Presidente do COB tenta eleger secretário de Caiado para cargo estratégico

Chefe da Segurança Pública de Goiás tem apoio de Paulo Wanderley por vaga em conselho

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São Paulo

Dentre os sete candidatos para a cadeira de membro independente do conselho de administração do Comitê Olímpico do Brasil (COB), um nome tem chamado a atenção dos envolvidos no pleito, marcado para a próxima quarta-feira (7).

O delegado aposentado da Polícia Federal Rodney Rocha Miranda, 56, é ex-prefeito de Vila Velha (ES), atual secretário de Segurança Pública do governo de Ronaldo Caiado (DEM) em Goiás e filiado ao partido Republicanos.

Brasiliense, Rodney já chefiou a mesma pasta em Pernambuco e no Espírito Santo, onde também se elegeu deputado estadual.

Rodney Miranda (esq.) ao lado do governador de Goiás, Ronaldo Caiado
Rodney Miranda (esq.) ao lado do governador de Goiás, Ronaldo Caiado - Divulgação

Agora, concorre à cadeira independente de um órgão-chave na estrutura do COB e para isso conta com o apoio do atual presidente da entidade e candidato à reeleição, Paulo Wanderley. A escolha do mandatário do próximo quadriênio será feita no mesmo dia 7.

"Não tenho relação formal nenhuma com o esporte, tenho uma boa relação com o Paulo Wanderley. Aliás, mais com o genro dele, que é juiz no estado do Espírito Santo, Carlos Eduardo Ribeiro Lemos", afirmou Rodney à Folha.

O secretário enfrenta a concorrência de seis postulantes para a vaga. Segundo ele, caso eleito, pretende ajudar com seu conhecimento de gestão, advocacia e da área de compliance.

Nos bastidores, Paulo Wanderley tem pressionado opositores e feito campanha pelo ex-delegado, na tentativa de garantir mais uma cadeira aliada no órgão.

Fabiana Bentes, presidente da ONG Sou do Esporte, pretendia concorrer à vaga independente do conselho, mas retirou sua candidatura há duas semanas.

Ela afirmou que foi procurada por um representante de Paulo Wanderley, que a comunicou que o dirigente não iria participar do debate entre candidatos à presidência organizado pela associação, uma vez que o evento seria mediado por Bentes.

“Não sofri intimidação. Na interpretação dele, era um conflito de interesses, e como a SDE [Sou do Esporte] é neutra, eu, para evitar qualquer interpretação nesse sentido, retirei a candidatura”, disse.

O debate aconteceu na última quinta-feira (1º). Paulo Wanderley não apareceu. Segundo Bentes, nem sequer respondeu a nenhum dos cinco convites para o evento virtual, que teve os dois nomes de oposição, Rafael Westrupp e Helio Meirelles.

O conselho de administração é composto por 17 membros: presidente e vice do comitê; presidente e vice da comissão de atletas; dois membros do Comitê Olímpico Internacional (COI); nove representantes das confederações de modalidades olímpicas e dois nomes independentes (apenas um será renovado em 2020).

Estes dois últimos assentos são considerados estratégicos, pois são os únicos em que os postulantes não precisam integrar outra entidade ou comissão para serem elegíveis.

O órgão é responsável, entre outras coisas, por propor reformas no estatuto do COB e aprovar contratos superiores a R$ 1 milhão. É também onde passam o orçamento, as demonstrações financeiras e o relatório de gestão da entidade.

Representantes de confederações, atletas e outras pessoas ligadas ao esporte brasileiro afirmaram à Folha, sob condição de anonimato, estarem surpresos não só com a candidatura de Rodney, mas também com o apoio do atual presidente a alguém pouco ou nada conhecido na área.

Um candidato disse que, se o presidente do COB pede votos, o membro deixa de ser independente, e a tendência é que atue de acordo com os interesses de Paulo Wanderley (seja este reeleito ou não).

“Vou atuar, como sempre, de maneira profissional e isenta. Vou dar minha opinião, sem margem de contestação, uma opinião técnica”, respondeu Rodney quando questionado sobre um possível conflito de interesses.

Além dele, concorrem Ricardo Leyser (ex-ministro do Esporte), Marcus Vinícius Freire (diretor-executivo do COB na era Nuzman e ex-jogador de vôlei medalhista de prata nos Jogos de 1984, em Los Angeles), Georgios Stylianos Hatzidakis, Adriana Sanches dos Santos, Maria Pia Buchheim e Willian Miotto Nadir.

"Conheço o Rodney, o Leyser, o Marcus Vinícius. Tenho bom relacionamento com todos. Mas o meu foco é em pedir votos para nossa chapa à presidência do COB", afirmou Paulo Wanderley, por meio de sua assessoria de imprensa.

Não é a primeira vez que ele tenta colocar o aliado no comitê. Antes, tentou alocá-lo no conselho de ética, mas esbarrou em empecilhos da carreira política do atual secretário.

O ex-delegado afirmou que já avisou Caiado da empreitada esportiva e que não precisaria deixar o cargo no governo, mesmo com a sede do COB no Rio de Janeiro.

“É uma função que não precisa de comparecimento ‘full time’, só uma vez por mês, no máximo duas. Caso haja necessidade de deslocamento para o Rio, o que acredito que não vá haver porque acho que as videoconferências vão continuar depois da pandemia, peço desconto do meu salário, se precisar me ausentar", disse.

Ex-colegas da Polícia Federal o descrevem como alguém de bom trato diário, mas que teve pouco destaque na carreira, até por ter passado boa parte dela afastado, participando da política.

Neste ano, o secretário foi acusado por Jorge Caiado, primo do governador de Goiás e influente na área de segurança pública, de desvio de dinheiro e de fazer uso de escutas ilegais. Rodney nega qualquer irregularidade, e a Polícia Civil goiana pediu o arquivamento desse inquérito.

Em 2005, ele se envolveu com outra polêmica de escutas telefônicas. Na ocasião, a Rede Gazeta descobriu que uma das linhas de sua sede, utilizada por jornalistas e outros funcionários, estava grampeada a pedido do então secretário de Segurança Pública do Espírito Santo.

Rodney afirmou que o número de telefone entrou incorretamente na lista de pedidos de grampo para a investigação do assassinato do juiz Alexandre Martins, e que ele mesmo já acionou a operadora responsável pelo erro na Justiça.

Segundo Rondney, esse inquérito inclusive ficou sob responsabilidade do juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos, genro de Paulo Wanderley.

No Tribunal de Justiça de Goiás, o atual secretário move três ações por difamação. Elas têm como alvo políticos e jornalistas.

Principais competências do conselho de administração do COB

  • Orientar a administração do comitê
  • Apresentar o orçamento, as demonstrações financeiras e o relatório anual de atividades à Assembleia
  • Elaborar e aprovar códigos e regulamentos e propor reformas do Estatuto
  • Elaborar o Plano Estratégico
  • Conceder vinculação e reconhecimento A entidades de administração do esporte, bem como propor filiação de entidades à Assembleia do COB
  • Autorizar a assinatura de contratos que ultrapassem o valor de R$ 1 milhão
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