Descrição de chapéu
Maradona (1960-2020)

Com Maradona como deus e diabo, Italiano era o futebol do mundo na TV

Uma geração teve a chance de ver Maradona em plena forma quase toda semana

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São Paulo

Bem antes da TV a cabo com canais 100% dedicados a esportes e dezenas de jogos internacionais por semana, havia o Campeonato Italiano dos anos 1980/90 na TV aberta.

Teve até uma temporada na Globo, ainda com Júnior (Torino) e Zico (Udinese), mas minha lembrança remonta à Band, com jogos na hora do almoço de domingo e comentários e receitas de Silvio Lancelotti, que adorava falar de comida na transmissão.

E foi ali que Maradona foi herói para alguns, vilão para outros e começou a se tornar um deus entre as quatro linhas —mesmo que a gente discutisse se ele era melhor ou não que Zico; Pelé nem entrava na conversa.

Na segunda metade dos anos 1980, ver o Italiano na TV era como ter hoje a Premier League com Real Madrid e Barcelona de brinde. Todos os craques do mundo jogavam lá, mas cada time só poderia ter três estrangeiros (os não italianos).

Assim, a Inter de Milão era dos alemães Matthäus, Klinsmann e Brehme; o Milan, meu preferido, tinha o trio holandês com o craque cabeludo Gullit, Rijkaard e Van Basten. E o Napoli era o time dos sul-americanos Careca, Alemão e Maradona.

Deveria torcer para o Napoli, mas a Globo já tinha me ensinado em transmissões da seleção (na época eu sofria pela “amarelinha”) a odiar os argentinos, principalmente Maradona (ele é perigoso). Com todos aqueles bordões —“ganhar é bom, mas da Argentina é melhor”, “com eles sempre é complicado”, “são catimbeiros”— era condicionado a ver Maradona e reclamar.

E as Copas de 1986, com Maradona fazendo chover, e de 1990, com Maradona eliminando o Brasil e dando água batizada para Branco, ou não, a bronca só aumentava.

Assim, torcia pelo Milan. E os duelos Milan x Napoli eram os melhores, era 4 a 1 para um lado, 3 a 0 para o outro. Porém, não importava o vencedor do confronto, ou do campeonato, a história mais legal da temporada sempre era a do Napoli de Maradona.

Mas quando eliminou a Itália na Copa de 1990, Maradona passou a ser persona non grata para muitos. Reza a lenda que deixou de ser protegido pela federação e, em pouco tempo, foi flagrado no antidoping por uso de cocaína. Logo deixou o Napoli, e o Campeonato Italiano ficou um pouco triste, como um bom tango.

Hoje parece natural, e uma sorte, acompanhar Messi ou Cristiano Ronaldo quase toda semana. Mas uma geração anterior teve a chance de ver Maradona em plena forma quase toda semana na TV aberta, com macarronada. Ele pode não ser melhor que Pelé, ou mesmo Messi, mas que foi deus, foi. Ainda que alguns o achassem o diabo.

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