Miami ressurge como candidato ao título da NBA com aposta em lado B

Equipe derruba Antetokounmpo apoiada em astro controverso e coadjuvantes surpreendentes

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São Paulo

Responsável por inaugurar o que ficou conhecido como a era dos “supertimes” da NBA, o Miami Heat chegou a quatro finais seguidas e ganhou duas delas, em 2012 e 2013, em torno dos talentos de LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh. Antes, em 2006, triunfou com Wade e Shaquille O’Neal.

Agora, busca o tetra com Jimmy Butler como principal jogador e uma fórmula bem diferente.

A equipe da Flórida tem um astro que rodou pela liga sem criar raízes ou conseguir resultados expressivos, veteranos descartados por adversários ou pelo próprio Heat e garotos que chegaram ao campeonato sem maiores expectativas. É esse o grupo que surpreendeu e levou o Miami à final da Conferência Leste após seis anos.

Classificado com a quinta campanha do Leste, o time começou os playoffs atropelando o quarto colocado, Indiana Pacers. Depois de fazer 4 a 0 em uma série que se apresentava equilibrada, encontrou o Milwaukee Bucks, dono do melhor aproveitamento da primeira fase, e se impôs vencendo a melhor de sete jogos por 4 a 1.

Principal nome dos Bucks, eleito o melhor da última temporada e favorito a levar de novo o prêmio, Giannis Antetokounmpo não disputou a última dessas partidas, machucado. Mas mesmo quando o grego esteve em quadra a esperada superioridade do Milwaukee foi sufocada pelo bem dirigido grupo de Erik Spoelstra.

Comandante dos títulos do Heat com LeBron, Wade e Bosh, Spoelstra precisou se reinventar quando o chamado “Big 3” foi desfeito, em 2014. De finalista perene a ausente dos playoffs em 2015, o treinador percebeu que precisava mudar um estilo que priorizava resultados de curto prazo e gerava atritos.

“Eu tive que refletir e me recalibrar. Decidi ser um tipo diferente de técnico, algo mais próximo da minha identidade, do que busco. Tive que me desculpar com jogadores no caminho. Eu não era o técnico que queria ser e, mais importante, não era o técnico que eles precisavam que eu fosse”, diz o profissional de 49 anos.

Ele, então, habituou-se a trabalhar e ter sucesso com atletas dispensados por outras equipes, como Rodney McGruder e Wayne Ellington. Houve bons momentos e frustrações até que o elenco, por um caminho bem distinto do traçado uma década antes, voltasse a ter novamente força para brigar pela taça na temporada 2019/20.

O técnico Erik Spoelstra mudou seu estilo e passou a sorrir mais quando passou a trabalhar com elencos menos estrelados - Kevin C. Cox/USA Today Sports

Pat Riley, 75, que foi o treinador na conquista de 2006 e é o presidente da equipe, resolveu jogar suas fichas em Jimmy Butler. Não era uma escolha óbvia apostar no ala, hoje com 30 anos, que havia passado por Chicago Bulls, Minnesota Timberwolves e Philadelphia 76ers com mais problemas disciplinares do que resultados expressivos.

Mas Riley confiou na cultura linha-dura estabelecida desde os tempos em que era o técnico e também contou com alguma sorte na montagem do grupo ao redor do camisa 22.

Justamente para abrir espaço na folha salarial para a chegada de Butler, ele encaminhou uma troca que levaria Goran Dragic ao Dallas Mavericks. Por uma falha de comunicação em torno dos nomes envolvidos no negócio, o Dallas desistiu no último instante. O veterano Dragic, 34, ficou e agora é uma peça-chave na surpreendente campanha.

O jeito para se ajustar ao teto de gastos imposto pela NBA foi liberar o inconsistente pivô Hassan Whiteside para o Portland Trail Blazers. E a transferência acabou abrindo espaço para o antes reserva Bam Adebayo, 23, que acabou sendo nomeado para o Jogo das Estrelas ao lado de Butler e ficou em segundo na eleição do jogador que mais evoluiu na temporada.

Houve ainda outro golpe de sorte. Já no meio do campeonato, em um esforço para contratar o ala Andre Iguodala, 36, tricampeão com o Golden State Warriors, Riley acertou uma troca que lhe trouxe como contrapeso Jae Crowder, 30. Mais um na lista dos que renasceram sob Spoelstra, ele vem tendo papel mais importante do que o de Iguodala.

O ala se mostrou fundamental para frear Antetokounmpo no duelo com os favoritos Bucks. Um triunfo que não teria sido possível sem a sufocante defesa do Heat e sem a personalidade de jovens que de repente se viram como peças valiosas de um time postulante ao título.

Jae Crowder dificultou a vida de Antetokounmpo - Kim Klement - 31.ago.20/USA Today Sports

Kendrick Nunn, 25, era no início da última temporada reserva do Santa Cruz Warriors, equipe de aspirantes do Golden State Warriors. Duncan Robinson, 26, estava na reserva dos reservas do Heat àquela altura. E Tyler Herro, 20, nem figurava na NBA, à qual chegou como 14ª escolha do draft, sem as perspectivas de outros calouros.

Decisivo para fechar a série contra os Bucks, Herro agora é o primeiro homem nascido nos anos 2000 a chegar a uma final de conferência da NBA –contra Boston Celtics ou Toronto Raptors. Há uma notória alegria pela campanha surpreendente, porém o garoto e seus companheiros acham que ela ainda pode se estender.

“Significa muito”, afirmou Butler, que jamais havia chegado tão longe nos mata-matas. “Mas não é meu objetivo, não é a meta dos nossos caras, não é a meta da direção. Queremos ganhar. Queremos o campeonato. As próximas oito vitórias vão ser mais difíceis do que as últimas oito. Sabemos disso, mas estamos prontos.”

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