Após ser acusado de racismo por Gerson, do Flamengo, o jogador do Bahia Juan Ramírez será investigado pela polícia do Rio de Janeiro.
A delegada Marcia Noeli, da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, afirmou nesta segunda-feira (21) que Ramírez, o técnico Mano Menezes e o árbitro Flávio Rodrigues de Souza foram intimados a depor. O meia flamenguista será ouvido na manhã desta terça-feira (22), segundo ela.
"Instaurei inquérito e combinei com o departamento jurídico do Flamengo para que o Gerson viesse aqui para que pudesse relatar tudo o que aconteceu. Pedi para CBF os documentos referentes ao jogo [súmula]. Injúria racial é crime e tem que ser punido", afirmou a delegada.
Segundo o meio-campista do time carioca, em uma discussão durante a partida entre as duas equipes, realizada domingo (20) pelo Campeonato Brasileiro, o colombiano teria digo “cala boca, negro” para ele.
Na madrugada desta segunda, o Bahia anunciou que o atleta negou a acusação, mas que decidiu afastá-lo até a apuração do episódio, por entender ser imprescindível que “a voz da vítima seja preponderante em casos desta natureza”.
A nota também diz que o presidente do clube baiano, Guilherme Bellintani, ligou para Gerson para prestar solidariedade.
Procurado, o técnico Mano Menezes, que deixou com o comando do Bahia após a derrota, afirmou que ainda não foi notificado, mas que prestará depoimento se for necessário.
O treinador também acrescentou que a decisão de deixar o Bahia foi dele. Disse, ainda, que aguarda o depoimento do Gerson para se se pronunciar novamente.
Na noite de segunda, o clube postou um vídeo, a pedido do jogador, contando sua versão dos fatos. Ele nega que tenha mandando Gerson calar a boca e afirma que no momento, após o segundo gol, tentando fazer a partida recomeçar, pediu em espanhol "volte rápido", "jogue sério".
Nesse momento, segundo a versão contada no vídeo, o colombiano diz que o meia do Flamengo disse algo para ele em português, que ele não entendeu, e seguiu correndo, desviando da confusão.
Ramírez acrescenta ainda que em certo momento da partida foi chamado de "gringo de merda" por Bruno Henrique. "Desculpa a quem escutou, se o Gerson entendeu mal o que falei. Em nenhum momento falei mal dele e não fui racista", completa.
O episódio foi exposto pelo flamenguista ainda no gramado do Maracanã, na entrevista após a vitória do Flamengo, de virada, por 4 a 3.
“Tenho muitos jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca sofri esse preconceito [...] O Ramírez, quando tomamos acho que o segundo gol, não me lembro, o Bruno [Henrique] fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou. Eu fui falar com ele, ele falou bem assim para mim: ‘Cala a boca, negro’. Eu estou vindo aqui, nunca falei nada disso, porque nunca sofri, mas isso aí eu não aceito”, afirmou após o fim do jogo ao canal Premiere.
Também na noite de domingo, o vice-presidente geral do time rubro-negro, Rodrigo Dunshee de Abranches, afirmou que o clube acionaria Ramírez no STJD.
A súmula da partida relata o desentendimento entre os dois atletas e a acusação de Gerson, mas também que “este suposto ato não foi percebido por nenhum membro da equipe de arbitragem no campo”. O tribunal desportivo deve usar as imagens da transmissão para analisar o caso.
Mano Menezes bateu boca com Gerson no momento da confusão entre os jogadores.
Após a partida, o canal SporTV recuperou imagens da discussão, nas quais é possível ouvir o diálogo entre o técnico e o atleta flamenguista.
“Ele me chamou de negro”, grita Gerson. Mano responde: “Agora virou malandragem?”. “Malandragem? Pergunta pra ele”, retruca o meio-campista. A confusão continua. Pouco depois, é possível ver o treinador falando com o quarto árbitro.
De acordo com Abranches, Mano "apoiou a ofensa racial" e, por isso, também será denunciado ao STJD. O dirigente diz que o clube apoiará o jogador na "esfera criminal".
Em comunicado em um de seus perfis nas redes sociais, a CBF disse que solicitou para a Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva a "abertura imediata de uma investigação sobre a denúncia de racismo feita pelo jogador".
A reportagem tentou entrar em contato com o Bahia, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
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