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Roland Garros tem frio, umidade e bolas novas como desafios extras

Mudanças no Grand Slam de Paris, deslocado de data, afetam a vida dos tenistas

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Matthew Futterman
The New York Times

É uma velha história. Uma incursão a Paris, com esperança de sol e céu azul. Mas em lugar disso o clima é frio e o vento é gelado, o céu está cinzento e de vez em quando chove.

O clima desta semana não é de maneira alguma ótimo para o tênis, e não é o clima a que os tenistas estão acostumados em Roland Garros. E isso está causando toda espécie de dificuldade para jogadores acostumados a suar pesado sob o sol do final de primavera e a ver as bolas zunirem pelo ar quente e seco ao atingi-las com suas raquetes, e pipocarem com firmeza no saibro em geral duro.

Mas com temperaturas na casa dos 14 graus, vento forte e chuvas intermitentes durante todo o primeiro dia do torneio, Simona Halep, Coco Gauff e Johanna Konta estavam entre os jogadores que optaram por usar calças e mangas compridas. Andy Murray também jogou de pernas cobertas em sua derrota para Stan Wawrinka, que estava usando uma camisa de gola alta mas mangas curtas.

As mudanças de figurino podem ajudar os principais tenistas do planeta a ajustar a temperatura de seus corpos, mas a adaptação a uma bola que parece uma pedra ao ser tocada pelas cordas das raquetes pode se provar mais difícil.

Victoria Azarenka, finalista do US Open e que venceu com facilidade sua partida de primeira rodada contra Danka Kovinic no domingo, tinha um alerta às pessoas que esperavam que o torneio fosse parecido com edições anteriores.

“Não vai ser um Roland Garros comum, com as bolas quicando alto e quadras rápidas”, disse Azarenka recentemente. “Teremos de nos adaptar a cada dia."

“Está frio, a quadra está pesada, jogar é mais difícil”, disse Dominic Thiem, que ganhou o US Open duas semanas atrás explorando a potência de seu forehand.

Manter-se aquecido é uma coisa. Já termodinâmica é algo muito diferente.

Rafael Nadal, detentor de 12 títulos de Roland Garros, que jogará na primeira rodada contra Egor Gerasimov, de Belarus, nesta segunda-feira (28), não está tão contente, especialmente porque seu jogo depende de um topspin pesado que faz com que seus golpes saltem bem alto por sobre os olhos dos oponentes.

“Temos bolas novas, e bolas muito mais lentas do que em anos anteriores”, disse Nadal em entrevista coletiva durante o treinamento, na semana passada. “E, levando em conta o frio e a umidade, elas perdem impulso."

De fato, além de mudar o momento do torneio do começo do segundo para o final do terceiro trimestre por conta da pandemia, os organizadores também trocaram o fornecedor de bolas e patrocinador, da Babolat para a Wilson.

Mas Guy Forget, o diretor do torneio, disse que as bolas da Wilson passaram por uma série de testes de desempenho e que bola alguma consegue superar os efeitos do tempo frio e úmido, que deve persistir pelos próximos dias.

A umidade e o frio molham a bola e a tornam mais pesada. Uma bola úmida também recolhe saibro ao quicar, o que aumenta seu peso.

Também existem forças menos evidentes que despertarão memórias em qualquer pessoa que tenha passado por aulas de física no segundo grau.

Temperaturas mais quentes elevam a velocidade e a energia cinética das moléculas que formam a bola. Quando uma bola quica no chão, ela se comprime e depois retoma seu tamanho pleno. Quanto mais rápido as moléculas se moverem, mais energia cinética e mais repique elas produzirão.

Além disso, o ar quente é ligeiramente menos denso do que o ar frio, permitindo que a bola viaje mais rápido e por mais tempo porque o arrasto é menor, especialmente no caso das bolas de tênis, cujas superfícies não são lisas.

“Quanto mais rápido dependerá das diferenças de temperatura presumidas entre o tempo frio e o quente”, disse Adrian Bejan, professor de engenharia mecânica na Universidade Duke e especialista em termodinâmica.

Bejan disse que uma umidade maior pode ajudar e que, em uma quadra dura, o ar úmido, que é um pouco menos denso do que o ar seco, pode permitir que a bola se mova mais rápido. Mas o saibro adicional que a bola úmida acumulará a cada ponto bem pode diminuir esse efeito.

Rafael Nadal de máscara
Rafael Nadal gosta de condições que permitam fazer a bola subir após o quique - Gonzalo Fuentes/Reuters

“Algumas das bolas que estamos usando eu não daria a um cachorro para mastigar”, disse Daniel Evans, do Reino Unido, que perdeu para Kei Nishikori, do Japão, em cinco sets, no domingo. “É difícil colocar a bola onde você quer."

Forget, que chegou a deter o quarto posto no ranking mundial de simples do tênis masculino, ofereceu o seguinte conselho aos jogadores que estejam preocupados com o comportamento não tradicional das bolas em um momento no qual nada é como costumava ser nos torneios de Grand Slam: aprendam a lidar com isso, do mesmo jeito que lidam com a grama molhada que caracteriza os primeiros dias de Wimbledon, comparada às quadras duras e secas da segunda semana daquele torneio.

“Isso é parte do que é o tênis, jogar em condições diferentes”, disse Forget. “O jogador precisa se ajustar."

Os ajustes podem ser psicológicos ou técnicos. A providência mais básica para os jogadores é soltar um pouco o encordoamento. Cordas mais frouxas ampliam o efeito trampolim. John Isner, tenista americano conhecido pelos saques fortes, reduziu a tensão de suas cordas em cerca de 15%.

Mas as mudanças não incomodam a todos.

“Eu? Eu gosto das bolas”, disse Daniil Medvedev, tenista russo em ascensão e dotado de um arsenal de jogadas excêntricas, que sempre teve dificuldade para avançar em Roland Garros e fará sua estreia no torneio nesta segunda-feira. “O tênis é um esporte divertido e interessante. Às vezes um jogador não gosta de alguma coisa, mas outro gosta. Até agora, estou amando."

Como quase sempre acontece em Roland Garros, a conversa pode bem começar e acabar no desempenho de Nadal. Ele teve dificuldades em Roma, há duas semanas. O torneio também aconteceu com temperatura inferior à usual, e Nadal perdeu por 2 sets a 0 diante de Diego Schwartzman, e suas bolas não pareciam ter a energia usual.

Nadal passou boa parte da pandemia treinando em sua região de origem, Mallorca, Espanha, uma área de clima quente. Depois de um dia de torneio em Paris, uma coisa está bem clara: ele não está mais em Mallorca.

“Temos de nos manter positivos”, disse Nadal. “Temos de jogar com estas bolas, e preciso encontrar meu melhor jogo."

Tradução de Paulo Migliacci

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