Tite tem chance rara e desafios novos no caminho até a Copa do Qatar

Técnico defende que continuidade do trabalho deixará a equipe mais preparada para 2022

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São Paulo

Após quase um ano sem entrar em campo, a seleção brasileira voltará a disputar uma partida na sexta-feira (9). A equipe estreia nas eliminatórias contra a Bolívia, às 21h30, na Neo Química Arena, em São Paulo, com transmissão da Globo e do SporTV.

Serão 325 dias desde o amistoso com a Coreia do Sul, realizado nos Emirados Árabes Unidos em 19 de novembro de 2019. Com gols de Lucas Paquetá, Philippe Coutinho e Danilo, o Brasil venceu os sul-coreanos por 3 a 0 e encerrou uma sequência de cinco jogos sem vitórias.

Seleção de Tite volta a campo depois de quase um ano inativa por conta da pandemia
Seleção de Tite volta a campo depois de quase um ano inativa por conta da pandemia - Giuseppe Cacace - 18.nov.2019/AFP

Apesar da interrupção do trabalho causada pela pandemia, que também forçou a determinação da Conmebol de que as partidas não terão presença de público, Tite, 59, tem o que comemorar.

O jogo com a Bolívia permitirá ao técnico iniciar o ciclo das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, no Qatar, algo que ele não pôde fazer quando assumiu o comando, em 2016, com o torneio já em andamento.

Tite defende que o tempo para azeitar a equipe e observar como novos jogadores se comportam na seleção fará com que o Brasil chegue mais preparado no próximo Mundial do que chegou para o torneio na Rússia, há dois anos.

Para ilustrar a sua tese, ele utiliza frequentemente o exemplo do colega Didier Deschamps, técnico da França, eliminado em 2014 e campeão do mundo em 2018.

"Em 2014, seu time foi eliminado nas quartas, após um grande jogo com a Alemanha. Em 2016, perdeu a Eurocopa em casa para Portugal. Ele manteve a linha de conduta, trocou algumas coisas e dois anos depois, foi campeão do mundo. É a minha ideia: respeitar etapas para a construção de um time e incorporar novos jogadores", disse Tite à revista France Football, em março deste ano.

Antes de Deschamps levar a França ao bicampeonato mundial, o alemão Joachim Löw também havia contado com a confiança da federação do país para desenvolver um trabalho de longo prazo.

Assistente técnico de Jürgen Klinsmann em 2006, Löw comandou a seleção na África do Sul, em 2010, e caiu na semifinal para a Espanha, que seria a campeã. Na edição seguinte da Copa do Mundo, disputada no Brasil, o alemão comandou a equipe no título conquistado sobre a Argentina, no Maracanã.

É improvável pensar que a CBF cogite interromper o trabalho do gaúcho até o Qatar. Se havia pressão pela queda diante da Bélgica, na Copa do Mundo, Tite ganhou tempo e tranquilidade com o título da Copa América no ano passado, disputada em casa.

Em 2020, a equipe disputaria uma nova edição da Copa América, adiada para 2021 em razão da pandemia.

O tempo de inatividade, por mais que Tite goste do trabalho de campo, deu a ele a possibilidade de rever jogos e métodos de treino da seleção brasileira, além de observar as atuações dos jogadores do país na retomada do futebol nacional e na Europa.

Apesar da continuidade de sua filosofia, o treinador tembém começa a pensar em alternativas para determinadas posições, que deverão passar ou já estão passando por reformulação.

Daniel Alves, 37, tem idade avançada e não joga como lateral direito no São Paulo. Para o setor, Tite convocou Danilo, 29, da Juventus (ITA), e Gabriel Menino, 20, do Palmeiras, que também não atua como lateral frequentemente, mas já desempenhou a função e tem característica de meio-campista, para construir o jogo por dentro, como Daniel Alves atuou na Copa América de 2019.

Danilo, inclusive, precisou enfrentar um imbróglio com a Juventus para se apresentar à seleção. No último fim de semana, dois funcionários do clube italiano apresentaram testes positivos para Covid-19 e a diretoria determinou que todos os jogadores ficassem isolados, o que poderia afetar a viagem do lateral.

O atleta, porém, conseguiu a liberação com a equipe, se apresentou na Granja Comary e deve iniciar o duelo com a Bolívia.

Titular no Mundial da Rússia, Marcelo, 32, não é o dono indiscutível da lateral esquerda do Real Madrid (ESP). Renan Lodi, 22, do Atlético de Madrid (ESP), tornou-se a primeira escolha de Tite para este reinício de ciclo, com Alex Telles, 27, recém contratado pelo Manchester United (ING), brigando pela posição.

Outro titular que também não tem a garantia de permanência até o Qatar é Thiago Silva, 36, que se transferiu do Paris Saint-Germain (FRA) para o Chelsea (ING). A certeza na zaga é Marquinhos, 26, ex-companheiro de Thiago Silva no PSG.

Além da busca por novas peças, Tite tem uma outra preocupação para essa fase do trabalho: tornar a seleção brasileira mais agressiva no ataque, especialmente contra defesas fechadas.

A referência para o técnico é o amistoso com a Inglaterra, disputado em 2017, que terminou sem gols no estádio de Wembley, em Londres. Na ocasião, os ingleses posicionaram uma primeira linha de cinco defensores e uma segunda com três meio-campistas.

A ideia, segundo Tite, é ter pelo menos cinco jogadores entre essas linhas, com dois atacantes bem abertos, para espaçar as defesas que se fecham com muitos homens e assim criar os espaços para que seus atletas de frente decidam as jogadas.

Com a confirmação da titularidade de Weverton no gol e a dúvida sobre as condições de jogo de Neymar, poupado do treino desta quinta-feira (8), em São Paulo, o treinador definiu a equipe para a estreia contra a Bolívia: Weverton, Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Renan Lodi; Casemiro, Douglas Luiz e Philippe Coutinho; Everton, Roberto Firmino e Neymar (Éverton Ribeiro).

Planos e desafios para chegar no próximo Mundial e se tornar o primeiro treinador desde Zagallo a disputar duas Copas consecutivas sem interrupção no ciclo (1970 e 1974). Telê Santana foi o técnico do Brasil nos Mundiais de 1982 e 1986, mas chegou a deixar o cargo entre um torneio e outro.

Oportunidade rara que a seleção brasileira dá a Tite para que ele confirme aquilo que prega: tempo de trabalho para alcançar os resultados, com o olhar em dezembro de 2022, no Qatar.

Como funciona a disputa das Eliminatórias sul-americanas

Mantém o formato das edições anteriores. Todas as dez seleções se enfrentam em duelos de ida e volta, totalizando 18 partidas por equipe. Os quatro primeiros colocados garantem vaga direta na Copa do Mundo. A seleção que terminar na quinta posição disputará uma repescagem, com rival a ser definido.

Quem transmite

A Globo adquiriu os direitos de transmissão dos nove jogos que a seleção brasileira disputará em casa e também comprou os direitos das partidas da Argentina como mandante, incluindo o Argentina x Brasil.

O grupo ainda negocia para transmitir Peru x Brasil, pela segunda rodada, na terça (13). As outras partidas da seleção brasileira como visitante não têm transmissão definida por enquanto, já que cada federação nacional negocia seu pacote de jogos como mandante.

Jogos do Brasil

1ª rodada (9/10)
21h30 - Brasil x Bolívia, Neo Química Arena

2ª rodada (13/10)
21h - Peru x Brasil, Estádio Nacional de Lima

3ª rodada (13/11)*
Brasil x Venezuela, Morumbi

*Dia e horário ainda não estão confirmados

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