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Brasileira Bruna Tomaselli correrá em categoria feminina e sonha com F1

Após adiamento, pilota catarinense de 23 anos representará o país na W-Series 2021

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São Paulo

Principal categoria do automobilismo mundial, a F1 teve cinco mulheres competindo ao longo de sua história de sete décadas. Nenhuma delas era brasileira.

Não há um caminho direto para conquistar vaga no almejado grid. Mas a partir do próximo ano, a catarinense Bruna Tomaselli, 23, estará um pouco mais perto do seu grande sonho. Ela representará o país na W-Series, primeira categoria mundial de monopostos exclusiva para mulheres.

A criação do campeonato, em 2019, faz parte das ações que a Federação Internacional de Automobilismo tem adotado para aumentar a participação de mulheres nas pistas.

Em 2021, as oito etapas da segunda edição do campeonato feminino serão disputadas junto ao calendário da F1, nos GPs da França, Áustria, Reino Unido, Hungria, Bélgica, Holanda, EUA e México, a exemplo do que já ocorre com a F2 e a F3.

"A W-Series já era bem vista antes, tinha uma grande visibilidade, e agora correndo com a F1 vai ser maior ainda", diz Bruna em entrevista à Folha. "Vamos poder mostrar o nosso trabalho para o circo da F1, que é onde todo mundo quer estar."

A parceria entre as categorias foi celebrada pelo heptacampeão Lewis Hamilton. "Quando falamos em diversidade, normalmente pensam que falamos em ter mais pessoas de cor. Mas é preciso ter mais mulheres envolvidas também", disse. "É um esporte dominado por homens, e isso precisa mudar."

Faz tempo que as pilotas anseiam por essa mudança. Bruna nem era nascida quando uma mulher chegou à categoria pela última vez, em 1992. Naquele ano, Giovanna Amati tentou se classificar para três corridas, numa época em que nem todos os pilotos que disputavam o treino classificatório participavam dos GPs.

A italiana não chegou a avançar para nenhuma prova antes de ser substituída na equipe Brabham pelo britânico Damon Hill. Somente duas mulheres, também italianas, estiveram no grid de largada: Maria Teressa de Filippis e Lella Lombardi, esta última a única que somou pontos na categoria.

"Mesmo essas poucas mulheres que chegaram à F1 ajudaram a gente a se inspirar para um dia chegar lá", afirma Bruna. "E como faz tanto tempo que isso aconteceu também nos motiva."

Essa motivação fez com que ela não se abalasse ao longo de 2020, quando a expectativa de estrear na W-Series foi frustrada pela pandemia do novo coronavírus. A segunda temporada acabou adiada para 2021.

"Eu fiquei muito assustada no início [da pandemia], principalmente porque não teria o campeonato", conta a pilota. "Mas logo retomei os meus treinos e consegui manter minhas atividades físicas. Como eu moro numa cidade pequena, as academias praticamente não fecharam, mas claro, tiveram todos os cuidados".

Natural de Caibi, munícipio no este catarinense a cerca de 650 km de Florianópolis, Bruna dividiu seu tempo entre os treinos no simulador e a disputa do Império Endurance Brasil, campeonato de corridas de longa duração, no qual ela se tornou a primeira mulher a vencer uma etapa, a quinta e penúltima prova do ano, disputada em Curitiba.

Durante o primeiro semestre, a brasileira fez alguns treinos com um carro de F3, mas a maior parte do tempo ela passou praticando no simulador —primeiro, em um modelo que comprou, depois, em um equipamento enviado pela organização da W-Series.

"Como para treinar com os carros da categoria é só quando tem treinos coletivos, com todo mundo, então eu tenho que treinar muito no simulador para conhecer bem as pistas. Eu não conheço nenhum dos circuitos em que vou correr, então vai ser um desafio a mais."

Foi de forma virtual que ela teve o primeiro contato com as rivais que enfrentará na W-Series. Assim como a F1, a categoria exclusiva para mulheres promoveu uma competição online para as pilotas. Foram 10 etapas em alguns dos circuitos que farão parte do calendário de 2021.

Com 20 competidoras no grid, Bruna terminou o campeonato na 17ª colocação, um desempenho que foi prejudicado, segundo ela, por um atraso na entrega de seu equipamento.

"A categoria mandou para todas um simulador igual. Mas o meu chegou um pouco depois do início do campeonato. As primeiras corridas eu fiz com um outro que eu tenho", lamenta. "Mas foi divertido e nos ajudou a manter contato."

Quando a competição começar para valer, em 26 de junho, na França, problemas como esse não devem afetar ninguém. A promessa da W-Series é organizar um campeonato com condições iguais para todas, principalmente em relação aos carros. Eles serão mecanicamente idênticos e passarão por uma vistoria antes das corridas para remover qualquer vantagem tecnológica que uma equipe possa desenvolver.

Será uma condição inédita para Bruna Tomaselli, que ganhou seu primeiro kart aos sete anos de idade e teve a carreira incentivada pelo pai.

De 2017 a 2019, ela disputou a USF 2000, uma das categorias de acesso à Indy, nos Estados Unidos. Para se credenciar a disputar a W-Series, primeiro ela foi indicada pela ex-pilota brasileira Bia Figueiredo, depois precisou enviar seu histórico de competições e, por fim, passou por uma seletiva.

O grid de 2021 será formado por 12 remanescentes da primeira edição e oito novas pilotas selecionadas, incluindo Bruna.

Ao final da competição, as oito mais bem colocadas receberão pontos que ajudam a obter a superlicença, exigência para pilotar na F1. São necessários 40 pontos para chegar à principal categoria do automobilismo, e a campeã da W-Series somará 15.

Única sul-americana no grid, Bruna Tomaselli não quer pensar nisso agora. No momento, só pretende voltar a correr. "Estou muito ansiosa para que comece logo a temporada."

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