Descrição de chapéu Futebol Internacional

Leitura labial, racismo e homofobia: como está o caso Neymar

PSG usará reportagem da Globo na acusação contra zagueiro espanhol

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São Paulo

Neymar pode voltar a campo pelo Campeonato Francês no próximo domingo (27), no duelo do Paris Saint-Germain (PSG) contra o Reims, após ficar suspenso por duas partidas. O desfecho do possível caso de racismo sofrido pelo brasileiro, no entanto, ainda parece distante.

O camisa 10 foi expulso na estreia do torneio, contra o Olympique de Marselle, e acusou o defensor adversário Álvaro González de racismo. O rival nega e a Liga Francesa investiga o caso.

No último domingo (20), uma reportagem do Esporte Espetacular, da TV Globo, ouviu três especialistas em leitura labial e identificou que González teria dito a palavra “mono” para Neymar, que em espanhol significa macaco.

“A gente não conseguiu, por exemplo, perceber o que ele fala antes de falar a palavra 'mono'. Mas a palavra 'mono' foi um trecho que a gente teve consenso na hora em que estava fazendo o trabalho de leitura labial”, explicou na reportagem Felipe Oliver, tradutor de libras do Instituto Nacional de Educação de Surdos.

Neymar afirma que o adversário o xingou de "macaco filha da puta". Um vídeo, esse com áudio, ainda flagra o camisa 10 falando para o quarto árbitro do jogo: "racismo, não".

Ainda segundo a Globo, o PSG irá utilizar a matéria da emissora na argumentação do caso. O Olympique afirma que González não foi racista. Em uma entrevista na Espanha, um tio do jogador diz que a palava dita pelo sobrinho teria sido “bobo”, que na tradução do espanhol significa “idiota”.

Segundo o jornal francês Le Parisien, o PSG também teria a seu favor uma câmera exclusiva da emissora qatari BeIN Sports (cujo dono é o mesmo do clube), que acompanhou Neymar durante toda a partida e poderia esclarecer o caso.

Já o canal de televisão espanhol Gol teria identificado, também por leitura labial, uma suposta ofensa homofóbica por parte do brasileiro.

Segundo a análise, Neymar teria respondido aos insultos do adversário dizendo “puta maricon”, que em português significa "puto viado".

Noël Le Graët, presidente da Federação Francesa de Futebol, adotou linha polêmica sobre o caso. “O fenômeno do racismo no esporte, e no futebol em particular, não existe ou quase não existe”, disse ao canal RCM.

“Em um jogo, pode haver problemas. Mas temos menos de 1% de dificuldade hoje. Quando um negro marca um gol, todo o estádio aplaude”, completou.

Em entrevista à RFI Brasil para analisar as acusações de Neymar, Oren Gostiaux, presidente da Comissão de Esportes da Liga Internacional Contra o Racismo e o Antissemitismo francesa, afirma que “houve agressões verbais, mas foram mesmo agressões racistas e homofóbicas? É importante saber. Há duas coisas que precisam ser esclarecidas nesta investigação”.

“[É necessária] uma ação pedagógica com essas duas equipes para mostrar que é preciso dar um basta nesse comportamento e nesses atos”, completa.

A discussão entre Neymar e González aconteceu ainda no primeiro tempo, mas o brasileiro só acabaria expulso no final da partida, quando em meio a uma confusão em campo, agrediu o adversário com um golpe na nuca.

Após o incidente, o brasileiro foi efusivo nas suas redes sociais, criticou o VAR por apenas checar a sua agressão e não a ofensa e ainda afirmou que a única coisa da qual se arrepende é de "não ter dado na cara desse babaca".

Depois, abaixou o tom e disse que o caso mostra a necessidade de uma reflexão, que aceita sua punição (de dois jogos) e que espera que o adversário também seja punido.

Neymar e Álvaro González discutem durante partida do Campeonato Francês
Neymar e Álvaro González discutem durante partida do Campeonato Francês - Gonzalo Fuentes - 13.set.2020/Reuters

"Fico triste pelo sentimento de ódio que podemos provocar quando no calor do momento nos revoltamos. Deveria ter ignorado? Não sei ainda... Hoje com a cabeça fria respondo que sim, mas oportunamente eu e meus companheiros pedimos ajuda aos árbitros e fomos ignorados.", escreveu nas redes sociais.

"No nosso esporte, as agressões, insultos, palavrões são do jogo, da disputa. Não dá para ser carinhoso. Entendo esse cara em parte. Faz parte do jogo. Mas o preconceito e a intolerância são inaceitáveis", completou.

González, que recebeu apoio do clube e de colegas, é investigado pela Liga pelo suposto ato racista e pode ficar de fora de até 10 jogos —não foi revelado se o brasileiro também pode ser punido pela possível ofensa homofóbica.

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