Presidentes deixam Corinthians, São Paulo e Santos ainda mais endividados

Gestões Sanchez, Leco e Peres, que acabam em 2020, ampliam valor devido por seus clubes

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São Paulo

Sem grandes conquistas dentro de campo nos últimos anos, Andrés Sanchez, 56, Carlos Augusto de Barros e Silva, 82, e José Carlos Peres, 72, deixarão Corinthians, São Paulo e Santos, respectivamente, com uma escalada de endividamento.

Os três presidentes também terminarão seus mandatos, ao fim de 2020, desgastados com as torcidas e na política interna dos clubes.

Sanchez tenta impulsionar a candidatura do diretor de futebol do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, na eleição presidencial marcada para o próximo sábado (28).

Peres, que já estava afastado, sofreu impeachment neste domingo (22) e não disputará a reeleição em 12 de dezembro. Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, também não terá grande envolvimento no pleito tricolor, ainda sem data confirmada.

Corinthians e São Paulo, que no começo desta década rivalizaram pela liderança de maiores receitas do futebol brasileiro, caminharam cada vez mais para o vermelho durante as gestões de Sanchez e Leco.

Quando o corintiano retornou à presidência do clube alvinegro, em fevereiro de 2018, encontrou um passivo de R$ 468 milhões (em valores atualizados). Agora, poderá devolvê-lo com mais de R$ 1 bilhão em dívidas.

Em 2019, o clube registrou um endividamento líquido de R$ 784 milhões (atualizados), segundo levantamento da empresa de auditoria EY com base em demonstrações financeiras. Um acréscimo de 67% até então, mas que poderá ser ampliado em 2020.

Em julho deste ano, a diretoria publicou um balancete com os resultados do primeiro semestre. A dívida alvinegra era de R$ 902 milhões.

Esse desempenho dos seis primeiros meses reflete uma parte das consequências da pandemia da Covid-19. A partir da metade de março, quando os campeonatos foram paralisados, as equipes começaram a sofrer com perdas de arrecadação em bilheteria, programas de sócio-torcedor e vendas de produtos.

Houve também alteração no fluxo de pagamento dos contratos de TV, com a conclusão do Campeonato Brasileiro de 2020 prevista para fevereiro de 2021.

O endividamento de quase R$ 1 bilhão não reúne o valor de R$ 536 milhões, que a Caixa Econômica Federal cobra na Justiça referente ao financiamento para construção da Neo Química Arena.

O processo está suspenso —mas não extinto— enquanto as partes tentam negociar. Na avaliação de Sanchez, o valor em aberto é de, no máximo, R$ 470 milhões.

O time alvinegro tem dificuldades para honrar a folha salarial e sofreu nos últimos meses com penhoras e bloqueios por acúmulo de ações cíveis e trabalhistas.

Sanchez já admitiu que gastou mais do que deveria, mas também culpa seus antecessores por adiantamentos das cotas de TV.

“Meu legado está aí para ser analisado. Trouxemos os naming rights [prometidos por ele pela primeira vez em 2012 e anunciados em setembro de 2020], garantindo uma receita absolutamente nova, da ordem de R$ 300 milhões, a fim de facilitar a quitação da Neo Química Arena com a Caixa, cada vez mais próxima”, diz.

Em sua projeção, o funcionamento de serviços variados no estádio, como universidade, clínica, salão de beleza e academia, tornarão o local um gerador de receitas para os próximos anos. “O Corinthians será um polo especial de serviços na zona leste e faturará muito com isso.”

“Enfrentamos a pandemia com um déficit acumulado no ano de apenas R$ 6,2 milhões, devido aos problemas que nossos patrocinadores também encaram com a Covid-19”, afirma Sanchez. “Com um pouco mais de encaixe no futebol, estaríamos melhores, só isso.”

Leco, que assumiu o São Paulo após a renúncia de Carlos Miguel Aidar, deixará o Morumbi marcado por uma gestão que, de 2015 a 2019, acumulou um déficit de R$ 205 milhões, atrás somente de Cruzeiro (R$ 540 milhões) e Corinthians (R$ 297 milhões), conforme o relatório da EY.

Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, durante entrevista em 2018
Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, durante entrevista em 2018 - Rivaldo Gomes - 3.abr.18/Folhapress

Boa parte desse resultado operacional negativo se deve ao prejuízo de R$ 156 milhões somente no exercício de 2019.

Leco chegou a reduzir a dívida, que era de R$ 434 milhões em 2015, para R$ 285 milhões em 2018. A situação piorou no ano passado, principalmente pelos gastos com o futebol.

Com o time na disputa pelo troféu do Brasileiro e nas semis da Copa do Brasil, poderá ficar para seu sucessor (Julio Casares ou Roberto Natel) o momento de comemorar uma eventual taça nesses torneios —eles terminarão em fevereiro de 2021.

Somente com direitos econômicos, o São Paulo desembolsou R$ 10,6 milhões e R$ 12,6 milhões com os atualmente reservas Hernanes e Pablo. Também gastou R$ 26,9 milhões com o goleiro Tiago Volpi e R$ 15,9 milhões com Tchê Tchê.

Procurado pela reportagem para comentar o tema, Leco não quis conceder entrevista.

Um dos argumentos para explicar o prejuízo milionário é que o São Paulo fez acordos judiciais com 18 ex-jogadores, que ingressaram com ações trabalhistas de 2006 a 2015; com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET); e numa pendência referente à aquisição dos direitos econômicos de Ricardinho, em 2002.

No Santos, Peres se escorou no superávit registrado em 2019, de R$ 23 milhões. Esse lucro só foi possível com o registro contábil da venda do atacante Rodrygo para o Real Madrid (ESP) por R$ 172 milhões —o negócio havia sido fechado em 2018.

O presidente afastado do Santos, José Carlos Peres, no início de 2020
O presidente afastado do Santos, José Carlos Peres, no início de 2020 - Pedro Ernesto Guerra Azevedo - 20.jan.20/Santos FC

Em meio à pandemia, a diretoria atrasou salários e perdeu jogadores, como o goleiro Everson e o atacante Eduardo Sasha, que chegaram a levar o time à Justiça, para o Atlético-MG. O também atacante Yuri Alberto se transferiu para o Internacional.

Segundo o presidente Orlando Rollo, que assumiu o Santos no fim de setembro, após Peres ter sido afastado por gestão temerária, o Santos precisará de R$ 53 milhões até 31 de dezembro para honrar a folha salarial e pagar dívidas, que podem gerar novas sanções pela Fifa. A entidade já proibiu mais de uma vez a equipe de registrar novos jogadores.

“Eu fui e vou pedir ajuda para todo mundo. O Santos chegou no fundo do poço. Estamos de chapéu na mão”, afirmou Rollo à Folha no início de outubro. Peres responsabiliza administrações anteriores.

Para o advogado Raimundo da Costa Santos Neto, que integrou a Apfut (Autoridade Pública de Governança do Futebol), o endividamento entre um mandato e outro expõe a fragilidade da legislação e dos controles internos dos clubes na fiscalização.

A lei do Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol), que concedeu aos times o refinanciamento de suas dívidas com a União em até 240 meses, constituiu a Apfut para fiscalizar as gestões administrativas dos clubes. No entanto, apesar de boa parte descumprir as contrapartidas do Refis, o Cruzeiro foi o único grande excluído do programa pela Apfut até o momento.

“Considerando que os clubes são entidades que gozam de autonomia, a Apfut não tem atribuição legal para promover a punição de seus dirigentes, e a sua função se resume a propor a exclusão do clube do programa”, diz Santos Neto. “A lei poderia ter avançado e legitimado outros entes externos para participar desses processos de apuração de gestão fraudulenta ou irregular."

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