Tom Brady, 43, quer voltar a se provar com desafio na Flórida

Quarterback tem missão de liderar Tampa Bay Buccaneers até o Super Bowl

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Ben Shpigel
The New York Times

Alguns meses atrás, Ronde Barber, que foi cornerback e um dos astros do Tampa Bay Buccaneers, recebeu uma mensagem de um conhecido que havia se mudado para perto dele em Tampa, Flórida, e queria marcar um encontro.

Os dois jogaram uma partida de golfe no exclusivo Pelican Golf Club, e Barber aproveitou para exaltar o clima, a cultura e a cidade, dizendo que, mesmo com mais de três milhões de moradores, a região continua a parecer pequena, relaxada e administrável.

E isso acontecia, disse Barber, porque ele nunca sentiu o peso de sua fama morando lá. Tom Brady, que tinha acabado de se mudar para a Flórida e é o jogador de futebol americano mais conhecido do planeta, concordou com o colega.

E Barber lhe disse: “Esta cidade está pronta para amá-lo, cara”.

Brady respondeu: “Estou aqui para trabalhar”.

Brady passou duas décadas incomparáveis jogando pelo New England Patriots, antes de levar esse espírito de trabalho para Tampa Bay, quando os Buccaneers decidiram aproveitar seu desejo de uma mudança de ares, no final da carreira, em uma tentativa descarada de restaurar a honra e as esperanças de playoff de uma equipe em crise há anos.

Brady confia em que, no processo, se ele treinar firme e liderar os colegas de time, em breve estará vencendo muitos jogos de futebol americano, e que isso trará outras recompensas.

E as recompensas já começaram a surgir para Brady, 43, na Flórida, onde, como Barber disse, os torcedores se apaixonaram por ele instantaneamente ainda que só conheçam o quarterback, casado com Gisele Bündchen, como caricatura: seu amor pelos calçados UGG e pela alimentação saudável; seu desejo de gerar um espírito vitorioso em tudo e todos com quem ele entra em contato.

Brady assinou seu contrato nos estágios iniciais de uma pandemia que, seis meses mais tarde, ainda persiste, o que garantiu que a contratação mais importante da história do time –um fenômeno do esporte internacional escolheu jogar em Tampa– faça sua estreia em um estádio vazio.

Sem os preparativos tradicionais –treinos abertos e partidas de pré-temporada–, os torcedores tiveram de expressar sua adoração em geral de longe, o que pode até ser melhor, em nossa era de distanciamento social.

O quarterback Tom Brady durante treinamento do Tampa Bay Buccaneers, na Flórida
O quarterback Tom Brady durante treinamento do Tampa Bay Buccaneers, na Flórida - Kim Klement - 3.set.20/USA Today Sports

Shanon Greenwood, 20, encontrou-se com Brady duas vezes em sete semanas, e tirou uma selfie com o atleta enquanto ele jogava golfe em Tarpon Springs, em abril, e depois vendo-o passar em um scooter elétrico, passeando com os cachorros em Davis Islands, a comunidade ao sul do centro da cidade onde ele mora. Baixando a janela do carro, Greenwood perguntou se estava mesmo vendo Tom Brady.

“Eu disse que já tínhamos nos encontrado no clube de golfe, e ele respondeu que era ótimo me ver de novo”, disse Greenwood, que vive em Trinity, no subúrbio de Tampa, em entrevista. “E eu respondi que sim, eu também.”

Muita gente (muita gente mesmo) deu um jeito de passar pela mansão de 2,7 mil metros quadrados que ele alugou de outro famoso homem de Michigan casado com uma top model, Derek Jeter, jogador de beisebol do New York Yankees. Os curiosos vêm por terra, lotando as ruas tranquilas, e por mar, atracando seus barcos na baía em que fica a casa de Brady, forçando a vista para tentar vê-lo.

Na rua em que ele mora, Bahama Circle, costuma haver mais ciclistas e cachorros do que automóveis. Mas certa manhã de abril, pouco depois que Brady se mudou para a casa, uma corrente constante de trânsito surgiu a caminho de lá, o que levou o vizinho do atleta, John Hotchkiss, e sua mulher, Karen, a subir ao terraço no topo de sua casa para contemplar a cena. Em 20 minutos, eles contaram 163 carros e carrinhos de golfe passando pela rua bem devagar.

“Não sei qual era a expectativa de todo mundo quanto a Brady”, disse John Hotchkiss, 46, que vive em Davis Islands há 21 anos. “Será que as pessoas esperavam que ele saísse de casa e se tornasse o melhor amigo dos visitantes? Talvez o pessoal estivesse tentando fotografar Gisele”.

Foi por um sentimento de amor e, principalmente, descrença, que Matt Algeri – vestindo um uniforme do Buccaneers e com o rosto pintado de preto e vermelho – se viu em um barco passando pelos fundos da casa de Brady, algumas semanas atrás, e gravando um vídeo com amigos para falar do jogador.

Algeri disse que “essa coisa toda é completamente surreal”.

Seis vezes campeão, o número de Super Bowls que Brady venceu equivale ao de jogos de playoff que o Tampa Bay Buccaneers disputou em suas 44 temporadas na NFL.

Os Buccaneers terminaram na última posição da divisão NFC Sul em sete das últimas nove temporadas. E a futilidade geral de seu desempenho depois de conquistar seu único título, na temporada de 2002 –duas participações em playoffs (duas derrotas) e o quarto mais baixo total de vitórias da liga no período, de acordo com o serviço de estatísticas Pro Football Reference –despertou anseios profundos em torcedores como Algeri.

Não por uma posição dominante no futebol americano, mas sim por simples competência.

Para Algeri –e também para Barber–, Brady conjura a chegada de Jon Gruden, o treinador que levou o Tampa Bay à sua solitária vitória no Super Bowl na temporada de 2002. Em um time já repleto de talento defensivo, e que conseguiu melhorar seu ataque contratando “free agents”, foi a chegada de Gruden, disse Barber, que “propiciou a faísca que faltava” para levar os Bucs a um título.

“Se você começa a ganhar de primeira”, disse Barber em entrevista, “dá a todos motivo para acreditar que foi a sua presença que fez o time subir de nível”.

Da mesma forma que Gruden declarou em sua primeira reunião com o time que estava lá para ganhar um Super Bowl naquela temporada –“foram as primeiras palavras que saíram de sua boca”, segundo Barber–, Brady é governado por uma urgência semelhante. Ele aprecia muito cada uma de suas vitórias em Super Bowls. Mas gosta de dizer que sua favorita é sempre a próxima.

A busca de um sétimo título por Brady o levou, diante do fechamento das instalações dos clubes e cancelamento de atividades oficiais por conta da pandemia, a improvisar. Com colegas de time novos, com os quais precisava se acostumar, e um novo estilo de ataque para aprender, Brady recorreu a intermediários para organizar um campo para treinos na Berkeley Preparatory School, em Tampa, e fez dele sua base.

O quarterback Tom Brady prepara lançamento em treino do Tampa Bay Buccaneers, na Flórida
O quarterback Tom Brady prepara lançamento em treino do Tampa Bay Buccaneers, na Flórida - Douglas P. DeFelice - 8.set.20./AFP

O diretor da escola, Joseph Seivold, prometeu privacidade e discrição ao jogador, embora tenha dito que Brady não fez exigências quanto a isso.

“Ele não se comportou como diva, de maneira alguma”, disse Seivold.

Quando os Buccaneers divulgaram a notícia sobre os treinos de Brady, em maio, apesar das restrições causadas pelo distanciamento social, ele não ficou zangado. Em lugar disso, considerou que era inevitável que a notícia tivesse circulado, já que estava treinando em segredo há pelo menos sete semanas.

Brady chegou antes de o dia nascer para sua primeira sessão, em 4 de abril, com seu veterano preparador físico Alex Guerrero e três colegas de time, os recebedores Chris Godwin e Scotty Miller e o tight end Cameron Brate. Eles não precisavam de muito mais que um campo e uma bola para começar o trabalho.

Só Brady sabe o que o motiva, se ele sente que ainda tem algo a provar agora que está desligado de Bill Bellichick e com energia renovada pela presença de uma frota de recebedores muito talentosos. Para um homem cujo legado no futebol americano é conquistar títulos, parece óbvio que vencer um Super Bowl que acontecerá em sua nova cidade seria um incentivo a mais.

Não muito tempo atrás, Barber foi à sede dos Buccaneers para ver Brady treinando. Ele passou boa parte do treino fascinado pelo jeito da bola ao sair da mão de Brady, e sua forma de operar o ataque –em outras palavras, pelo fato de que o atleta sempre parece tomar a decisão certa.

O quarterback deixou o nordeste do país em busca de uma oportunidade melhor em outro lugar, atraído pela perspectiva de satisfação profissional e realização pessoal, o que pode resultar em um magnífico pôr-do-sol.

Tradução de Paulo Migliacci

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