, maior nome na história do time, aposentado dois anos antes. A primeira temporada foi problemática, com uma lesão séria e eliminação na fase de classificação, mas tudo mudou com a chegada de outro ótimo jogador, Anthony Davis.

“Magic, você nos colocou de volta nos trilhos e traçou o caminho para que chegássemos até aqui. Não poderíamos ter feito isso sem você”, afirmou a dona dos Lakers, Jeanie Buss, que também ouviu a opinião de Johnson para demitir o técnico Luke Walton após a decepcionante campanha de 2019/20.

Quem chegou para comandar o grupo de jogadores foi Frank Vogel, indicado pelo ex-treinador Phil Jackson –campeão seis vezes com Michael Jordan no Chicago Bulls, de 1991 a 1998, e cinco com Kobe Bryant no Los Angeles Lakers, de 2000 a 2010. Ex-noiva de Phil, Jeanie bancou a indicação.

Jeanie também jogou suas fichas em Rob Pelinka, que era o empresário de Kobe e se tornou o principal dirigente de basquete da equipe. Ele teve atritos com Magic Johnson –que deixou a diretoria por causa disso–, mas conseguiu dar forma ao elenco que agora briga pelo título da NBA após um longo período de insucessos.

LeBron James vai encarar na decisão seu técnico nos tempos de Miami Heat, Erik Spoelstra - Ronald Martinez - 31.mai.11/AFP

Do outro lado, Pat Riley reconstruiu o Heat sem grandes estrelas após a saída de LeBron. O técnico ainda é Erik Spoelstra, porém a equipe não conta com a força de nomes tão badalados quanto os do adversário. Embora sejam excelentes, Jimmy Butler e Bam Adebayo não têm o peso de James e de Davis, seus rivais a partir desta quarta.

“O Pat é o cara. Nós temos alguns cachorros neste time, mas ele é o cachorrão”, disse Butler, usando uma expressão de difícil tradução. A ideia é que, se não tem superestrelas, o Miami conta com animais ferozes, com fome, capitaneados por Riley.

Também estarão envolvidos na final o ala Andre Iguodala (campeão com o Golden State Warriors em 2015, 2017 e 2018), o ala Danny Green (campeão com o San Antonio Spurs em 2014 e com o Toronto Raptors em 2019), o armador Rajon Rondo (campeão com o Boston Celtics em 2008) e o auxiliar técnico Jason Kidd (campeão como armador do Dallas Mavericks em 2011). Os três últimos estão do lado dos Lakers, que jogam por Kobe.

Bryant morreu em janeiro, aos 41 anos, em um acidente de helicóptero. Desde então, o time grita “1, 2, 3, Mamba” antes e depois de cada jogo, em referência a seu apelido. James e Davis, muito influenciados pelo ídolo, agora têm tatuagens em tributo a ele, homenageado ainda em um uniforme que vem sendo utilizado pela equipe.

Anthony Davis vibra com o uniforme dos Lakers desenhado por Kobe Bryant antes de sua morte; tecido imita escamas de cobra, referência ao apelido Black Mamba - Kevin C. Cox - 20.set.20/AFP

De 1980 para cá, os fatos mais marcantes da liga norte-americana têm alguma conexão com a atípica decisão a ser disputada na “bolha” de Orlando. No ano em que a NBA chora a morte de Kobe e vive uma temporada que chegou a ser interrompida por quatro meses pelo coronavírus, LeBron, Davis, Butler e Adebayo esperam oferecer momentos a serem lembrados daqui a quatro décadas.

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