Mari volta ao vôlei como 'líder silenciosa' e defende protestos de atletas

Campeã olímpica em 2008 jogará pelo Fluminense na Superliga após passagem pela praia

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São Paulo

Campeã olímpica dos Jogos de Pequim-2008, a paulistana Marianne Steinbrecher, 37, está de volta ao vôlei de quadra e à Superliga brasileira três anos após sua última participação no torneio.

A atleta foi anunciada pelo Fluminense sob incertezas quanto ao seu desempenho físico. Por isso ainda não há uma data de estreia nem definição sobre a sua posição em quadra —ponteira ou oposta. “Mari é versátil e atua bem nas duas posições”, diz o técnico do time tricolor, Hylmer Dias.

Com a experiência e a disposição de defender suas convicções, ela chama para si a responsabilidade de ser uma extensão da comissão técnica.

“Sou uma líder silenciosa, não fico falando e incomodando em quadra. Uma pessoa muito mais sensitiva com tudo o que está acontecendo ao redor e quero ajudá-las [companheiras] em situações que acontecem, principalmente com as mulheres”, afirma Mari à Folha.

Apesar de se classificar como silenciosa, ao longo da carreira a atleta já mostrou que não é de segurar as palavras. Foi assim após ser preterida pelo técnico José Roberto Guimarães na seleção brasileira nos Jogos de Londres-2012 e do Rio de Janeiro-2016.

Antes disso, ela foi campeã olímpica com o treinador em Pequim-2008, após uma dolorosa queda na semifinal de Atenas-2004. Na ocasião, a equipe brasileira vencia a Rússia por 2 sets a 1 e estava a um ponto (24 a 19) de brigar pela primeira medalha de ouro. Mari, com 21 anos recém-completados, desperdiçou dois match points na quarta parcial e no tiebreak mandou a última bola para fora.

Ela foi cortada pelo treinador por critérios técnicos em 2012 e reclamou que, com boas atuações, poderia ter sido observada para 2016. Em entrevista à revista IstoÉ após os Jogos de Londres, disse que foi injustiçada: "Não tenho mais relacionamento com ele e não faço a menor questão de ter".

Com a opinião de que os atletas precisam ter voz ativa, Mari considera injusto o tratamento que a jogadora de vôlei de praia Carol Solberg recebeu após gritar "fora, Bolsonaro" durante uma etapa do Circuito Brasileiro, em setembro.

A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) repudiou o protesto por meio de nota. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do vôlei multou Carol em R$ 1.000, convertidos em advertência, por entender que ela infringiu o regulamento da competição. A defesa da jogadora recorre da decisão.

“O atleta tem que se manifestar, sim, e independentemente da sua opinião, porque somos livres. Ela [Carol] foi completamente cobrada por isso. Falam que o nosso país é democrático e que temos direito à liberdade de expressão, mas por causa da profissão [de atleta] não pode falar nada”, diz.

Mari, campeã da Superliga quatro vezes (tri com o Osasco em 2003, 2004 e 2005 e uma pelo Rio de Janeiro, em 2011), não atua no torneio nacional desde a temporada 2016/2017. O seu último clube foi o Bauru.

O cenário atual do voleibol brasileiro é de crise econômica, com a saída de atletas renomadas e perda de patrocinadores por algumas das principais equipes.

O técnico do Fluminense, Hylmer Dias, conversa com Mari durante treino
O técnico do Fluminense, Hylmer Dias, conversa com Mari durante treino - Mailson Santana - 9.nov.2020/Fluminense FC

Mari é a jogadora mais velha do Fluminense e terá um elenco mesclado entre jovens como a líbero Lelê, 17, e outras mais experientes, como a central argentina Juli Lazcano, 31, e a ponta Dayse, 36.

Longe das quadras desde 2017, ela conta que seguiu a rotina de treinos físicos e técnicos e encarou o desafio de formar dupla com Paula Pequeno, também campeã olímpica em 2008, no vôlei de praia.

A parceria foi desfeita em agosto deste ano, dez meses depois e com apenas dois jogos oficiais, em meio à pandemia de Covid-19. “Essa lance da pandemia afetou todo o progresso do vôlei de praia, eu e a Paula não conseguíamos nem marcar reunião com patrocinador”, lamenta.

“Segui batendo bola, treinando no Calçadão [espaço no Butantã com quadras de areia] em São Paulo, malhando, mantendo uma rotina de atleta mesmo. Pensei que estaria me desperdiçando e poderia contribuir com o que passei. Sou uma jogadora de 37 anos sem nenhuma dor ou lesão.”

A jogadora conta que as mensagens de fãs pelas redes sociais, pedindo o seu retorno, também a motivaram. Acredita ainda que a curta temporada no vôlei de praia contribuiu para aprimorar a parte física e a técnica de controle de bola.

Além do Fluminense, o Curitiba também havia feito um convite para Mari. Em sua chegada, a paulistana disse ao site do clube carioca que havia namorado o time outras vezes e gosta do técnico Hylmer Dias. “É um cara da escola do Bernardinho e do Rio de Janeiro."

Na estreia do Fluminense na Superliga, derrota por 3 sets a 0 para o São Paulo/Barueri, comandado por José Roberto Guimarães, Mari ficou de fora. O próximo jogo do time tricolor será na sexta (13), às 21h30, contra o Osasco. O SporTV transmite.

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