Ginasta trocou esporte pelo Cirque du Soleil e agora quer ser técnico

Lucas Altemeyer decidiu abandonar sonho olímpico em 2013, após uma série de lesões

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São Paulo

Aos 24 anos, 16 deles dedicados à ginástica artística, Lucas Altemeyer precisou tomar uma decisão. Após três cirurgias no ombro direito, ele percebeu em 2013 que o sonho de disputar a Olimpíada do Rio-2016 havia ficado muito distante.

Até seu técnico, Marcos Gotto, constatou que o jovem não conseguiria ser o atleta de alto nível que desejava.

Lucas Altemeyer atuando pelo Cirque du Soleil
Lucas Altemeyer atuando pelo Cirque du Soleil - Lucas Altemeyer/Arquivo pessoal

"Eu tinha limitações no ombro. A Olimpíada era meu objetivo de vida, mas eu passava por um momento delicado. O Marcos sabia o quanto eu estava frustrado", afirma.

Foi quando um amigo o convidou para mudar de vida. A proposta era viajar ao Canadá e iniciar carreira como artista de circo, em exercícios que lembravam os da ginástica. Para esquecer a tristeza, ele aceitou e passou a ter outro objetivo: chegar ao Cirque du Soleil.

Esse sonho ele realizou, e até o início da pandemia da Covid-19 trabalhou numa das companhias mais prestigiadas do mundo.

Hoje, aos 31 anos, Altemeyer está de volta à sua casa, em São Bernardo do Campo (na Grande São Paulo). Retornar ao marco zero marca o reencontro com a ginástica e o início do que ele deseja ver como uma nova carreira: a de técnico.

"Pensei ser o momento de voltar ao meu ponto de origem. Vou começar com um estágio com o Marcos Gotto. Fiquei alguns anos fora, e a ginástica evolui. Há mudanças, os movimentos são mais difíceis e complicam os atletas. Preciso fazer uma retomada", diz.

Altemeyer foi atleta da seleção brasileira juvenil e infantil. Era companheiro de Arthur Zanetti, ouro em Londres-2012 e prata na Rio-2016 nas argolas. Apesar de se considerar generalista, gostava mais da barra fixa. "Isso me fez dar certo no circo", afirma.

Hoje, ele constata que suas lesões no ombro ocorreram pelo desleixo da juventude. Por acreditar ser invencível, não fazia recuperação como devia. Não descansava a articulação e ignorava os conselhos dos técnicos.

Teve deslocamento do lábio do ombro aos 19 anos e passou por cirurgia. Meses depois, se submeteu a mais uma, para limpeza. Outra foi necessária por causa de infecção hospitalar e a última, aos 21, para resolver lesão no tendão do bíceps.

"Fiquei quase dois anos sem treinar direito", recorda.

O primeiro convite para trabalhar no entretenimento veio do circo Cavalia, no Canadá, ligado ao Cirque du Soleil. O passado de ginasta o ajudou a se adaptar a diferentes espetáculos e números em que eram necessárias força, equilíbrio e impulso. O que não significa ter sido fácil.

"É uma mudança de mentalidade. O ginasta é muito quadrado. Tem de ser perfeito na frente do juiz. No circo, isso é desconstruído. Em um show, as pessoas não sabem o que você vai fazer. Qualquer coisa que você faça as pessoas acham fazer parte da apresentação. No começo, eu era muito robô e diziam que deveria ter mais liberdade. Demorei para aceitar, mas quando aconteceu, passei a me divertir mais e transmitir alegria", analisa.

Como se destacou na nova função, surgiu o convite para o Cirque du Soleil em apresentações no Hotel Bellagio, em Las Vegas, nos Estados Unidos. No mundo do circo, o brasileiro havia chegado ao que seria sua Olimpíada no esporte.

Enquanto ainda estava no Canadá, em 2018, ele foi um dos ex-atletas que denunciaram o ex-treinador da seleção brasileira Fernando de Carvalho Lopes em reportagem da Globo. Altemeyer afirma ter sido vítima de abuso sexual entre os 13 e 15 anos. Lopes, que se tornou réu no ano passado, nega todas as acusações.

Lucas Altemeyer nos tempos de atleta da seleção brasileira de base
Lucas Altemeyer nos tempos de atleta da seleção brasileira de base - Lucas Altemeyer/Arquivo pessoal

"Eu decidi falar para dar apoio para outros atletas que já haviam feito denúncias e passado pelas mesmas coisas. Eu saí brigado com ele [do Mesc, Movimento de Expansão Social Católica, onde treinava]. Eu era um dos caras que não aceitavam as coisas que ele fazia, e ele resolveu me tirar", relata.

A ideia de se tornar técnico apareceu, em parte, por causa do coronavírus. A doença fez com que o Cirque du Soleil, com as atividades paralisadas, entrasse com um pedido de recuperação judicial por causa de dívidas superiores a US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,5 bilhões) —4.679 funcionários acabaram demitidos ou tiveram o contrato cancelado.

O brasileiro foi um deles e a partir daí pensou em voltar à ginástica, universo em que colecionou alegrias e decepções.

"Como a decisão de deixar o esporte aconteceu do dia para a noite, eu me questionava se fiz o certo. No Brasil, dentro do mundo da ginástica, eu era conhecido. Quando cheguei ao circo, não era ninguém. Eu coloquei na cabeça que ia chegar a algum lugar. Mas tudo isso aconteceu por causa de um momento muito triste na minha vida, que foi perceber que eu não seria atleta olímpico", finaliza.

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