Descrição de chapéu Velocidade

O que salvou a vida de Grosjean, e o que a F1 pode aprender com o acidente

Francês escapou com poucos ferimentos após bater forte, seu carro explodir e partir ao meio

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Julianne Cerasoli
São Paulo | UOL

"A célula de sobrevivência, o halo, os macacões à prova de fogo, os cintos de segurança, o sistema HANS (que ajuda a estabilizar a cabeça do piloto), o fato de o médico da FIA estar lá numa questão de segundos e indo impetuosamente ajudá-lo a sair do carro? Claro que você sempre vai aprender com acidentes, mas bater em uma barreira a 222km/h e sair andando é o melhor resultado de hoje."

O resumo de Christian Horner, chefe da Red Bull, mostra bem como toda a evolução da segurança da F1 ao longo dos anos fez com que Romain Grosjean escapasse de um acidente impressionante, em que seu cockpit rasgou o guard rail e pegou fogo como há décadas não se via na categoria, apenas com algumas queimaduras. A equipe Haas confirmou na manhã desta segunda-feira que ele será liberado do hospital no Bahrein já na terça.

Como acontece com todos os acidentes em todas as categorias chanceladas pela Federação Internacional de Automobilismo, os detalhes do que aconteceu na primeira volta do GP do Bahrein serão estudados com cuidado, mas as duas grandes questões levantadas após a batida foram por que o carro pegou fogo, e como ele abriu um buraco no guard rail.

Como explicou Sebastian Vettel, esses dois problemas podem estar relacionados.

"Acho que a grande questão é que o guard rail se rompeu completamente. Não vejo como um guard rail pode falhar de forma a permitir que o cockpit passe por ele e fique preso, arrancando a parte de trás do carro da parte da frente. Isso deve ter exposto o tanque de combustível, o que causou o incêndio. É isso que não pode acontecer sob nenhuma circunstância", disse o tetracampeão, que divide com Grosjean a presidência da associação de pilotos, que se reúne toda sexta-feira de GP para discutir, entre outros assuntos, questões voltadas à segurança.

Carro de Grosjean explode e pega fogo após batida forte no guard rail
Carro de Grosjean explode e pega fogo após batida forte no guard rail - Bryn Lennon - 29.nov.20/AFP

O chefe da Mercedes, Toto Wolff, concordou que há lições a serem tiradas do acidente, embora acredite que não seja algo que vá se repetir tão cedo. "Acho que foi um acidente estranho. O ângulo como ele bateu, acho que o carro pegou um pouco de lado, e foi preciso, como uma faca, partindo a barreira. Não achava que essas barreiras modernas poderiam se partir dessa forma, então precisamos analisar como isso aconteceu e como nós podemos otimizar as barreiras no futuro", disse Wolff.

"O último acidente com fogo aconteceu em Imola há mais de 30 anos. A célula de combustível tem que se manter intacta. A traseira deveria se quebrar junto com o motor. Há muitas coisas para aprender e muita segurança para melhorar."

O tanque de combustível fica acoplado na parte traseira da célula de sobrevivência, que é a parte que rasgou o guardrail. Ele é feito de kevlar, que é um dos materiais sintéticos mais fortes que existem.

Outros pontos também devem ser avaliados, como o fato de Grosjean ter perdido sua sapatilha, que é parte da proteção anti-fogo, ao sair do carro, e a maneira como sua viseira derreteu, embora uma análise feita no capacete tenha mostrado que não havia entrado fumaça dentro dele.

Mas e o que funcionou para salvar a vida de Grosjean?

É justo dizer que foi uma combinação de medidas que vêm sendo tomadas há décadas que ajudaram a salvar a vida de Grosjean, como listou Horner.

Halo

A proteção de titânio, que passou a ser usada em 2018, foi muito criticada por vários pilotos e chefes de equipe, inclusive o próprio Grosjean. E quem dizia que o "risco é inerente ao esporte" cada vez mais reconhece que não é preciso perder vidas para provar sua bravura nas pistas.

O acidente do francês claramente teria consequências muito graves sem ele, já que o capacete de Grosjean muito provavelmente teria batido diretamente contra o guard rail.

Também foi impressionante como a estrutura aguentou praticamente intacta o que talvez tenha sido seu maior teste até hoje, e Grosjean tenha conseguido sair do carro mesmo num ângulo ruim, já que uma das grandes críticas ao halo era o temor de que ele dificultaria a extração do piloto em caso de incêndio.

"Acho que lembramos como a introdução do halo foi controversa, e temos de dar o crédito ao [presidente da FIA] Jean Todt porque ele insistiu com essa ideia. E acho que poderíamos estar passando por uma situação diferente não fosse pelo halo", lembrou o diretor técnico da F1, Ross Brawn.

Cockpit do carro de Romain Grosjean após acidente no GP do Bahrein; ele escapou com ferimentos leves
Cockpit do carro de Romain Grosjean após acidente no GP do Bahrein; ele escapou com ferimentos leves - Tolga Bozoglu - 29.nov.20/AFP

Célula de sobreviência

Acoplada ao halo, a célula de sobrevivência existe há décadas, mas sua estrutura vem sendo reforçada ao longo do tempo e hoje é feita de uma camada bastante grossa de fibra de carbono e outra de kevlar. Embora o fato de o guard rail ter cedido estar longe do ideal, pelo menos a célula aguentou o forte impacto, evitando que Grosjean sofresse lesões mais sérias.

Roupa resistente ao fogo

Os pilotos usam macacões por cima de uma camiseta de manga comprida e uma calça, todas feitas de Nomex, um tecido sintético feito para aguentar temperaturas de até 800ºC por 10 segundos sem pegarem fogo. Em seu interior, a temperatura não pode passar de 41ºC quando expostos por 20 segundos ao fogo.

Tudo isso é homologado pela FIA e, neste ano, alguns pilotos até reclamaram porque os macacões ficaram um pouco mais quentes devido a uma mudança de especificação que praticamente dobrou o tempo de proteção. As luvas e sapatilhas são feitas de um tecido um pouco mais leve para não prejudicar a sensibilidade no volante e nos pedais, não são resistentes ao fogo por tanto tempo, e o fato de as queimaduras de Grosjean serem mais graves nas mãos pode mudar isso.

Resgate rápido

O carro médico chegou ao local do acidente apenas segundos depois devido a algo que o ex-médico da F1, Sid Watkins, personagem fundamental no aumento da segurança entre os anos 1970 e 1990, brigou para implementar. O carro médico sempre faz a primeira volta inteira atrás dos carros, justamente porque a chance de acidentes é maior e isso dá possibilidade de chegar quase instantaneamente.

O médico Ian Roberts reconheceu que ficou confuso quando viu a cena do acidente, pois "havia uma parte do carro apontada para o lado errado, e não dava para ver onde o piloto estava. O restante era uma bola de calor. Mas o fiscal chegou com um extintor e conseguiu abrir um espaço nas chamas onde Romain estava saindo." E foi aí que o médico o ajudou a pular o guard rail e escapar das chamas.

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