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Talentos do basquete nacional ainda estão sedentos por reconhecimento

Temporada do NBB começa com um G4 bem definido e muitos atletas atrás de consolidação

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Gustavinho Lima
São Paulo

O campeonato do Novo Basquete Brasil (NBB) não teve um campeão em 2019/2020. A temporada foi interrompida pela pandemia da Covid-19 e ressurge nesta terça (10) para o primeiro pulo-bola de 2020/21.

A NBA foi a grande salvação na sanidade do basqueteiro durante a pandemia do coronavírus. Jogos de altíssimo nível, protocolos de saúde seguidos à risca e engajamento social tornaram o torneio na "bolha" da Disney um case de sucesso absoluto e o caminho a seguir.

No Brasil, o basquete, que já foi o segundo esporte na preferência nacional, tenta aos poucos recuperar o espaço nas televisões.

A Liga Nacional de Basquete (LNB), que organiza o NBB, promete transmissão de grande parte dos jogos da temporada, em diversos canais e plataformas. A massificação do esporte pode ganhar na TV Cultura, caso ela seja confirmada como parceira de exibições da liga no lugar da Band, o seu parceiro ideal.

Nos anos 1980 e 1990, aos gritos de Luciano do Valle, ídolos foram criados se fazendo valer das campanhas vitoriosas de Oscar e Marcel no masculino e Hortência, Magic Paula e Janeth no feminino. Até hoje esses nome são as últimas referências da bola laranja.

Hoje, novos (e não tão novos assim) talentos já têm muitas vezes carreiras consagradas, contudo ainda estão sedentos por reconhecimento do torcedor e do telespectador. Em sua 13ª temporada, o NBB, apesar de estar em evolução constante, ainda não consolidou os jogadores na boca do povo.

O basquete nacional está cada vez mais dinâmico, jogado em ritmo acelerado como a NBA, com jogadores mais plásticos e com vasta experiência internacional, craques para todos os gostos. O público só precisa ter uma oportunidade de se identificar com essa nova geração do basquetebol brasileiro.

Nesta edição do NBB, 16 equipes do Sul ao Nordeste buscam o título, mas seria leviano dizer que todas tem a mesma condição de abocanhar o troféu.

Levando em conta a montagem do elenco, orçamento e histórico, enxergo um G4 bem definido: Flamengo, Minas, Bauru e São Paulo são os que podemos chamar de favoritos.

Dirigido pelo ótimo Gustavo de Conti, o time rubro-negro é o atual campeão e possui o para muitos melhor jogador da liga, o ala Marquinhos. Soma dois jogadores excelentes por posição, além do maior reboteiro da história do campeonato, Olivinha, o “deus da raça".

Antes da paralisação, era o líder. Manteve o mesmo plantel e acrescentou dois atletas de muito impacto: Rafael Hettsheimeir, um pivô dominante tanto na zona pintada (garrafão) como na linha de três pontos, e o “monstrinho” Yago, armador jovem que já sendo convocado sistematicamente para seleção brasileira e que, pelo estilo de jogo abusado, frequentemente é comparado a Neymar.

Yago, reforço do Flamengo para a temporada 20/21 do NBB, em treino da equipe
Yago, reforço do Flamengo para a temporada 20/21 do NBB, em treino da equipe rubro-negra - Paula Reis - 21.set.20/Flamengo

De Conti é o único a vencer o NBB duas vezes seguidas por dois times diferentes (2017/18 pelo Paulistano, 2018/19 pelo Flamengo) e agora resta saber se o treinador conseguirá mais uma vez fazer todas essas estrelas entrarem em harmonia a longo prazo.

O Minas Tênis Clube perdeu Leandrinho Barbosa, que foi ser “mental coach” (técnico individual) do Golden State Warriors na NBA. Ótimo reconhecimento e prestígio para o brasileiro, que volta a trabalhar onde ganhou o anel de campeão da liga americana, mas péssimo para o time mineiro, que perde o cestinha da última edição do NBB.

A diretoria e o técnico Léo Costa, porém, fizeram boas escolhas e conseguiram montar um supertime.
Para muitos, o elenco dos sonhos de qualquer treinador. Tem profundidade em versatilidade, experiência, atleticismo e liderança.

Para a vaga de Barbosa, trouxe um dos americanos mais decisivos do campeonato, David Jackson, vindo de sólidas temporadas no Franca, e reforçou a “tábua” (jogo próximo à tabela) repatriando JP Batista, que estava no basquete francês, talvez o melhor pivô jogando de costas para a cesta hoje no basquete nacional.

O Bauru tem como comandante o assistente da seleção brasileira Léo Figueiró. O técnico fez ótima campanha com o Botafogo e abocanhou o troféu de campeão sul-americano. Em função da pandemia, infelizmente o time da estrela solitária não conseguiu seguir no campeonato.

Figueiró então partiu para o Bauru e encontrou a equipe do interior paulista em plena reformulação. Agiu rápido no mercado e montou um dos times mais completos da disputa.

Tem excelentes jogadores que podem atuar em mais de uma posição e talvez o maior competidor da história do NBB, Alex Garcia, que voltou a defender as cores do dragão prometendo voltar a ganhar títulos pela cidade. Bauru foi campeão em 2016/17 justamente tendo o Brabo como capitão e coração.

O São Paulo tem um dos rostos conhecidos da época de Luciano do Valle. Claudio Mortari, campeão mundial com o Sírio em 1979, continua esbanjando perspicácia e dirige um tricolor estrelado.

Tem o maior cestinha de todos tempos do NBB, Shamell, e a maior sensação do momento do basquete brasileiro, o armador Georginho de Paula, que, após passar uma temporada com o Houston Rockets e seu time na liga de desenvolvimento da NBA, voltou com uma forma física insuperável, quebrou recordes, anotou triplos duplos insanos e levou o prêmio de jogador mais valioso do último NBB.

O basquete paulista, principal pilar do esporte no país, fez um movimento consciente. Franca, Corinthians, Mogi das Cruzes, Paulistano e Pinheiros apostaram em elencos reduzidos, privilegiando jogadores mais jovens e estimulando a formação das categorias de base. Têm a boa e velha mescla de juventude e experiencia e certamente podem surpreender.

Principalmente o time da “capital do basquete”, Franca, habituado a decisões (bateu o São Paulo e pode vencer o tri no Paulista) e que tem dois dos melhores talentos do país. Lucas Dias, que esbanja frieza nos momentos quentes, e o armador Elinho, verdadeiro maestro e que há muito tempo merece uma vaga na seleção.

O Nordeste tem dois representantes muito intrigantes. O Unifacisa, de Campina Grande, que tem uma estrutura impecável e neste ano aposta em uma equipe veloz e com muito potencial de arremessos de longe. E mais um “time de camisa” de respeito, o Fortaleza, que se uniu ao Basquete Cearense e montou uma equipe para se ficar de olho.

A expectativa é a grande novidade do time da capital do Ceará, Lucas Bebê, que após ser draftado na NBA pelo Toronto Raptors, e sem conseguir ter uma sequencia no melhor basquete do mundo, voltou ao Brasil e está há dois anos sem jogar profissionalmente. Passou por momentos delicados e até por um período de depressão.

Bebê é um talento absurdo, tem 2,13 m de altura e uma agilidade incrível. Típico jogador que cai bem em qualquer quinteto.

O técnico da seleção brasileira, o croata Aleksandar Petrovic, convocou Lucas na última janela, o que gerou polemica entre jornalistas, técnicos e atletas.

Esse tipo de crítica já foi vista de maneira similar quando o treinador chamou Anderson Varejão, voltando do basquete americano e também sem time na época.

Varejão serviu a seleção de maneira imprescindível, foi um dos jogadores mais importantes na classificação para o Mundial, acabou contratado pelo Flamengo e se sagrou campeão do NBB.

Nesta temporada, o simples fato de a LNB ter conseguido um campeonato com 16 times já é uma grande vitória. O brilho das arquibancadas não será o mesmo sem os torcedores, mas que possamos seguir o exemplo de conduta dos jogadores da NBA em termos de competitividade mesmo com os ginásios vazios e no engajamento social.

Gustavinho Lima foi jogador profissional de basquete por 17 anos, de 2002 a 2019. No NBB, passou por clubes como Pinheiros, Mogi das Cruzes, Caxias do Sul, Basquete Cearense e Corinthians. Atualmente é supervisor do time sub 19 do Corinthians e apresentador do Diquinta Podcast

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